Locação de caminhões cresce no Brasil, mas enfrenta restrição de crédito para acelerar expansão

Se, por um lado, a restrição de crédito encarece e limita o crescimento do setor, por outro, o ambiente de incertezas econômicas favorece justamente a adoção da locação como estratégia, diz representante da Abla

Aline Feltrin

O mercado de locação de caminhões vive uma curva ascendente no Brasil, sustentada pela demanda de empresas que buscam reduzir custos operacionais, evitar a imobilização de capital e driblar as incertezas econômicas. No entanto, o avanço começa a encontrar um limite: a dificuldade crescente no acesso ao crédito, que se tornou hoje o principal obstáculo para a expansão do setor. Essa é a análise de Leonardo Soares, coordenador geral da Uniabla, braço de treinamento da Associação das Locadoras de Automóveis (Uniabla), durante o painel “Locação e novos modelos de negócios para frotas” do Frotas Conectadas 2025, evento que ocorre até esta quarta-feira (18), no São Paulo Expo, Rodrigues destacou que a conectividade, a digitalização e o uso de soluções embarcadas têm papel fundamental na redução de custos operacionais e no aumento da eficiência das frotas.

De acordo com ele, o número de locadoras de veículos no Brasil — incluindo caminhões — cresceu 20% entre 2023 e 2024, chegando a quase 24 mil empresas, em sua maioria micro e pequenas. No segmento de pesados, a locação deixou de ser exceção e passou a fazer parte da estratégia de transportadoras, operadores logísticos e indústrias que precisam de caminhões para suas operações, mas preferem não arcar com os custos e riscos da compra.

A locação de caminhões é uma tendência irreversível, mas hoje o nosso freio é o crédito”, afirma Leonardo Soares. Segundo ele, embora o setor tenha registrado um crescimento de 18% no faturamento no último ano, a restrição no financiamento começa a limitar a capacidade das locadoras de ampliar suas frotas.

O copo meio cheio — e meio vazio

Se, por um lado, a restrição de crédito encarece e limita o crescimento do setor, por outro, o ambiente de incertezas econômicas favorece justamente a adoção da locação como estratégia. “Sempre que há crise, o mercado de aluguel cresce, porque as empresas preferem não imobilizar capital na compra de ativos”, explica Soares. “Elas vendem a frota própria e passam a operar com veículos alugados, buscando mais flexibilidade e menor custo operacional.”

O lado negativo desse movimento é que o custo do dinheiro, pressionado pelos juros se reflete diretamente no preço dos contratos de locação. “O financiamento mais caro encarece a composição da frota, e esse custo chega até o cliente final, afetando a competitividade”, observa.

O movimento que impulsiona a locação no segmento de pesados tem como base uma mudança cultural nas empresas: reduzir a exposição financeira e concentrar recursos no negócio principal. “A empresa quer ter o caminhão na operação, mas não quer o caminhão no balanço”, resumiu Sônia Taufenbach, gerente nacional de vendas da locadora LM, também presente no painel.

A executiva explica que os benefícios da locação — como previsibilidade de custos, frota sempre renovada, pacotes de manutenção e gestão simplificada — são hoje amplamente reconhecidos pelo mercado.

Eletrificação traz nova camada de desafio

Outro motor de crescimento das locação no Brasil é a eletrificação da frota. O custo dos caminhões elétricos, ainda muito acima dos modelos convencionais, agrava o problema de financiamento. “O mercado já entende que o elétrico tem vantagens operacionais, como custo mais baixo de energia, menos manutenção e incentivos fiscais. Mas o problema é o custo inicial e a incerteza sobre o valor residual desses ativos”, explica Rodrigo Contin, sócio-diretor da Hightec Electric, locadora especializada em veículos elétricos.

Ele afirma que a locação surge como uma alternativa estratégica para empresas que querem começar a eletrificar suas operações, justamente por evitar o risco de depreciação acelerada desses ativos. “A tecnologia dos caminhões elétricos está evoluindo muito rápido, e isso gera dúvidas sobre quanto valerá esse veículo daqui a quatro ou cinco anos. Na prática, a locação transfere esse risco para a locadora”, diz..

Gargalo no financiamento pode travar o crescimento

Atualmente, as locadoras são responsáveis por 25% das compras de veículos no país, incluindo caminhões, segundo a Uniabla. A entidade aponta que o segmento de pesados, que até poucos anos era pouco explorado pelas locadoras, hoje responde por uma fatia cada vez mais relevante do mercado de aluguel.

Para Leonardo Soares, o risco é que a restrição de crédito comprometa o crescimento do setor em um momento em que a demanda está aquecida. “O modelo de locação resolve uma série de dores operacionais, permite às empresas se concentrarem no core business, ter previsibilidade de custos, acesso a tecnologia de ponta e até acelerar a transição para veículos mais sustentáveis. Mas, se não houver uma reorganização no acesso ao crédito, vamos crescer abaixo do potencial que o mercado tem”, alerta.

Ele defende que bancos, governo e montadoras olhem com mais atenção para o setor de locação de caminhões, criando linhas específicas de financiamento, com prazos e taxas compatíveis com o ciclo desse negócio. “Quando você financia um caminhão para locação, não está financiando consumo. Está financiando produtividade, geração de serviço e eficiência logística. É uma engrenagem da economia real que precisa ser apoiada”, conclui.

Já segue nosso canal oficial no WhatsApp? Clique aqui para receber em primeira mão as principais notícias do transporte de cargas e logística.

Veja também