Transporte Moderno – Como surgiu o projeto de desenvolver uma metodologia própria de calibração no Brasil?
Silvio Furtado – Começou como uma necessidade local. O Brasil tem uma variedade enorme de aplicações e condições de uso. Era inviável depender da engenharia da Alemanha para tudo. Investimos na capacitação do time brasileiro e desenvolvemos um processo completo, do zero, que hoje é reconhecido globalmente.
Transporte Moderno – O que significa calibrar uma transmissão automatizada?
Silvio Furtado – É ajustar o software da caixa de câmbio para que o caminhão se comporte da melhor forma possível em cada tipo de operação. Pode ser focado em economia, performance, conforto ou durabilidade. A calibração transforma uma mesma transmissão em soluções distintas para cada aplicação.
Transporte Moderno – Quais as vantagens de ter essa competência no Brasil?
Silvio Furtado – Conhecemos o território, as aplicações e o jeito do transportador brasileiro. Nossos engenheiros testam em campo, com caminhões rodando em canaviais, áreas de mineração, grandes centros urbanos. Isso nos permite entregar soluções mais assertivas, adaptadas à realidade do cliente.
Transporte Moderno – O Brasil virou referência também para outros países?
Silvio Furtado – Sim. Estamos exportando nossa metodologia para a Alemanha, China e Índia. Temos o único engenheiro da ZF no mundo com nível 4 em calibração, que lidera projetos locais e globais. Nosso time já executou calibrações para clientes na América do Sul, Ásia e Europa.
Transporte Moderno – Como a inteligência artificial entra nesse processo?
Silvio Furtado – Utilizamos inteligência artificial para analisar dados de operação e comportamento do veículo. Ela nos ajuda a prever o melhor momento de troca de marchas, o ponto ideal de torque, entre outros parâmetros. A inteligência artificial nos dá velocidade e precisão no desenvolvimento.
Transporte Moderno – Pode explicar como a inteligência artificial ajuda a reduzir custos ou melhorar a vida útil dos componentes?
Silvio Furtado – Claro. Ao calibrar a transmissão com dados reais e algoritmos avançados, conseguimos evitar trocas de marchas desnecessárias, o que reduz o desgaste e melhora a eficiência do combustível. Isso impacta diretamente na redução dos custos de manutenção e operação para o cliente.
Transporte Moderno – Como foi a experiência com os caminhões a gás?
Silvio Furtado – Totalmente nova. A lógica do motor a gás é diferente da do diesel. Tivemos que redesenhar a estratégia de troca de marchas. Mas conseguimos entregar uma performance que iguala ou até supera o diesel em algumas aplicações.
Transporte Moderno – Quais desafios técnicos o motor a gás apresentou na calibração?
Silvio Furtado – O motor a gás tem características distintas, como resposta de torque e faixa de operação diferentes. Precisamos ajustar a transmissão para otimizar o consumo e garantir que o desempenho seja fluido e estável, sem perder força em subidas ou em acelerações.
Transporte Moderno – A calibração da ZF vai além da transmissão?
Silvio Furtado – Sim. Trabalhamos com uma visão sistêmica. Consideramos motor, freios, suspensão, compressores. Tudo está interligado. Quanto mais integrados os sistemas, maior o ganho de eficiência e segurança.
Transporte Moderno – Como a calibração integrada melhora a segurança do veículo?
Silvio Furtado – Ao sincronizar a atuação da transmissão com o motor e os freios, evitamos situações como patinagem ou frenagens bruscas. Isso gera um comportamento mais previsível e estável, fundamental para a segurança do motorista e da carga.
Transporte Moderno – Quais são os próximos passos?
Silvio Furtado – Estamos desenvolvendo a próxima geração da TraXon e sua versão híbrida, além de tecnologias como frenagem autônoma e conectividade avançada. Também vamos continuar investindo em capital humano, porque o diferencial está nas pessoas.
Transporte Moderno – Pode detalhar o que a versão híbrida da TraXon oferece?
Silvio Furtado – A transmissão híbrida combinará a automação da caixa TraXon com sistemas elétricos, melhorando a eficiência energética, reduzindo emissões e proporcionando melhor resposta dinâmica em diferentes tipos de operação, especialmente no transporte urbano.
Transporte Moderno – Como o time de engenharia brasileiro está se preparando para esses novos desafios tecnológicos?
Silvio Furtado – Investimos muito em treinamento, parcerias com universidades e uso de ferramentas digitais avançadas, como simulações virtuais e análise de big data. Estamos formando engenheiros que entendem tanto de mecânica quanto de software e inteligência artificial.
Transporte Moderno – Qual o papel da engenharia brasileira nesse contexto?
Silvio Furtado – Tornou-se um ativo global. A diversidade do Brasil nos forçou a ser criativos, técnicos e ágeis. Isso nos preparou para atender mercados complexos e posicionou o Brasil como polo de excelência em calibração e desenvolvimento de sistemas embarcados.
Já segue nosso canal oficial no WhatsApp? Clique aqui para receber em primeira mão as principais notícias do transporte de cargas e logística.