Transporte Moderno – Quais setores foram os principais impulsionadores do crescimento de 3,6% na demanda por transporte em 2024, apesar da queda na safra de grãos?
Maurício Lima – O IBGE acaba de divulgar os dados consolidados de 2024 para a produção industrial brasileira, que registrou um crescimento de 3,1% em relação a 2023. Esse foi o desempenho médio nacional, mas alguns setores se destacaram, como eletroeletrônicos, automotivo e autopeças, máquinas e equipamentos elétricos e outros equipamentos de transporte, que tiveram alta superior a 10% no período.
Além do avanço da indústria, o comércio eletrônico também contribuiu para a maior demanda por transporte, com um crescimento de 5% no volume de pedidos realizados no Brasil. Paralelamente, as vendas no varejo r
Transporte Moderno – Como o aumento na demanda do agronegócio impactou o custo do transporte rodoviário de carga, que subiu 4,2% em 2023?
Mauricio Lima – O Brasil tem uma carência importante em termos de infraestrutura de transportes, e essa carência afeta diretamente os custos de transporte. Cargas como a agrícola, com grandes volumes de baixo valor agregado percorrendo longas distâncias, deveriam ser majoritariamente transportadas por ferrovias e hidrovias, que são modais de custo muito mais baixo do que o rodoviário. Quando acontecem supersafras como a de 2023, acaba que um volume grande precisa ser transportado por caminhão até os portos, encarecendo o custo. Além disso, por conta da dinâmica de mercado, o próprio aumento na demanda acaba elevando os preços do próprio transporte rodoviário.
Transporte Moderno – Quais fatores explicam o aumento de quase 7% nos gastos com transporte no Brasil, que devem ultrapassar R$ 940 bilhões em 2024?
Mauricio Lima – Os fatores estão relacionados principalmente à nossa carência de infraestrutura de transportes, que não afeta apenas os modais alternativos, como ferroviário, hidroviário e a cabotagem, mas também tem impacto no rodoviário. Apenas 13% das rodovias brasileiras são pavimentadas, sendo que mais da metade não está em bom estado de conservação. Em consequência, as empresas gastam mais com combustível, com gestão de risco, com veículos parados para manutenção, dentre outros problemas.
Transporte Moderno – O Brasil depende em grande parte do transporte rodoviário, com 62% de participação. Quais são as principais vantagens e desvantagens desse modelo?
Mauricio Lima – A principal vantagem do rodoviário é que, com baixo investimento e muito rapidamente, uma empresa é capaz de transportar a sua produção. Isso não acontece no ferroviário, por exemplo, que demanda bilhões de reais para a elaboração de um projeto, pedido de licenças, construção do trecho e investimento em frota, em um processo que pode levar vários anos até se tornar operacional. O mesmo acontece na cabotagem, com o custo de um navio de grande porte ficando na casa dos milhões de dólares.
A desvantagem desse modelo mais voltado para o rodoviário já foi comentada anteriormente, mas é, basicamente, o aumento no custo logístico das empresas e nas emissões de gases de efeito estufa. Além disso, como não há um aumento no investimento de vias, quanto mais investimentos em material rodante, mais o modal fica saturado, com impactos na sua produtividade, no custo e na segurança das estradas, afetando não apenas o transporte de carga como o de passageiros.
Transporte Moderno – Como o crescimento do PIB do Brasil, projetado acima de 3,5% para 2024, pode afetar os custos e a demanda por transporte no país?
Mauricio Lima – O crescimento do PIB acima de 3,5% normalmente tende a aumentar o custo logístico, dado que não tem uma contrapartida de aumento de oferta na mesma proporção e limites claros na infraestrutura de transportes do Brasil.
Transporte Moderno – Quais iniciativas poderiam ser implementadas para reduzir os custos do transporte rodoviário no Brasil?
Mauricio Lima – Do ponto de vista macro é necessário investimento em infraestrutura para que possa ser utilizado sempre o modal mais adequado ao perfil da carga e das rotas. Do ponto de vista empresarial, é necessário avanços nos processos de planejamento e programação, além de investimentos em tecnologia, para aumento da produtividade dos ativos de transporte.
Transporte Moderno – Quais os principais desafios que o ILOS tem identificado para as empresas de logística no Brasil e como o instituto tem atuado para ajudar a superá-los?
Mauricio Lima – O ILOS tem atuado ajudando tanto embarcadores quanto prestadores de serviços logísticos a identificar, avaliar e implementar soluções para cada tipo de operação de transportes, seja inbound, milk-run, transferências, transit points, fracionado, courier, last mile ou reversa. O nosso objetivo é fazer com que a logística e as operações de transportes sejam de fato uma alavanca para o negócio do cliente.
Transporte Moderno – Como a evolução dos custos logísticos pode afetar a competitividade das empresas brasileiras no mercado global?
Mauricio Lima – A logística mais eficiente é capaz de expandir as fronteiras de demanda de cada empresa na direção do mercado global.
Transporte Moderno – Quais são as suas expectativas em relação aos custos logísticos no Brasil nos próximos anos, considerando os avanços tecnológicos e as questões de sustentabilidade
Mauricio Lima – Ao mesmo tempo que a tecnologia permite ganhos de produtividade e melhores práticas sustentáveis, ela também aumenta a expectativa em relação à exigência dos serviços logísticos e das próprias práticas sustentáveis. Isso pode ser considerado o primeiro paradoxo. O segundo, que é mais um paradigma do que um paradoxo, é que a falta de investimento em infraestrutura faz com que o Brasil esteja sempre um passo atrás em relação à eficiência logística de uma forma macro.
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