A ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz reacendeu alertas no setor logístico global, especialmente no modal marítimo. No último domingo (22), o Parlamento do Irã aprovou uma recomendação para bloquear a passagem estratégica localizada entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, por onde trafegam de 20% a 30% de todo o petróleo embarcado no mundo, além de gás natural liquefeito (GNL) do Qatar e dos Emirados Árabes. A medida foi uma resposta ao bombardeio das instalações nucleares iranianas, ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O risco imediato foi contido por um cessar-fogo temporário, mas os desdobramentos da crise geopolítica colocaram novamente em evidência a dependência da logística global de rotas marítimas sensíveis e a vulnerabilidade do comércio internacional diante de choques no Oriente Médio.
Para o Brasil, o impacto direto sobre o abastecimento é considerado limitado no curto prazo. “O risco de desabastecimento de combustíveis no Brasil é muito baixo”, afirma Olivier Girard, sócio-diretor da consultoria Macroinfra em entrevista exclusiva ao portal Transporte Moderno. Segundo ele, o país conta com reservas estratégicas e tem possibilidade de diversificar fornecedores. “Vamos acabar comprando de outros mercados. Vai custar mais caro, mas não deve faltar. Além disso, nossa matriz energética é bastante renovável, com etanol e biodiesel de produção nacional”, diz.
Custo do transporte marítimo
Ainda assim, o conflito afeta o custo do transporte marítimo, em especial o de petróleo e derivados. “O Brasil importa boa parte da gasolina que consome, e isso pode ficar mais caro. Além disso, os fertilizantes são outro ponto de atenção, já que o Irã é um dos grandes fornecedores”, observa Girard.
Segundo o consultor, os maiores riscos à disponibilidade de navios e contêineres não estão exatamente no Estreito de Ormuz, mas no Mar Vermelho, por onde passam rotas que ligam a Ásia à Europa por meio do Canal de Suez. “Se houver ataques sistemáticos de grupos como os Houthis, como já vimos, os navios terão de contornar o Cabo da Boa Esperança, o que estende prazos e aumenta custos. Já vem acontecendo, mas uma escalada pioraria o cenário”, aponta.

Para operadores logísticos e embarcadores brasileiros, não há muitas alternativas para mitigar o impacto de um eventual choque no modal marítimo. “Reservas antecipadas de combustível só são viáveis com estrutura de tancagem, o que poucas empresas têm. E mesmo assim, o efeito é limitado. Se o preço do combustível sobe, sobe para todos, e o frete também”, afirma Girard. O repasse ao consumidor final seria inevitável.
Na avaliação da consultoria Macroinfra, a chance de o Irã efetivamente bloquear o estreito de forma sustentada é baixa. “Mesmo que tentem, a resposta militar dos EUA seria rápida. Eles têm várias frotas navais na região, bases aéreas no entorno e ampla capacidade de neutralizar qualquer ofensiva iraniana. O próprio Irã sabe que perderia essa batalha”, analisa.
Na visão do consultor, apesar do alívio momentâneo, o episódio serve como alerta para o setor logístico global, que depende de poucos corredores estratégicos para mover bilhões de toneladas de cargas todos os anos. Para o Brasil, reforça-se a necessidade de ampliar fontes de suprimento, especialmente de combustíveis e fertilizantes, e fortalecer a resiliência da cadeia de suprimentos no modal marítimo.
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