A alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,25% ao ano, já impacta diretamente o volume de financiamentos de caminhões no Brasil. De acordo com dados da B3 analisados pelo portal Transporte Moderno, os primeiros dois meses do ano registraram uma redução de 4,4% no crédito oferecido pelos bancos. No período, foram firmados 38.041 novos contratos de financiamento, uma queda de 4,4% em relação aos 39.790 do mesmo intervalo em 2024.
Na comparação mensal, também houve retração, mas em menor intensidade. Os dados da B3 apontam que, em fevereiro deste ano, foram financiados 20.456 caminhões, uma leve queda de 0,57% frente aos 20.573 de fevereiro passado. No entanto, o desempenho de fevereiro foi superior ao de janeiro, registrando alta de 16,34%, ante as 17.585 do primeiro mês do ano.
Caminhões novos puxam queda
A análise detalhada revela que a queda do bimestre foi puxada pelos financiamentos de caminhões novos. Entre janeiro e fevereiro, foram 16.861 unidades financiadas, uma redução de 10,98% em relação aos 18.940 do mesmo período do ano passado.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio de Lima Leite, explica que o setor começa a sentir os impactos do aumento da Selic nos novos negócios firmados a partir deste ano. Ao comparar os resultados de janeiro e fevereiro, houve uma queda de 4,26% nos emplacamentos, passando de 9,4 mil para 9 mil unidades. Já Eduardo Freitas, vice-presidente da entidade, destaca que o segmento de caminhões pesados, que representa mais de 53% das vendas totais, já apresenta retração. “Isso está diretamente ligado à Selic, pois se trata de veículos com alto valor agregado e que dependem fortemente de financiamento”, explica.
Estratégias para driblar juros altos
Para Valter Viapiana, diretor superintendente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF), as altas taxas de juros de financiamento impactam fortemente os custos para os operadores de transporte de cargas. “O que temos observado é o desenvolvimento de soluções de alongamento de prazos e ofertas segmentadas, para atender os transportadores, de forma que possam manter suas operações sustentáveis a longo prazo”, afirma.
Segundo o executivo, os bancos de montadoras têm buscado otimizar a oferta de produtos financeiros, como por exemplo o financiamento de 100% dos ativos. “É uma opção que, combinada com carência, visa preservar o caixa dos clientes na hora de fazer uma renovação de frota. Por outro lado, para minimizar os impactos dos juros, alguns clientes têm efetivado entradas elevadas, inclusive via trade-in, reduzindo o montante financiado e ajustando as parcelas ao fluxo de caixa”, explica.
Prazos mais flexíveis e alternativas com pagamento de residual (“balão”) ao final do contrato têm sido boas alternativas para atender o atual cenário de juros elevados. “Isso está alinhado com a necessidade de oferecer soluções cada vez mais personalizadas”, conclui.
Próxima decisão do Copom pode agravar cenário
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta quarta-feira (19) para definir o novo patamar da taxa de juros. Atualmente em 13,25% ao ano, a expectativa do mercado é que a Selic seja elevada em mais 1 ponto percentual, alcançando 14,25%. Em sua primeira reunião do ano, em 29 de janeiro, o Copom já havia elevado a Selic de 12,25% para 13,25%, na quarta alta consecutiva. O ciclo de aperto monetário teve início em setembro do ano passado e segue influenciando as condições de crédito no país.
Marcello Larussa, diretor comercial do Banco Mercedes-Benz, destaca que as altas taxas de juros dificultam o acesso ao crédito e ao financiamento de caminhões. Ele ressalta que, com as demandas do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que vão gerar mais investimentos em infraestrutura, muitas empresas precisarão renovar e até mesmo ampliar suas frotas.
De acordo com o executivo, é importante que, a curto prazo, o governo lance programas de crédito mais competitivos para facilitar o financiamento por parte dessas empresas. “Embora o Finame, linha de crédito do BNDES, ofereça condições mais atrativas para a aquisição de caminhões e ônibus, apenas este não é suficiente. É necessário lançar soluções que tragam opções para os empresários e, assim, conseguiremos, juntos, impulsionar a economia do país”, afirma Larussa.
Seminovos e usados resistem
Em contrapartida, o segmento de caminhões usados apresentou crescimento no bimestre. Segundo dados da B3, foram 21.180 unidades financiadas, um avanço de 1,58% sobre as 20.850 do ano anterior. Em fevereiro, foram registrados 10.968 financiamentos, alta de 8,19% sobre os 10.138 de fevereiro de 2024 e aumento de 7,40% em relação aos 10.212 de janeiro.
Enilson Sales, presidente da Fenauto, disse no início deste mês ao portal Transporte Moderno que ainda é cedo para afirmar como o segmento de usados usados vai se comportar ao longo do ano”, pondera. “Nossa expectativa é positiva, desde que a inflação e a economia se mantenham estáveis e não haja surpresas.”
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