Transportadores relatam falhas mecânicas com o uso de biodiesel

Segundo empresas consultadas, as principais complicações referem-se ao aumento da frequência de troca de filtros e problemas no sistema de injeção

Aline Feltrin

Uma sondagem recente feita pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) com 710 empresários do setor revelou que 60,3% dos consultados enfrentam problemas mecânicos relacionados ao teor da mistura do biodiesel.

Segundo o levantamento, as principais complicações mencionadas referem-se ao aumento da frequência de troca de filtros e falhas no sistema de injeção. Conforme a CNT, esses problemas têm gerado preocupação entre os empresários. Isso porque levam a custos adicionais significativos com a manutenção dos veículos.

Desde março passou a valer no país a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que determina a mistura de 14% de biodiesel ao diesel. Antes, a exigência era de 10%. A política foi implementada como parte da estratégia nacional de transição energética. Contudo, na prática, a CNT garante que o aumento do teor tem se revelado prejudicial.

Conforme a entidade, o ideal é que haja a revisão nas políticas relacionadas ao uso do biodiesel no Brasil. Assim, haveria a redução dos impactos negativos sobre a frota de transporte.

Na semana passada, o presidente da CNT, Vander Costa, apresentou ao ministro dos Transportes, Renan Filho, o impacto para a atividade transportadora da mistura da base éster ao diesel fóssil. “Entendemos que é necessário ampliar o debate e o setor de transporte precisa ser ouvido. Temos trabalhado com dados técnicos e testes que comprovam que teores acima de 10% aumentam o consumo e os custos operacionais do transporte”, disse. 

Fiscalização e armazenagem

Consultada pela reportagem da Transporte Moderno, a Anfavea, que reúne os fabricantes de veículos automotores no país, afirmou em nota que, com as novas especificações técnicas e a elevação da qualidade do biodiesel, não há ressalvas quanto a sua utilização. Contudo, o ponto de alerta, segundo a indústria de caminhões, consiste em uma fiscalização necessária para o transporte e o armazenamento do produto. Além disso, uma garantia da conformidade com as especificações técnicas do combustível.

Na visão do diretor de combustíveis da Associação Brasileira e Engenharia Automotiva (AEA), Rogério Gonçalves, o que pode reduzir a qualidade do biodiesel é justamente mau armazenamento do diesel que pode comprometer propriedades químicas. “O biodiesel é mais suscetível à oxidação do que o diesel convencional. A oxidação pode levar à formação de compostos indesejados, que podem contribuir para a degradação do biodiesel ao longo do tempo. E isso pode ocorrer durante o armazenamento prolongado”, explica.

No fim de 2023, a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) defendeu, em nota, que o aumento do percentual de mistura do biodiesel gera previsibilidade e segurança jurídica para o setor retomar investimentos e acelerar o processo de descarbonização do transporte no Brasil. Segundo a entidade, o setor está pronto para atender a nova demanda com a capacidade instalada atual. Além disso, o biodiesel provou sua eficiência e qualidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) imediatamente. Sem custos de mudança de motor ou investimento em infraestrutura de abastecimento.

Derivado de fontes renováveis, o  biodiesel pode ser obtido por meio de diferentes processos a partir de gorduras animais e óleos vegetais. Entre as opções estão a mamona, palma, girassol, babaçu e a soja.

O Brasil iniciou as pesquisas com esse tipo de combustível há 50 anos. Nesse período, promoveu testes e iniciativas para torná-lo viável. Contudo, somente em 2002 surgiu um programa de substituição do diesel. Com o nome de Probiodiesel, o plano previa que, até 2005, o diesel teria 5% de biodiesel. Mas o governo só criou uma lei que obrigava 2% de mistura em 2008.

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