Mercado de caminhões não reage e produção tem queda no quadrimestre

Dos 36.440 caminhões vendidos de janeiro a abril deste ano, apenas 11,8%, o que corresponde a 4.295 unidades, são modelos produzidos em 2023

Sonia Moraes

O mercado de caminhões continua impactado negativamente pela mudança na legislação de emissões do Proconve P8 (Euro 6). Em abril, a produção mostrou queda de 28%, atingindo 7.255 veículos, e no quadrimestre a retração foi de 28,6%, com 31.752 unidades, ante os 44.455 veículos fabricados no mesmo período de 2022, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Do total de caminhões produzidos de janeiro a abril deste ano, 15.930 são modelos pesados, 8.731 semipesados, 5.276 leves, 1.189 médios e 626 semipesados. “O mercado de caminhões ainda enfrenta muitos desafios com a entrada em vigor da nova legislação do Proconve P8, no mercado interno e nas exportações”, destacou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea, informou que em abril a produção de veículos pesados foi afetada por paradas das fábricas. “Com a introdução do Proconve P8, a situação ficou muito difícil, e no mês passado foi necessário reduzir turno para adequar à demanda que continua bem abaixo da esperada.”

Bonini lembrou que no ano passado não foi possível observar o efeito de pré-compra, como ocorreu em 2011 com a mudança para o Euro 5, quando as vendas tiveram crescimento de 10%. “As montadoras tiveram limitação de produção, com a restrição na entrega de semicondutores, peças e componentes, e as vendas foram mais estáveis, e não deu para saber o que estava sendo produzido e preparado para ser vendido no ano seguinte.”

Vendas-

As vendas caminhões ficaram estáveis no primeiro quadrimestre deste ano, com 36.440 veículos emplacados, aumento de 0,6% em relação ao mesmo período de 2022. Em abril, houve queda de 16,6% em relação ao igual mês do ano passado, com 7.824 veículos comercializados no país, e retração de 22,2% frente a março deste ano.

Segundo Bonini, dos 36.440 caminhões vendidos de janeiro a abril deste ano, 11,8%, que correspondem a 4.295 unidades, são modelos produzidos em 2023, volume muito abaixo dos 40% que deveria representar. Os 88,2% restantes são modelos fabricados em 2022. “O maior desafio para o segmento de pesados é a fase do Proconve P8, o quanto o mercado está demorando a reagir para essa nova tecnologia”, destacou.

No ranking do setor, a liderança ficou com a Volkswagen Caminhões e Ônibus com a venda de 9.236 caminhões no primeiro quadrimestre, 14,6% a menos que no mesmo período de 2022 (10.815 unidades). O segundo lugar foi ocupado pela Mercedes-Benz, com 8.991 veículos comercializados no país, 2,5% acima dos quatro meses de 2022 (8.772 unidades), e o terceiro pela Volvo, com 5.998 veículos emplacados, 15% abaixo de janeiro a abril de 2022 (7.060 caminhões).

A Scania, quarta colocada, vendeu 3.366 caminhões até abril, 27,6% mais que no primeiro quadrimestre do ano passado (2.637 unidades), e a Iveco, que está em quinto lugar, comercializou 3.196 caminhões de janeiro a abril, 6% a menos que nos quatro meses de 2022 (3.400 unidades). A DAF, que ocupa o sexto lugar, vendeu 2.321 veículos, 22% a mais que janeiro a abril de 2022, cujo volume totalizou 1.902 caminhões.

Mercado externo-

As exportações de caminhões também tiveram fraco desempenho, com embarque de 1.001 veículos em abril, o que significa uma queda de 44,1% em relação a março deste ano (1.792 unidades) e de 18% no acumulado de janeiro a abril, quando foram vendidos 5.469 veículos no mercado internacional.

Bonini afirmou que, com os desafios impostos pela mudança na legislação de emissões, é preciso ter um programa de financiamento para ônibus e caminhões para acelerar a compra dos modelos Euro 6 no mercado interno e as exportações, o que refletirá no aumento da produção de veículos pesados.

“Tem mercados, que apesar da redução interna, estão se tornando atrativos para a exportação de caminhões e ônibus. A partir deste ano, há o acordo de livre comércio com o México. Foi um acordo que iniciou há quatro anos com a redução gradual do imposto de exportação, e em junho vai zerar a tarifa. Isso mostra o potencial que o país tem para exportar para o mercado mexicano. Os números de exportações estão crescendo para o México, mas se tiver uma base de financiamento de exportação ainda mais relevante é possível ativar esse mercado”, destacou.

Segundo a Anfavea, em abril o México foi destaque nas exportações de toda a indústria automobilística, aumentando sua participação de 16% registrado no mesmo mês do ano passado para 37%. A Argentina saltou de 27% para 30%, a Colômbia apresentou retração de 19% para 9%, o Chile de 18% para 7%, o Uruguai se manteve estável em 4% e o Peru caiu de 3% para 2%.

Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, disse que na reunião que terá com Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, a principal demanda para o segmento de veículos pesados é utilização a linha de crédito Finame para impulsionar as vendas no mercado interno e a linhas de financiamento para as exportações. “Com as quedas de exportações que estamos vendo é muito importante que o Brasil tenha linha de crédito de financiamento para as exportações e um tratamento específico no âmbito do Mercosul”, disse o presidente da Anfavea.

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