Nova lei de emissões faz produção de caminhões recuar 28,8% no primeiro trimestre

Segundo a Anfavea, apenas 6,4% do total de caminhões comercializados neste ano foram produzidos em 2023, percentual que deveria estar em torno de 20% a 30%

Sonia Moraes

As montadoras começam a ajustar a produção de veículos pesados, com férias coletivas e redução de turnos de trabalho para adequar os volumes à baixa demanda do mercado, que começou a acentuar no primeiro trimestre como reação aos efeitos da mudança na legislação de emissões, a fase P7 para a P8 (Euro 6), determinada pelo Proconve, conforme mostra o balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

No mercado de caminhões, a produção teve queda de 28,8% no primeiro trimestre e totalizou 12.325 veículos, ante as 34.383 unidades fabricadas no mesmo período de 2022. Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea, destacou que a produção deste primeiro trimestre é menor desde 2016 e é decorrente do efeito de pré-compra que não ocorreu no ano passado e está se materializando nestes três meses. “O que está sendo comprado agora é o que estava em estoque.”

Segundo Bonini, apenas 6,4% do total de caminhões comercializados neste ano foram produzidos em 2023. “Este número deveria estar em torno de 20% a 30%, que é o tempo que se tem entre a comercialização e a produção, mas está muito baixo. Por isso, que o volume de produção tem se reduzido e as montadoras estão adequando os volumes à demanda do mercado.”

Do total de caminhões produzidos no primeiro trimestre, 12.245 são de modelos pesados, 6.610 de semipesados, 4.074 de leves, 994 de médios e 565 de semileves.

Em março a produção atingiu 12.325 caminhões, com aumento de 51,7% em relação a fevereiro deste ano (8.123 unidades), mas em comparação com março de 2022 (13.531 veículos) a queda foi de 8,9%. “A nova fase P8 de controle de emissões acarretou um aumento significativo no custo dos caminhões por causa das novas tecnologias, e hoje as fábricas estão com a produção muito abaixo do normal porque houve um esfriamento da demanda e não temos uma linha de crédito dedicada a esses produtos. No primeiro trimestre, em torno de 7% do que foi comercializado em 2023 foi produzido no próprio ano e mais de 90% são referentes ao que foi produzido em 2022. Isso tem um impacto muito grande não apenas no trimestre, mas nos próximos meses”, destacou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

Leite lembrou que o primeiro trimestre é extremamente relevante para a indústria automobilística, pois dará o direcionamento de como será o ano. “E o mês de março foi marcado por oito fábricas paralisadas e dois turnos desativados, o que talvez tenha um efeito pior do que uma simples paralisação.”

Vendas-

As vendas de caminhões se mantiveram estáveis em março, com 10.051 unidades emplacadas, aumento de 24% sobre fevereiro deste ano (8.108 caminhões), e iguais a março de 2022. Mas a média diária de vendas foi 3% inferior a fevereiro e 4,4% menor que março de 2022.

No primeiro trimestre, o crescimento nas vendas foi de 6,6%, com 28.616 veículos emplacados, ante os 26.852 vendidos no mesmo período de 2022. “Do total de caminhões vendido até março, mais de 94% de são modelos Euro 5. Há um período de três a quatro meses para a produção refletir na comercialização porque é necessário colocar o implemento”, disse Bonini.

O vice-presidente da Anfavea destacou que que com esses números é possível perceber o que aconteceu no ano passado em relação a pré-compra, que é muito comum na mudança de fase como ocorreu durante a transição para a P7 em que teve 10% de incremento na produção. “No ano passado, foi muito difícil responder essa pergunta porque tinha um teto de oferta por conta da limitação de componentes e semicondutores e não conseguíamos identificar se aquelas vendas eram referentes a compras antecipadas porque estavam muito estáveis e dentro do ritmo normal de comercialização”, esclareceu Bonini.

Ranking –

No ranking do setor a liderança ficou com a Mercedes-Benz, com a venda de 7.417 caminhões no primeiro trimestre, 12,7% a mais que no mesmo período de 2022 (6.584 unidades), e o segundo lugar foi ocupado pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, com 7.199 veículos comercializados no país, 10,1% abaixo dos três meses de 2022 (8.010 unidades). Em terceiro, ficou a Volvo, com 4.681 veículos emplacados, 10,3% abaixo de janeiro a março de 2022 (5.217 unidades).

A Scania, quarta colocada, vendeu 2.569 caminhões até março, 40,1% a mais que no primeiro trimestre do ano passado (1.834 unidades), e a Iveco, que está em quinto lugar, comercializou 2.488 caminhões de janeiro a março, 4,8% a menos que nos três meses de 2022 (2.614 unidades). A DAF, que ocupa o sexto lugar, vendeu 1.843 veículos, 37,1% acima de janeiro a março de 2022, cujo volume totalizou 1.344 caminhões.

Mercado externo –

As exportações de caminhões tiveram aumento de 8,6% em março em relação a fevereiro, com 1.792 veículos, mas em comparação com março de 2022 (2.049 unidades) a queda foi de 12,5%. No primeiro trimestre, o recuo foi de 4,6%, com 4.468 veículos comercializados no exterior.

O presidente da Anfavea esclareceu que, além da queda dos mercados em que o Brasil exporta os seus veículos – em março o Chile teve retração de 9% e a Colômbia de 17% –, houve crescimento de produtos asiáticos, o que afeta nos resultados das montadoras.

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