Volvo tem boas perspectivas para 2023

Além da expectativa de safra agrícola recorde, os segmentos de construção, mineração e industrial estão aquecidos, e as empresas devem manter o ritmo de renovação das frotas

Sonia Moraes

A Volvo projeta um ano melhor para o mercado de caminhões em 2023, mas não antecipa o quanto o mercado poderá crescer. “Há alguns fatores positivos que poderão colaborar para o bom desempenho do setor no próximo ano”, disse Alcides Cavalcanti, diretor executivo de caminhões da Volvo, em entrevista exclusiva para a Transporte Moderno na 23ª Fenatran.

“O setor agrícola deverá ter colheita recorde de safra no próximo ano de quase 315 milhões de toneladas, além do grande estoque de produtos que estão armazenados nos silos, o que vai demandar caminhão. Tem ainda o segmento de construção, que continua num ritmo bom, de mineração que está mantendo os investimentos, e no industrial, o qual concentra os maiores clientes. Não há nenhum movimento negativo, as empresas estão mantendo suas compras e a renovação de frota”, afirmou Cavalcanti.

O único fator que poderá restringir as vendas de caminhões em 2023, segundo o diretor da Volvo, é a nova motorização Euro 6, que impactará no custo com aumento em torno de 20% para o novo caminhão em relação ao modelo anterior. “Alguns clientes podem adiar para o ano seguinte a renovação de frota que fariam agora, e isso pode provocar redução no volume de vendas e de produção.”

Na avaliação de Cavalcanti, a Fenatran é um termômetro importante para avaliar como serão os negócios e como o mercado reagirá em relação ao aumento do preço dos caminhões. “Aqui há clientes de todos os segmentos, mineração, agrícola, alimentos e outros setores industriais. E já estamos negociando nesta feira caminhões para o ano que vem”, revelou o executivo.

Neste ano –

Para 2022, as expectativas também são de resultados melhores do que se pensava. “A nossa previsão era de que o mercado de caminhões terminaria o ano com volume igual ou um pouco superior a 2021, devido a vários fatores positivos, como a melhora na economia com o avanço do PIB e o bom desempenho do setor agrícola. A agricultura puxou bastante, e o mercado de caminhões reagiu positivamente. A Volvo está caminhando para fechar o ano de forma positiva, com volume um pouco acima de 2021. O mercado recuou 2% até outubro e a Volvo cresceu 10%, o que mostra que a empresa está conseguindo driblar as dificuldades com o fornecimento de peças em geral e semicondutores, que afetam também os concorrentes, e entregar os caminhões para os clientes”, afirmou Cavalcanti.

O que está ajudando a Volvo manter o ritmo de produção, segundo o diretor, são diversas razões, como a competência industrial, o relacionamento com os fornecedores e a proximidade com os clientes, antecipando as informações para contornar as dificuldades. “Tem ainda o diferencial do nosso caminhão que quebra pouco. O FH é hoje o caminhão mais procurado do mercado, principalmente para aplicação pesada, para o transporte de grãos, para usar o implemento rodotrem e bitrem, por ser muito robusto. Além do consumo de combustível, que hoje é muito positivo tanto na linha F quanto na VM, há outros aspectos, como os itens de segurança, que a Volvo vem incorporado cada vez mais nos seus veículos. A linha nova terá mais equipamentos de segurança de série, o que ajuda reduzir custo com acidente”, disse o diretor da Volvo.

A Volvo fechou o acumulado de janeiro a outubro com 19.727 caminhões vendidos no mercado brasileiro, 10,4% a mais que em igual período de 2021, quando foram comercializados 17.868 veículos. No segmento de pesados vendeu 15.401 caminhões, superando em 3,4% os 14.893 veículos vendidos nos dez meses de 2021, liderando este mercad. No de semipesados, emplacou 4.326 caminhões, 45,4% a mais que no mesmo período do ano passado (2.975 unidades).

“No segmento de semipesados a Volvo está tendo muita aceitação dos produtos e, com as novas configurações que passamos a oferecer, conquistamos mais espaço no mercado”, revelou Cavalcanti.

Na fábrica de Curitiba, a Volvo está trabalhando em dois turnos na linha de pesados desde 2019, e na de semipesados está com o segundo turno cheio desde 2021. Cavalcanti ressaltou que a Volvo ainda enfrenta dificuldades, tem perdido alguns turnos por falta de componentes, mas são problemas menores, e a empresa não parou a produção.

Sobre a antecipação de compras esperada para este ano o diretor da Volvo afirmou que houve uma expectativa e uma tentativa de antecipação de compra por parte dos clientes. “Mas como a indústria não está com capacidade para entregar os caminhões, isso não aconteceu. Estamos navegando num patamar de mercado bastante positivo, acima da média dos últimos dez anos, mas a indústria ainda não está em condições de fazer uma produção adicional para poder atender as antecipações de compras. A Volvo está produzindo para compras já realizadas”, disse Cavalcanti.

O que tem limitado o aumento na produção de caminhões, segundo o diretor, são os problemas na cadeia logística que foi muito impactada pela pandemia. “Muitos fornecedores quebraram e outros não tiveram tempo de fazer a substituição na linha de produção. Também ocorreram problemas no fluxo de navios. Se não tivesse essas dificuldades o mercado de caminhões estaria muito melhor.”

Plano de serviços-

Além de itens de segurança, a Volvo está investindo em plano de serviços para os seus caminhões, o qual denomina como Ouro, Azul e Prata, combinando plano de manutenção com conectividade. “A ideia é usar a conectividade para fazer com que o caminhão pare menos e faça a manutenção. A conectividade avisa quando tem que fazer a manutenção e se o caminhão tem algum tipo de problema é feito o agendamento”, explicou Cavalcanti.

A Volvo tem quase 100 mil caminhões conectados no Brasil. Com essa base de dados, é possível comparar a performance do cliente, do caminhão em determinada rota, com o tipo de configuração e de carga. “Isso tudo para que o cliente possa entender o que pode ser melhorado. Com a análise de dados e o serviço de conectividade é possível medir a frota do cliente, o motorista, em relação à média dos caminhões de outras empresas, que estão conectados e fazem o mesmo tipo de serviço”, explicou Cavalcanti.

Elétrico-

Sobre o mercado de elétricos Cavalcanti explicou que a Volvo trouxe o caminhão pesado FM elétrico à Fenatran para mostrar ao mercado. “No ano que vem, este caminhão começa a ser testado em alguns clientes e a ideia é conseguir fechar negócios com este modelo, que vem tendo muita demanda de empresas aqui no Brasil. São empresas que compraram o caminhão elétrico no exterior e querem adquirir no Brasil também”, revelou Cavalcanti.

“Mas antes de trazer o caminhão elétrico para o Brasil, é preciso avaliar as condições de infraestrutura e de tráfego, que são diferentes da Europa, assim como as temperaturas. Tudo isso precisa levado em consideração antes de o veículo entrar em escala comercial.”

A Volvo está à frente na corrida da descarbonização, segundo Cavalcanti, com mais de

3,5 mil caminhões elétricos operando na Europa, onde é líder de mercado, e atinge bons volumes nos Estados Unidos. “A Volvo está apostando em três tecnologias. Além do elétrico, há o modelo com célula de hidrogênio que a empresa está investindo para ter disponibilidade comercial no final desta década, e o modelo a combustão interna com combustíveis verdes, como o HVO.”

Segundo Cavalcanti, a Volvo do Brasil tem um projeto junto com o grupo Volvo para descarbonizar os produtos até 2040, o que significa usar caminhões elétricos, movidos a célula de hidrogênio e com motor a combustão usando combustíveis alternativos. “A empresa está investindo em baterias, com mais capacidade e menor peso, para aumentar a autonomia do caminhão, porque hoje a bateria absorve parte do peso da carga, mas com o tempo isso tende a ser ajustado”, afirmou.

Diferentemente dos mercados europeus e americanos, que têm incentivos do governo para a compra de caminhões elétricos, no Brasil isso não deverá ocorrer, segundo Cavalcanti. “Mas, independentemente de incentivo, vamos continuar tendo demanda muito forte nos próximos anos. E quando houver uma oferta maior de volume isso tende a crescer mais rapidamente.”

Na avaliação do diretor da Volvo, os caminhões de longa distância e os que operam nas fazendas no transporte de grãos dificilmente serão elétricos em médio prazo. “Para este serviço, serão necessários modelos a combustão, mas com o tempo as soluções técnicas vão surgindo e a Volvo está investindo muito nessa área.”

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