Alcides Cavalcanti, diretor executivo de caminhões da Volvo: “Com pedidos fechados e a produção comprometida até setembro, estamos negociando com os clientes a entrega dos caminhões para o último trimestre deste ano”

Não compensa nacionalizar as peças porque o volume de produção ao redor de 100 mil caminhões por ano não garante retorno dos investimentos. O que é possível a empresa nacionaliza.

Transporte Moderno – Qual a expectativa da Volvo para o mercado de caminhões? 

Alcides Cavalcanti – Com o ritmo forte que está o mercado de caminhões, as vendas vão passar com tranquilidade de 100 mil unidades. O Banco Central está projetando avanço de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), puxado pela agricultura e a indústria por conta dos investimentos do próprio governo, além da construção civil. Isso impulsiona o mercado de caminhões. 

Transporte Moderno – O que a Volvo está fazendo para acompanhar a demanda do setor? 

Alcides Cavalcanti – Depois de suspender a produção na fábrica de Curitiba no ano passado, de março a abril, para enfrentar a pandemia da Covid-19, a Volvo registrou em maio a retomada com força do mercado de caminhões. Fechamos vários contratos a partir de agosto até o fim de 2020 e essa carteira de pedidos nos deu respaldo para o primeiro semestre de 2021, trazendo confiança para a empresa contratar 400 empregados e aumentar a produção da linha F de caminhões pesados em fevereiro, passando a trabalhar em dois turnos. 

Para acompanhar esse ritmo consistente de crescimento, em maio a Volvo abriu o segundo turno para a linha VM de caminhões semipesados. Existe uma demanda forte vindo de todos os setores e estamos reforçando a produção para dar conta das encomendas, pois as indústrias preveem aumento de produção no futuro e contratando transportadores para os serviços. 

Transporte Moderno – O que mais preocupa neste momento de retomada do mercado de caminhões? 

 Alcides Cavalcanti – A dúvida é conseguir expandir a produção de acordo com a velocidade do mercado porque há limitação de vários tipos de componentes: pneus, borrachas, peças metálicas e plásticas. No início do ano não havia falta de semicondutores e a Volvo continuou acelerando a produção, os negócios foram sendo fechados, o que nos deu garantia de estar com toda a linha de caminhões vendida até setembro.  

Transporte Moderno – Como a Volvo está conseguindo manter o ritmo de produção com a falta de componentes? 

Alcides Cavalcanti – Além da agilidade da equipe de logística para abastecer a linha de montagem da fábrica de Curitiba, a Volvo aumentou o inventário de peças, comprando mais dos fornecedores e adquirindo mais itens importados. Hoje o estoque está bem elevado, o que tem garantido índice de atendimento de quase 97%, enquanto a média da indústria gira em torno de 92% e 93%. 

Transporte Moderno – Como a Volvo está contornando a falta de semicondutores? 

Alcides Cavalcanti – Além de intensificar as negociações com os fornecedores de semicondutores, por meio da equipe de compras global, a Volvo recorreu ao transporte aéreo para abastecer a linha de produção por ter menos navios vindo para a América do Sul devido à grande demanda de outros mercados.

Transporte Moderno – Qual o impacto do transporte aéreo nos custos da empresa?

Alcides Cavalcanti – O frete aéreo que já é infinitamente mais caro que o marítimo está ainda mais elevado porque há menos linhas aéreas em operação. Com o impacto do aumento de custo na produção, tivemos que repassar uma parte para o mercado, reajustando o preço dos caminhões, o que não cobre totalmente os gastos da empresa. 

Transporte Moderno – De onde são importados os componentes e quais os efeitos no custo de produção? 

Alcides Cavalcanti – Na indústria de caminhões os componentes são importados dos Estados Unidos, Europa e Ásia e isso causa impacto de 30% a 40% no custo total do veículo.

Transporte Moderno – Não seria mais vantagem nacionalizar os componentes?

Alcides Cavalcanti – Não compensa nacionalizar as peças porque o volume de produção ao redor de 100 mil caminhões por ano não garante retorno dos investimentos. O que é possível a empresa nacionaliza. 

Transporte Moderno – Está difícil aumentar a produção de caminhões? 

Alcides Cavalcanti – As dificuldades para aumentar a produção persistem e agora a falta de semicondutores é o que mais preocupa, pois está afetando a indústria de caminhões de forma global, pois a retomada consistente do setor está ocorrendo nos Estados Unidos, na Europa e na China. Em março deste ano, com a falta de semicondutores e o agravamento da pandemia em Curitiba e em todo o país, a Volvo parou duas semanas a produção, mas o mercado continua forte com números de emplacamento superior ao do ano passado. 

Transporte Moderno – A Volvo esperava esse crescimento do mercado de caminhões? 

Alcides Cavalcanti – Sim. A Volvo acreditava em um crescimento de 40% do mercado e se preparou para isso. Se não fosse as limitações da falta de componentes, a produção poderia ser até maior porque, além do agro estar robusto tanto no escoamento de grãos, quanto de insumos (fertilizantes e sementes), estamos vendo grande movimentação de contêineres para o comércio exterior e isso demanda muito caminhão. 

Transporte Moderno – Qual o prazo de entrega dos caminhões da Volvo? 

 Alcides Cavalcanti – Com pedidos fechados e a produção comprometida até setembro, estamos negociando com os clientes a entrega dos caminhões para o último trimestre deste ano. Neste momento o prazo de entrega é de cinco meses, quando o normal é de 60 a 90 dias, dependendo do modelo. 

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