Otávio Meneguette, diretor da Latam Cargo Brasil: “Com o retorno da malha e o investimento em aviões maiores, estamos começando a observar a volta das cargas que acabaram ficando em segundo plano no período mais agudo da pandemia”

Transporte Moderno – O que a Latam Cargo está fazendo para acompanhar o reaquecimento da demanda no setor aéreo de carga? Otávio Meneguette – Além de utilizar três cargueiros puros – Boeing 767-300 –, a empresa passou a voar com aviões maiores de passageiros – modelo 777 com capacidade para 379 pessoas – para levar […]

Transporte Moderno – O que a Latam Cargo está fazendo para acompanhar o reaquecimento da demanda no setor aéreo de carga?

Otávio Meneguette – Além de utilizar três cargueiros puros – Boeing 767-300 –, a empresa passou a voar com aviões maiores de passageiros – modelo 777 com capacidade para 379 pessoas – para levar as cargas em seus porões, e tem recorrido pontualmente aos Airbus 350 na rota Manaus, Belém, Recife, Fortaleza, Salvador e Porto Alegre, localidades que têm maior densidade populacional e consumo.

Transporte Moderno – Por que a empresa está utilizando aviões maiores?

Otávio Meneguette – A estratégia de passar a utilizar aviões grandes em rotas com maior demanda de transporte de carga é para compensar a perda devido à redução de voos de passageiros. Enquanto os aviões menores, que voam pelo Brasil, transportam de 1 a 1,5 toneladas de carga por voo, os maiores levam entre 15 e 20 toneladas de mercadorias. Então, cada avião grande que eu coloco na malha eu aumento em quase 10 vezes a capacidade de um voo.

Transporte Moderno – Durante a pandemia qual foi a estratégia da Latam Cargo?

Otávio Meneguette – No momento da pandemia a Latam Cargo teve que mudar o seu mix de transporte, deixando de levar produtos farmacêuticos, eletrônicos, autopeças e confecção para transportar equipamentos médicos. Só para a China foram quase 45 voos, em avião de passageiros transformados em cargueiros, trazendo EPis, monitores e respiradores para o Brasil.

Transporte Moderno – Essa estratégia ajudou a minimizar o impacto da crise?

Otávio Meneguette – Esse movimento não foi suficiente para compensar a perda que chegou a 52% no segundo trimestre deste ano. Agora, com o aumento da malha aérea os resultados estão melhorando. Os números de setembro apresentados pela Anac (Agência Nacional de Aviação) mostram que a perda da Latam Cargo caiu para 32% no terceiro trimestre. Especificamente em setembro a retração é de 24%. A empresa saiu de um patamar de queda muito grande para uma recuperação com regularidade. Com o retorno da malha e o investimento em aviões maiores, estamos começando a observar a volta das cargas que acabaram ficando em segundo plano no período mais agudo da pandemia.

Transporte Moderno – Que produtos estão voltando a ser transportado por avião?

Otávio Meneguette – A carga de eletrônicos começa a ter regularidade ou a voltar ao mix de antes da pandemia, principalmente os produtos provenientes de Manaus, onde está concentrada a maior produção no país. Tem ainda a carga de e-commerce, que está crescendo em São Paulo. Mudou um pouco a dinâmica do serviço e o transporte aéreo, que antes era um complemento da operação logística de muitos agentes de carga, passou a ter uma atuação maior e mais relevante.

Transporte Moderno – A Latam Cargo investiu em nova rota durante a pandemia?

Otávio Meneguette – Durante a pandemia, a empresa inaugurou a rota regular Miami-Florianópolis, que é operada uma vez por semana a bordo de um Boeing 767-300F cargueiro, capaz de transportar em média 53 toneladas a cada voo. Além de atender Florianópolis diretamente e com mais agilidade a partir do hub global de cargas em Miami, a nova rota beneficia todas as regiões de Santa Catarina, que tem uma indústria bastante diversificada, bem como os importadores do Paraná e Rio Grande do Sul. Estamos fechando parceria para inaugurar a rota Miami-Confins (MG). Temos olhado as oportunidades para colocar a nossa malha cargueira com capilaridade. Isso agrega valor na cadeia e aos nossos clientes.

Transporte Moderno – Como está a média diária de voos atualmente?

Otávio Meneguette – No auge da pandemia o grupo Latam Airlines realizou em média 35 voos por dia no Brasil. Em outubro com a retomada gradual no mercado doméstico a nossa malha chegou a 285 voos diários e em novembro e dezembro vai continuar aumentando os voos. Antes da pandemia a Latam tinha mais de 750 voos diários em média no mercado doméstico e vai demorar para retomar em nível integral.

Transporte Moderno – Como você avalia o momento atual do setor aéreo de carga?

Otávio Meneguette – Vejo com bons olhos a retomada. Independente de toda a queda na malha a demanda em quilo do mercado está se recuperando um pouco mais rápida e por mais que a malha brasileira esteja menor, a gente sente que o transporte aéreo de carga de fato tem uma recuperação maior no mercado doméstico neste momento.

Transporte Moderno – A empresa já contabiliza bons resultados?

Otávio Meneguette – No segundo trimestre deste ano, o grupo Latam Airlinesregistrou aumento de 18,4% nas receitas de cargas em relação ao mesmo período de 2019. A movimentação de carga foi o que ajudou no momento de dificuldades.

Transporte Moderno – Onde a Latam vai concentrar seus investimentos?

Otávio Meneguette – No mercado doméstico a rota Manaus, Recife, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre são destinos que a Latam Cargo vai continuar investindo em capacidade devido ao aumento da demanda. Vamos continuar investindo também em infraestrutura, melhorando o terminal de carga e avaliando onde tem demanda para instalar um novo terminal de carga, além de investir em sistema de informação. No mercado internacional o novo sistema de informação deverá entrar em operação no primeiro trimestre de 2021 e no doméstico ao longo do próximo ano.

Transporte Moderno – O que a Latam aprendeu com a pandemia?

Otávio Meneguette – A crise mostrou o quanto somos capazes de se adaptar a situações difíceis. Não tem nenhum segmento que tenha tido tanta influência de uma pandemia e que tenha tido oportunidade de se readaptar, como o aéreo. O grande aprendizado que a gente teve é como eu consigo enxergar oportunidade em um cenário tão ácido, tão difícil. Acredito que o grande legado que a gente leva é poder identificar oportunidades de maneira ágil e reagir a ela.

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