A Azul tem como meta alcançar a neutralidade de carbono em 2045 – cinco anos antes do prazo estabelecido globalmente para o setor de aviação. Desde 2016, a companhia já reduziu cerca de 20% das emissões de carbono por passageiro por quilômetro (RPK), devido aos investimentos contínuos em renovação de frota e em tecnologias mais limpas. Em 2022, o programa de eficiência no consumo de combustível resultou em uma economia de 134.211 toneladas de CO₂, evidenciando um aumento na eficiência operacional em comparação a 2021.
“A substituição de aeronaves mais antigas por modelos de última geração, como o Airbus A320neo e o Embraer E2, é uma estratégia fundamental para reduzir o consumo de combustível e a pegada de carbono”, disse Filipe Alvarez, gerente de sustentabilidade da Azul, em entrevista para a Transporte Moderno.
“Esses aviões utilizam motores de última geração, materiais mais leves e designs aerodinâmicos avançados, o que pode diminuir as emissões por passageiro-quilômetro em até 20%, mas é necessário equilibrar a transição com a sustentabilidade financeira da operação”, destacou Alvarez. Atualmente, a frota da Azul possui idade média de sete anos, o que contribui para menores emissões por voo.
Em outras áreas a empresa mantém o compromisso com a sustentabilidade, como na Azul Cargo Express, em que colocou em prática estratégias de eficiência logística e redução de desperdícios. Em seus projetos a companhia tem programas de compensação de emissões por meio de créditos de carbono provenientes de projetos certificados de alta integridade, como reflorestamento e conservação florestal.
O SAF é uma das ferramentas mais eficazes
A Azul considera o combustível sustentável de aviação (SAF) uma das ferramentas mais eficazes e estratégicas para o futuro da aviação, especialmente em um país como o Brasil, com enorme potencial para a produção de biocombustíveis, oferecendo impacto imediato para reduzir emissões de carbono no setor aéreo no médio e longo prazo. Mas a empresa reconhece que deve ser parte de uma abordagem integrada que inclua outras iniciativas de eficiência operacional, renovação de frota e uso de tecnologias emergentes. “O SAF destaca-se por sua capacidade de reduzir as emissões líquidas de carbono em até 80% em comparação ao combustível fóssil convencional, dependendo da matéria-prima utilizada e do processo de produção”, afirmou o gerente.
Segundo Alvarez, a SAF pode ser produzido a partir de uma variedade de fontes renováveis, como óleos vegetais, resíduos agrícolas, gorduras animais, e até mesmo resíduos sólidos urbanos. “No Brasil, existe grande potencial para o uso de biomassa local, incluindo resíduos de cana-de-açúcar e outras matérias-primas abundantes no país.”
Mas o uso do SAF em larga escala, segundo Alvarez, depende do desenvolvimento da cadeia de produção e distribuição no Brasil e isso ainda enfrenta barreiras significativas, como custos elevados, baixa disponibilidade no mercado e a necessidade de investimentos na infraestrutura aeroportuária para distribuição e abastecimento. Também é preciso ter parcerias estratégicas para viabilizar sua disponibilidade a custos competitivos. “A Azul tem realizado parcerias com associações e governos para fomentar a cadeia produtiva no Brasil, mas o avanço depende de maior colaboração público-privada.”
O gerente destacou que colaborações com iniciativas internacionais e regionais, como a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e associações de biocombustíveis no Brasil, também são cruciais para acelerar esses avanços.
Na avaliação de Alvarez, melhorar as operações de voo, como otimização de rotas, ajustes na gestão de tráfego aéreo e práticas mais sustentáveis no solo, pode gerar impactos imediatos na redução de emissões e economia de combustível. “A Azul reconhece que a transição para um setor aéreo mais sustentável exige colaboração intensa, incluindo fabricantes de aeronaves, fornecedores de combustível e reguladores.”
Segundo o gerente, o maior desafio da Azul na fase de transição energética, em sua estratégia global de sustentabilidade, está na implementação de medidas eficazes para reduzir emissões de carbono sem comprometer a eficiência operacional e a competitividade econômica, tanto no transporte de passageiros quanto no de carga.
Nas operações de carga, práticas como otimização de rotas, redução de embalagens e implementação de processos mais eficientes são desafiadoras, especialmente considerando a complexidade logística do transporte de cargas diversas. “Para o transporte de passageiros, iniciativas como redução de plásticos de uso único e gestão eficiente de resíduos a bordo também requerem inovação constante”, destacou.
Alvarez ressaltou que o setor aéreo é conhecido por operar com margens de lucro apertadas. “A Azul enfrenta o desafio de equilibrar os custos associados à sustentabilidade — como o uso de SAF e a renovação da frota — com a necessidade de manter tarifas competitivas para passageiros e preços acessíveis no transporte de carga. Isso exige planejamento estratégico e medidas que aumentem a eficiência operacional sem comprometer a experiência do cliente.”
Embora reconheça que o custo do SAF é significativamente mais alto do que o do combustível fóssil, o que representa um desafio para sua implementação em larga escala, com aumento de custo no curto prazo, a Azul entende que sua adoção é essencial para garantir a sustentabilidade do setor aéreo e atender às expectativas regulatórias e de mercado.
A companhia acredita que parcerias estratégicas com empresas e governos, incentivos fiscais, e investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem ajudar a reduzir os custos ao longo do tempo. “A Azul já está trabalhando com fornecedores e associações para acelerar a produção e a comercialização do SAF no Brasil, além de fomentar políticas públicas que estimulem a competitividade desse combustível”, revelou o gerente.
Na visão de Alvarez, a demanda por soluções de baixo carbono deve crescer, o que pode tornar o SAF mais competitivo com o tempo, especialmente à medida que o mercado evolui e a escala de produção aumenta.
Além de substituir a querosene de aviação, por combustíveis sustentáveis como o SAF, há diversas estratégias complementares que a Azul e o setor aéreo podem adotar para reduzir emissões de carbono de maneira eficaz e integrada, segundo o gerente da Azul. “A manutenção preventiva regular é outro fator importante porque garante que as aeronaves estejam em condições ideais de funcionamento, reduzindo a resistência ao voo e otimizando o consumo de combustível.”
Aeronaves elétricas ou híbridas
O gerente da Azul destaca que no futuro da aviação pode incluir o uso de aeronaves elétricas ou híbridas para rotas curtas, além de tecnologias emergentes como hidrogênio verde. “Embora essas soluções ainda estejam em desenvolvimento, a Azul acompanha de perto as inovações para explorar oportunidades de adoção no longo prazo.”
Os investimentos em infraestrutura aeroportuária mais sustentável, como sistemas de energia renovável nos aeroportos e soluções logísticas mais verdes, também podem contribuir para a redução das emissões associadas às operações aéreas, segundo Alvarez.
“Essas abordagens, quando combinadas ao uso de SAF, oferecem uma estratégia abrangente para descarbonizar o setor aéreo de forma sustentável e econômica. A Azul entende que a transição energética no setor depende de uma combinação de esforços, que incluem tecnologia, inovação e parcerias estratégicas, além de incentivos regulatórios para viabilizar essas soluções em larga escala. A escolha de cada medida dependerá de fatores como tipo de rota, infraestrutura disponível e custo-benefício, sempre alinhada aos objetivos globais de sustentabilidade”, finalizou o gerente.
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