A renda média dos caminhoneiros brasileiros voltou a subir em 2025, após um período de forte queda, mas ainda não recuperou o poder de compra registrado há 15 anos. É o que mostra a 5ª edição da pesquisa O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro, divulgada pela Childhood Brasil em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS). O estudo completou 20 anos de monitoramento e ouviu 620 motoristas em diferentes regiões do país.
Segundo o levantamento, a renda nominal da categoria passou de R$ 3.200 em 2021 para R$ 6 mil neste ano. Mesmo com a recuperação, o valor equivale hoje a quatro salários mínimos — proporção inferior à de 2010, quando a remuneração alcançava 5,77 mínimos. Para os pesquisadores, a melhora recente deve ser lida com cautela: “a renda cresce, mas a precarização permanece”, resume o relatório.
Leia também:
Principais lideranças negam greve de caminhoneiros no próximo dia 4 de dezembro
Premiação Maiores do Transporte & Melhores do Transporte destaca líderes que movem a economia nacional
Transnordestina: a promessa é transformar a logística do Nordeste
Os dados revelam que o aumento nominal não se traduz em melhores condições de trabalho. A maioria dos entrevistados relata enfrentar insegurança constante nas rodovias (73,8%), infraestrutura deficiente (66,9%) e longas esperas para carga e descarga, que reduzem produtividade e impacto econômico das viagens. As paradas seguem concentradas em postos de combustível, e 80% dos caminhoneiros reclamam da falta de banheiros adequados — problema ainda mais crítico entre as mulheres, que apontam a insalubridade dos sanitários como o maior obstáculo para permanecer no setor.
Mesmo com a experiência média de 17 anos na profissão, 86% afirmam que o trabalho do caminhoneiro é mal visto pela sociedade, percepção que, segundo o estudo, contribui para a desvalorização econômica e simbólica do transporte rodoviário de cargas no país.
Exploração sexual persiste nas estradas, apesar de queda no envolvimento
O relatório também mostra avanços significativos na conscientização sobre exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. A autodeclaração de envolvimento em casos de ESCA caiu de 36,8% em 2005 para 4% em 2025. Hoje, 96% dos motoristas dizem não ter tido relações sexuais com menores nos últimos cinco anos — o melhor resultado da série histórica.
Apesar disso, a percepção de que o problema continua presente nas estradas permanece alta: 78% dos entrevistados afirmam identificar situações de risco, e o número de caminhoneiros que relatam ver meninos sendo explorados aumentou de 32% em 2021 para 43% este ano. A Childhood atribui o movimento não a um crescimento das ocorrências, mas a maior capacidade de reconhecer casos e sinais de vulnerabilidade.
O estudo também alerta para a migração de parte da exploração para ambientes digitais. De acordo com os motoristas, 9,5% já receberam ofertas envolvendo menores por aplicativos de mensagens, e 7,7% tiveram contato com material sexual envolvendo crianças e adolescentes de forma involuntária.
O contato com o Programa Na Mão Certa, criado em 2005, continua associado a práticas mais seguras e a menor adesão a comportamentos machistas ou de risco. A Childhood reforça que renda, infraestrutura e políticas de conscientização caminham juntas — e que o avanço econômico recente, isoladamente, não resolve os problemas estruturais do setor.
Fique por dentro de todas as novidades do setor de transporte de carga e logística:
➡️ Siga o canal da Transporte Moderno no WhatsApp
➡️ Acompanhe nossas redes sociais: LinkedIn, Instagram e Facebook
➡️ Inscreva-se no canal do Videocast Transporte Moderno



