O relatório Ocean Freight Rate Tracker Q4 2025, elaborado pela consultoria TI (Transport Intelligence), revela um cenário desafiador para a indústria marítima no encerramento deste ano, marcado por uma combinação de sobrecapacidade, queda nas tarifas de frete e um ambiente macroeconômico frágil. Embora a trégua temporária nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China tenha aliviado momentaneamente os ânimos, a TI alerta que a incerteza persiste e as perspectivas para o setor continuam complicadas.
O estudo destaca que o acordo alcançado entre as duas potências globais traz um alívio temporário tanto para empresas quanto para consumidores, mas não dissipa a instabilidade estrutural que permeia o comércio internacional. A eliminação parcial de tarifas sobre produtos portuários e embarcações ajudou a reduzir tensões imediatas, mas a TI avisa que as cadeias de suprimentos estão em transformação, com o comércio global começando a se afastar da dependência de manufaturas chinesas — um movimento estrutural que redefine a dinâmica do comércio internacional.
Queda das tarifas de frete: impacto nas rotações globais
A queda das tarifas de frete é o fenômeno dominante deste trimestre. Segundo o relatório, a desaceleração das tarifas é impulsionada por dois fatores principais: os altos impostos americanos sobre produtos importados e a crescente sobrecapacidade de transporte marítimo. Em outubro de 2025, as tarifas spot caíram impressionantes 65,5% em comparação com o ano passado. As rotas mais afetadas foram a Ásia–Europa, que teve uma queda de 53,4% no preço trimestral, e a rota Transatlântica entre Europa e a Costa Leste dos Estados Unidos, onde a redução foi de 8,6% no comparativo anual.
A TI ressalta que, em um ambiente onde as tarifas podem oscilar até 25% em apenas um mês — como ocorreu entre setembro e outubro —, o mercado permanece extremamente volátil e difícil de prever.
Expectativa de fraco desempenho na Europa e China
A atividade portuária global, medida pelo índice de Ti, apresentou um aumento de 4,8% no trimestre, impulsionada principalmente pela robustez da economia dos Estados Unidos. O consumo interno continua a crescer, com os volumes de carga na América do Norte registrando uma alta de 12,3%.
Por outro lado, a Europa vive um momento de estagnação econômica, com as vendas no varejo apresentando crescimento quase nulo e a indústria continuando em retração. O índice de gerentes de compras (PMI) na região passou de uma fase de contração para uma situação de estagnação. Já a China, que enfrenta as repercussões das tensões comerciais, registrou um PIB de 4,8% no terceiro trimestre de 2025, o menor crescimento em um ano, além de uma desaceleração nas vendas do varejo pelo quarto mês consecutivo.
Uma ameaça ao equilíbrio do mercado
O relatório aponta que a maior ameaça para o setor é a expansão contínua da capacidade de transporte marítimo. A frota mundial de embarcações aumentou 7,6% no último ano, e atualmente há um portfólio de encomendas que representa cerca de 30% da capacidade global, ou quase 10 milhões de TEUs (unidade equivalente a 20 pés de comprimento de contêiner).
As principais linhas de navegação estão liderando esse processo de expansão, com destaque para a MSC, que já opera uma frota de 7 milhões de TEUs — um recorde para o setor. Outras grandes empresas, como a Hapag-Lloyd e Maersk, também têm ampliado suas frotas, com encomendas de navios de grande porte.
Dessa forma, com a chegada de nova capacidade ao mercado e a retomada gradual do tráfego no Canal de Suez, as tarifas de frete devem continuar a cair no curto prazo.
Outro fator relevante para o mercado de fretes marítimos é a queda no preço do búnker, o combustível utilizado nas embarcações. No último trimestre, os preços caíram 20,8% em relação ao ano anterior, influenciados por uma oferta maior, demanda mais fraca e a fraqueza nos preços do petróleo. Embora os Estados Unidos ainda liderem como o mercado mais caro, os preços continuam em declínio, o que ajuda a aliviar a pressão sobre as companhias de navegação.
Expectativas de estabilidade nas tarifas
O índice de sentimento do mercado mostra diferenças regionais importantes. Na rota Ásia–Europa, 56,8% dos entrevistados esperam um aumento moderado nas tarifas nos próximos três meses. Na rota Ásia–Costa Oeste dos EUA, as expectativas estão mais divididas, enquanto na rota Europa–Costa Leste dos EUA, 46,3% dos participantes preveem uma queda nas tarifas.
Globalmente, 53,1% dos consultados acreditam que haverá algum tipo de aumento nas tarifas de frete, mas as variações regionais são significativas, o que indica uma grande incerteza no futuro próximo.
Com a sobrecapacidade crescendo quase 9% ao ano, uma desaceleração econômica na Europa e na China, e o pico da temporada já passado, as tarifas de frete continuam sob forte pressão. O relatório alerta que, apesar da trégua no comércio entre os EUA e a China, a incerteza global ainda persiste. Além disso, um possível aumento nas tarifas poderia acelerar ainda mais o enfraquecimento do setor.
No âmbito das negociações de contratos, é esperado que as linhas de navegação adotem uma postura mais disciplinada em relação à capacidade, com aumento de “blank sailings” (cancelamentos de itinerários) e implementações de aumentos gerais de tarifas (GRIs) para tentar conter a queda. No entanto, a eficácia dessas medidas é questionada, dado o ambiente de sobreoferta e volatilidade que domina o mercado global.
Em resumo, a indústria marítima se prepara para um final de 2025 desafiador, com tarifas em queda, uma capacidade crescente e um cenário global cheio de incertezas.
Com informações do site Mundo Marítimo
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