O Brasil pode adotar diferentes rotas tecnológicas para a descarbonização, explorando suas vantagens competitivas com os biocombustíveis e matriz elétrica renovável. É o que indica o estudo sobre “Iniciativas e Desafios Estruturantes para Impulsionar a Mobilidade de Baixo Carbono no Brasil até 2040”, elaborado pela LCA Consultores e encomendado pelo Instituto MBCB Brasil.
No segmento de caminhões, a frota de veículos cresce rápido até 2040, saltando de 2,3 milhões para 3,3 milhões de unidades, alta de 47,8%, mas a participação dos modelos sustentáveis avança lentamente, segundo o levantamento da LCA Consultores.
Os modelos com motor a combustão interna, que representam 99% da frota (2,2 milhões de unidades) em 2025, terão 85% de participação em 2040, mas com volume maior de 2,9 milhões de unidades, tendo 8% (274,1 mil unidades) de veículos movidos a gás natural ou biometano e 7% (253,8 mil unidades) de elétricos.
Em relação à demanda por combustível nos veículos pesados, o estudo apresenta dois caminhos. No cenário base, a mistura máxima do biodiesel no diesel comercializado chega a 20% em 2035 e, no cenário alternativo, a mistura de biodiesel no diesel tem aumento de 25% em 2035. A demanda por eletricidade para os veículos pesados cresce 27,1% ano a ano entre 2025 e 2040.
Em suas projeções, a LCA Consultores constatou também que, para os veículos pesados (ônibus e caminhões), a redução de emissões se apoiará na maior demanda por biodiesel – sustentada pela mistura de 20% de biodiesel no diesel – e no avanço do biometano. A estimativa é que a capacidade efetiva de biodiesel pode chegar a 17,0 bilhões de litros em 2040, representando um crescimento de 15,6% no período.
Entre as fontes de energia limpa, o biometano desponta como uma das principais oportunidades para a descarbonização do transporte e o fortalecimento da segurança energética nacional. A expansão deste combustível pode impulsionar novos polos de desenvolvimento regional, especialmente em áreas ligadas à agropecuária e ao setor sucroenergético. O aproveitamento do potencial estimado de produção, que pode chegar a 120 milhões de metros cúbicos por dia, reforça a posição do Brasil como referência mundial em energia renovável.
Produzido a partir de resíduos agroindustriais, o combustível tem potencial para substituir até 70% do consumo de diesel no transporte pesado até 2040, um avanço relevante para reduzir emissões e custos logísticos.
“As projeções indicam que o custo marginal de descarbonização do transporte é otimizado quando o país aproveita as rotas já consolidadas e introduz gradualmente novas tecnologias, como o biometano. Essa combinação reduz os riscos e permite uma trajetória de investimento mais estável para o setor”, explica Fernando Camargo, sócio-diretor da LCA Consultores.
O estudo evidencia ainda o setor de transporte pesado como oportunidade estratégica para o desenvolvimento de soluções inovadoras, viabilizadas por políticas públicas coordenadas, infraestrutura adequada e previsibilidade regulatória.
O desafio, segundo o Instituto MBCBrasil, é transformar esse potencial técnico em resultados estruturantes. A entidade defende que o sucesso da mobilidade de baixo carbono depende da convergência entre inovação tecnológica e políticas públicas bem coordenadas. “O Brasil tem condições únicas para liderar uma transição energética eficiente e inclusiva, capaz de unir crescimento econômico e sustentabilidade. O avanço das novas tecnologias e o fortalecimento dos biocombustíveis mostram ser possível reduzir emissões e, ao mesmo tempo, ampliar oportunidades de desenvolvimento”, afirma José Eduardo Luzzi, presidente do Instituto MBCBrasil.
Sobre o HVO, diesel verde produzido através do hidrotratamento de óleos e gorduras, a estimativa é que a demanda chegue a dois bilhões de litros em 2040, considerando um percentual de 3% deste combustível no diesel.
Biocombustíveis
O estudo apurou também que os biocombustíveis assumem papel estratégico na transição energética brasileira. O etanol, apontado como um dos maiores diferenciais do país, pode ter a demanda ampliada em até 2,4 vezes até 2040, impulsionada tanto pelo consumo interno quanto pela abertura de novos mercados globais.
Essa expansão será especialmente relevante com o uso crescente do etanol na produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) e no transporte marítimo, segmentos que podem alcançar em 2040 um volume quase equivalente à 80% da demanda total de etanol do ciclo Otto registrada em 2025.
O documento enfatiza que, apesar do crescimento da demanda para SAF e transporte marítimo, a oferta de etanol será robusta, impulsionada pelo aumento da produtividade da cana-de-açúcar e pela expansão do etanol de milho, garantindo o suprimento para o transporte terrestre. Esse movimento reforça o papel do Brasil como fornecedor estratégico de energia limpa.
Para suportar esse crescimento, o setor sucroenergético investe em inovação tecnológica, com avanços genéticos e biotecnológicos capazes de dobrar a produtividade da cana-de-açúcar até 2040, fortalecendo a competitividade e a sustentabilidade da oferta. A oferta de etanol de milho ganha protagonismo como vetor de segurança energética e diversificação, saltando de 7,6 bilhões de litros em 2024 para cerca de até 25 bilhões em 2040, ampliando a capacidade do país de atender à demanda global por fontes renováveis.
Fique por dentro de todas as novidades do setor de transporte de carga e logística:
– Siga o canal da Transporte Moderno no WhatsApp
– Acompanhe nossas redes sociais: LinkedIn, Instagram e Facebook
– Inscreva-se no canal do Videocast Transporte Moderno



