BV planeja aumento da participação de caminhões usados na carteira de financiamentos

Entre 2020 e 2023, o volume de financiamentos operados pelo banco aumentou cerca de 30%, promovendo um crescimento de 70% na carteira de crédito de pesados da instituição nesse período

Valeria Bursztein

De olho nas projeções feitas pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no final de 2024, que indicavam alta de 18,5% no volume de vendas de caminhões, com 123.423 unidades novas comercializadas no Brasil, e o consequente impacto no segmento de usados, cuja expectativa era fechar o ano com aumento de 1,6%, o banco BV mantém tracionada a estratégia de aumentar a participação de caminhões usados em sua carteira de financiamentos.

Com pouco mais de 30 anos, o BV sempre teve forte atuação na área de financiamentos de veículos usados. De acordo com o informe de resultados do último trimestre, a instituição concentra por volta de R$ 90 bilhões em carteiras de crédito. A de veículos de passeio representa cerca de metade desse total, R$ 45 bilhões. Além disso, há a carteira de atacado, orientada a empresas de médio e grande porte, que representa 25% da carteira total, e os 25% restantes correspondem às chamadas carteiras de crescimento, que incluem financiamentos de placas solares, empréstimos com veículo em garantia, financiamento de motos, veículos pesados, cartão de crédito e financiamento de pequenas empresas.

Crescimento da participação

Há algum tempo, o BV passou a olhar com mais atenção para o segmento de veículos pesados usados. “Quando falamos de pesados, incluímos todos os tipos de veículos comerciais, dos pequenos aos maiores, considerando um valor médio de até R$ 400 mil. Esse é o nosso perfil: usados, acima de cinco e até 20 anos de uso, e nessa faixa de preço”, detalha Jamil Ganan, superintendente de auto finance, solar e empréstimos no banco BV.

De acordo com informações divulgadas pela instituição, o volume de financiamentos operados pelo BV entre 2020 e 2023 cresceu aproximadamente 30%, promovendo um crescimento de 70% na carteira de crédito de pesados da instituição nesse período.

Ganan explica que a estratégia do BV voltada para esse segmento tem três grandes pilares: continuar a escala e rentabilidade das operações com atacado e com veículos leves e usados, fomentar a agenda relacional com os clientes, oferecendo uma cesta de serviços mais abrangente, e diversificar a receita do banco com outras linhas de crédito, além de seguros vinculados ao financiamento.

“O BV sempre operou com muitas lojas espalhadas pelo país, com 26 mil pontos de atendimento e um time comercial superior a mil profissionais. No entanto, o relacionamento com os clientes estava focado na operação do financiamento. Agora, oferecemos mais: uma conta digital, outras ofertas de crédito, cartões e outros produtos, criando um relacionamento ao longo do ciclo do crédito e também mantendo o cliente após o pagamento. Assim, conseguimos prestar um melhor serviço, gerar novas receitas e construir uma instituição mais perene e completa”, explica o executivo.

Ganan acrescenta que é no pilar de diversificação de carteira e receita que os veículos pesados estão contemplados. “Era uma oportunidade latente que o banco não aproveitava porque o financiamento de pesados geralmente é realizado em lojas exclusivas e especializadas, além das próprias montadoras. Percebemos, no entanto, que já tínhamos capilaridade no país e um time comercial bem posicionado”, relata.

O próximo passo do BV foi estruturar-se para alavancar essa carteira, aproveitando a capacidade interna técnica em crédito e preço, além do time comercial para capturar esses negócios. A estratégia deu certo e, nos últimos três anos, o banco praticamente dobrou sua participação no mercado de pesados usados. Ganan detalha que o BV vem registrando, mês a mês, um aumento na concessão de crédito, com a inadimplência sob controle.

Taxa Selic

Questionado sobre o impacto da alta de juros no volume de financiamentos, Ganan avalia que uma elevação nas taxas pode provocar algum arrefecimento na demanda por crédito.

“O mercado acenou com a perspectiva de certa volatilidade, mas nossa decisão interna, como acredito ser a de outras instituições, é sempre técnica, baseada na qualidade da operação. Avaliamos o perfil do cliente, a qualidade da garantia apresentada e tomamos as melhores decisões. Financiamentos fora da capacidade de pagamento do cliente são ruins tanto para o banco quanto para o cliente”, afirma.

Locação x compra

Uma das mudanças comportamentais mais perceptíveis no mercado é a relação com a propriedade do veículo, com a locação de caminhões ganhando força como modalidade de contratação. “Temos acompanhado esses movimentos, tanto no segmento de pesados quanto no de leves. Entendemos que essa modalidade ainda precisa amadurecer no mercado para ganhar escala. É uma tendência mais presente em veículos zero-quilômetro ou com pouco uso, enquanto atuamos principalmente no perfil de veículos usados. Acreditamos que ainda levará tempo para que a locação afete significativamente o segmento de veículos mais antigos”, analisa Ganan.

Perspectivas para 2025

“O que vemos em ambos os mercados — leves e pesados — é um crescimento semelhante ao de 2024, dependendo de como variáveis macroeconômicas evoluírem. Enxergamos 2025 com cautela, priorizando a formação de um bom portfólio e com expectativa de crescimento moderado”, afirma Ganan.

Ele acrescenta: “A carteira do banco hoje é de R$ 90 bilhões. Veículos leves representam R$ 45 bilhões — somos líderes no segmento há 12 anos — e, nos últimos três anos, dobramos nossa participação no mercado de pesados usados. Se as condições macroeconômicas permitirem, devemos manter o mesmo ritmo de crescimento. Naturalmente, a ordem de grandeza dos leves usados continuará maior, mas os pesados usados têm grande potencial de crescimento”.

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