O consumo de substâncias psicoativas continua sendo uma realidade disseminada entre caminhoneiros autônomos e revela um cenário de exaustão física e mental nas estradas brasileiras. Segundo a 3ª Pesquisa Nacional da CNTA – Realidade do Transportador Autônomo de Cargas (2025), 27,8% dos motoristas admitem utilizar algum tipo de substância para enfrentar a jornada, sendo o rebite — um estimulante proibido — o mais comum entre eles, citado por 76,4% dos usuários.
O levantamento foi realizado entre junho e agosto de 2025 e ouviu 2.002 caminhoneiros autônomos registrados no RNTRC, em entrevistas presenciais conduzidas por equipe especializada. A pesquisa teve abrangência nacional, aplicada em 11 estados que representam todas as regiões do país, e utilizou metodologia quantitativa e descritiva, com questionário estruturado e análise estatística.
Os dados mostram que o uso de estimulantes está diretamente ligado às condições de trabalho. Os caminhoneiros passam, em média, 14 horas por dia ao volante e ficam 16 dias por mês longe de casa, frequentemente dormindo em postos de combustível — ambiente que não oferece estrutura adequada para descanso. A combinação de pressão por prazos, longas viagens e falta de locais seguros para repouso contribui para a adoção de substâncias que ajudam a prolongar artificialmente o tempo de direção.
Leia mais:
Principais lideranças negam greve de caminhoneiros no próximo dia 4 de dezembro
Premiação Maiores do Transporte & Melhores do Transporte destaca líderes que movem a economia nacional
Transnordestina: a promessa é transformar a logística do Nordeste
Ampliação forçada da jornada
Outro fator que agrava a situação são as longas esperas para carregar ou descarregar mercadorias: 46,1% dos caminhoneiros relatam atrasos superiores a cinco horas, muitas vezes sem remuneração adicional. O descumprimento de normas como a Lei do Piso Mínimo do Frete e do Vale-Pedágio reforça a sensação de desamparo e pressiona os motoristas a ampliar a jornada para compensar perdas financeiras.
Os indicadores de saúde reforçam o quadro de vulnerabilidade. De acordo com a pesquisa, 62% só realizam check-ups quando já estão doentes, 86,5% não praticam atividade física e 63,4% só vão ao dentista quando sentem dor. Entre as comorbidades mais frequentes estão hipertensão, obesidade, diabetes, dores na coluna e problemas de visão — enfermidades que podem ser agravadas por longas jornadas, má alimentação e estresse contínuo.
Para a CNTA, enfrentar o uso de substâncias não pode se limitar à repressão. É necessário atacar os fatores estruturais que condicionam o comportamento dos caminhoneiros. “A cada nova edição, reforçamos nossa missão de transformar informação em ação. Que esta pesquisa sirva de instrumento para ampliar o diálogo com a sociedade e com o poder público, e também dê reconhecimento à força e ao valor dos caminhoneiros autônomos brasileiros”, afirma o presidente da entidade, Diumar Bueno, no documento oficial.
Especialistas defendem que políticas de saúde específicas para caminhoneiros, fiscalização rigorosa das jornadas, ampliação dos Pontos de Parada e Descanso e programas de renovação da frota são fundamentais para reduzir o uso de rebite e aumentar a segurança nas estradas. Sem medidas integradas, alertam, o problema tende a persistir — com impacto direto na saúde dos motoristas e no risco de acidentes graves.
Fique por dentro de todas as novidades do setor de transporte de carga e logística:
Siga o canal da Transporte Moderno no WhatsApp
Acompanhe nossas redes sociais: LinkedIn, Instagram e Facebook
Inscreva-se no canal do Videocast Transporte Moderno



