O setor marítimo global passa por mudanças profundas, impulsionadas por normas de eficiência energética e descarbonização, e o Brasil se posiciona para se adequar ao novo cenário regulatório da Organização Marítima Internacional (IMO).
Segundo Luciana Sumam, diretora da MarMec Engenharia e consultora especialista em eficiência energética e segurança operacional, durante o painel sobre intermodalidade no Congresso SAE Brasil 2025, a adaptação envolve não apenas o modal marítimo, mas também a integração com outros modais logísticos. “Não queremos que rodovia ou ferrovia percam carga para o marítimo. O objetivo é associar diferentes tipos de transporte para aumentar a eficiência energética e reduzir emissões”, afirma.
Embora o modal marítimo seja responsável por apenas 3% das emissões globais, ele é o primeiro a sofrer modificações significativas, justamente por conectar todos os demais modais logísticos. “Todas as cargas do mundo passam por navios em algum ponto da cadeia”, explica Sumam.
O marco regulatório da IMO, que deve ter exigências mais rigorosas definidas em outubro de 2027, prevê, entre outras medidas, a aplicação de uma taxa de US$ 100 por tonelada de carbono emitida. A cobrança visa incentivar armadores a adotarem soluções mais limpas, promovendo eficiência energética e a redução da pegada de carbono de toda a cadeia logística.
Atualmente, o transporte marítimo responde por 88% de toda a movimentação de cargas global, sendo parte essencial do escoamento de mercadorias, embora o transporte rodoviário e ferroviário ainda complemente o sistema logístico internacional. Segundo Sumam, a associação entre diferentes modais é determinante para reduzir custos, aumentar eficiência e garantir competitividade.
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Inovações e projetos-piloto
O setor já testa alternativas para reduzir emissões, como o uso de etanol em motores a diesel e a adoção crescente de biodiesel, que já é uma realidade operacional. Segundo Luciana, além disso, há projetos-piloto focados em descarbonização, engajamento do setor e integração de toda a cadeia, incluindo trading, cabotagem, apoio marítimo em longo curso e a cultura de mediação entre os diferentes modais.
A metodologia da taxa considera todo o ciclo de vida do combustível, desde a extração de fósseis na plataforma até a produção de bioenergia na plantação, permitindo que toda a cadeia logística contabilize sua contribuição para as emissões.
A IMO, fundada em 1945, começou a atuar efetivamente cerca de uma década depois, com o objetivo de integrar países por meio do transporte marítimo. Desde 1999, vem desenvolvendo normas de eficiência energética, incluindo inventários de carbono e indicadores que relacionam consumo de energia ao trabalho realizado, e em 2023 ampliou suas exigências para todos os armadores, proprietários ou não do navio.
Para o Brasil, que é signatário da IMO, o novo marco representa uma oportunidade de vantagem competitiva, permitindo que o país adote práticas alinhadas ao mercado global sem perder os benefícios internos. “Cada país precisa adaptar as normas globais ao seu contexto, aproveitando os ganhos para a sociedade e para a descarbonização da economia”, destaca a especialista.
Luciana alerta que, sem incentivos claros e eficazes, os investimentos em descarbonização pelo setor marítimo e pela indústria podem se prolongar por décadas. O novo ciclo regulatório, que começa a ser definido em 2027 para vigorar em 2030, promete acelerar a transição do modal marítimo global para uma operação mais eficiente e sustentável.
Ela revelou ainda que, entre 14 e 17 de outubro de 2025, ocorrerá a votação sobre o regulamento de intensidade de carbono e ciclo de vida do combustível. “Um documento-guia deve orientar a interligação entre modais e como o Brasil poderá implementar essas normas, em discussão pela Marinha e pelo Ministério dos Portos (MPor)”. Na sequência, em 22 de outubro, será discutido o instrumento que vai detalhar a metodologia de cálculo de intensidade de carbono ao longo do ciclo de vida do combustível, complementando o que já é previsto pela Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navio – a Marpol.
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