A cabotagem brasileira registrou crescimento expressivo no primeiro semestre de 2025, impulsionada por ganhos de eficiência logística, busca por menor impacto ambiental e um novo marco regulatório. Segundo dados da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC), o volume total de contêineres movimentados por cabotagem entre portos nacionais alcançou 823,5 mil TEUs, o que representa um crescimento de 12,5% em relação ao mesmo período de 2024 (732,2 mil TEUs).
O segmento doméstico, que concentra o transporte entre portos nacionais para abastecimento do mercado interno, movimentou 410,1 mil TEUs no acumulado de janeiro a junho, com alta de 5,6% sobre os 388,3 mil TEUs registrados no primeiro semestre de 2024. Já o segmento feeder, responsável pela distribuição a partir dos grandes portos, teve crescimento mais acelerado, de 20,2%, saltando de 344 mil TEUs para 413,4 mil TEUs.
Somando-se às operações de transporte marítimo com países do Mercosul, o volume total movimentado no semestre chegou a 868,8 mil TEUs, um aumento de 13,1% na comparação anual.
Apenas no segundo trimestre de 2025, o desempenho manteve-se positivo, com crescimento de 3,1% no total da cabotagem. O segmento doméstico somou 215,7 mil TEUs, alta de 4,4% sobre os 206,7 mil TEUs de igual período em 2024. O feeder registrou 193,2 mil TEUs, um avanço mais modesto, de 1,6% em relação aos 190,1 mil TEUs no segundo trimestre do ano anterior
O desempenho reflete uma tendência de consolidação do modal como alternativa ao transporte rodoviário, ainda predominante no país. A combinação de distâncias longas, infraestrutura terrestre sobrecarregada e incentivos regulatórios começa a reposicionar a cabotagem no centro dos debates sobre logística.
“Estamos em um momento crucial para ampliar a integração entre modais. A cabotagem oferece previsibilidade, segurança e menor impacto ambiental, sobretudo em longas distâncias”, afirma Luiza Bublitz, presidente da Aliança Navegação e Logística, uma das principais operadoras do setor.
A companhia participa pela primeira vez da Multimodal Nordeste 2025, feira realizada de 5 a 7 de agosto no Recife Expo Center. A presença no evento reforça a aposta da empresa no corredor Sul-Sudeste–Nordeste, considerado estratégico. “O modal marítimo é ideal para conectar regiões costeiras. Nossa expectativa é ampliar o fluxo de cargas fracionadas e refrigeradas de ponta a ponta, com soluções integradas entre navios e caminhões”, diz Bublitz.
A Aliança investe em frota própria na região, novo armazém e navios com escalas semanais. Um novo terminal em Suape (PE), com promessa de ser o primeiro da América Latina totalmente eletrificado, deve ampliar ainda mais a presença da empresa no Nordeste.
Nova regulamentação do BR do Mar
A movimentação positiva do setor é acompanhada por avanços regulatórios. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que regulamenta o programa BR do Mar, criado para incentivar o uso da cabotagem e diversificar a matriz de transporte brasileira.
A nova regulamentação, elaborada pela Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação, permite maior flexibilidade para que empresas brasileiras de navegação (EBNs) afretem embarcações estrangeiras, especialmente se forem sustentáveis. O texto também reforça a política de formação de marítimos nacionais e prevê a ampliação da oferta de rotas e serviços entre portos.
Hoje, a cabotagem representa cerca de 11% da carga transportada por navios no país, com predominância do transporte de petróleo. O Plano Nacional de Logística prevê elevar essa participação para 15% até 2035. Segundo a Infra S.A., o frete marítimo pode ser até 60% mais barato que o rodoviário e 40% inferior ao ferroviário. A economia logística potencial pode chegar a R$ 19 bilhões por ano.
Impacto ambiental e desafios
Estudo da Norcoast, empresa de navegação costeira, mostrou que a cabotagem pode reduzir em até 89% as emissões de CO₂ na comparação com o transporte rodoviário. A análise, baseada em operações realizadas em 2024 para uma multinacional do setor químico, comparou o desempenho ambiental de rotas com origem em Suape (PE) e destinos em Manaus (AM), Santos (SP) e Paranaguá (PR).
Se as mesmas cargas tivessem sido transportadas por caminhões, as emissões seriam nove vezes maiores. “A cabotagem se destaca como alternativa sustentável e competitiva, em linha com as metas ambientais do setor logístico”, afirma Stephano Galvão, diretor de operações da Norcoast.
Apesar do potencial, o modal ainda tem participação tímida na matriz logística brasileira. Estudo da Fundação Dom Cabral (FDC) de 2024 mostrou que a cabotagem representa apenas 2,9% da movimentação de carga em toneladas úteis, frente aos 62,2% do rodoviário e 26,9% do ferroviário. “O Brasil está muito atrás de países como EUA e Índia, onde o modal tem participação expressiva”, afirma o professor Paulo Resende, coordenador do núcleo de logística da FDC.
Para ele, o principal gargalo é a falta de integração com o transporte rodoviário. “A cabotagem não faz o serviço porta a porta. A integração multimodal com padronização de documentos, tarifas e gestão portuária é essencial”, afirma.
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