Após um período de forte expansão impulsionado pela pandemia e pela recuperação global da cadeia de suprimentos, o setor de transporte marítimo de contêineres entra em um novo ciclo marcado por queda nas tarifas de frete e aumento da capacidade ociosa. A avaliação consta do relatório trimestral de perspectivas de mercado divulgado pela Veson Nautical, referente ao terceiro trimestre de 2025.
Segundo o estudo, o setor portacontêiner deve passar por uma redução progressiva de receitas a partir do segundo semestre, em meio a uma desaceleração da demanda e crescimento contínuo da oferta de navios. O relatório destaca que, embora 2024 e o início de 2025 tenham registrado um repique nas tarifas, o aumento da capacidade — resultado de um pico nas encomendas de novas embarcações — deve pressionar os preços ao longo dos próximos trimestres.
Em 2023, o crescimento líquido da frota foi de 5,5%. Em 2024, saltou para 9,7%. Para o período entre 2025 e 2028, a projeção é de expansão média anual de 8,2%, alimentada por um volume recorde de encomendas que somou 4,3 milhões de TEUs em 2024. Com isso, a relação entre encomendas e frota ativa chegou a 31,1%. A tendência tem sido concentrar novas construções em navios do tipo ULCV (Ultra Large Container Vessel), em detrimento dos modelos Neopanamax.
Apesar desse crescimento, o ritmo de novos pedidos começou a desacelerar em 2025, reflexo do alto custo das embarcações e da menor atratividade diante da queda de rentabilidade. O relatório também projeta uma leve aceleração no desmonte (desguace) de embarcações, especialmente entre navios com capacidade inferior a 3 mil TEUs.
Outros segmentos também passam por mudanças
No segmento de granel sólido, a retração de pedidos nos últimos anos tem mantido o crescimento da frota sob controle, o que ajuda a equilibrar a oferta. Ainda assim, a demanda segue vulnerável a fatores externos, como guerras comerciais e aplicação de tarifas. Um dos pontos de atenção é a continuidade dos conflitos no Mar Vermelho, que obrigam ao desvio de rotas e devem elevar a demanda por transporte em cerca de 1%, contribuindo para sustentar as tarifas no curto prazo.
O transporte de petróleo por navios tanque (tanqueiros) vive um cenário mais instável. O setor é impactado pelas tensões no Mar Vermelho, sanções energéticas e mudanças nos fluxos globais de petróleo, o que tem elevado a demanda por tonelada-milha e aumentado os tempos de viagem com rotas alternativas, especialmente em direção à Ásia. No entanto, a combinação de baixo volume de desmanche de navios, expansão da frota e entrega de novas embarcações deve gerar um descompasso entre oferta e demanda a partir de 2025.
Já o mercado de gás enfrenta um cenário misto. A produção de GLP nos Estados Unidos cresceu 5,9% em 2024 e deve subir 4,2% em 2025, embora as exportações estejam temporariamente limitadas pela capacidade dos terminais. A expectativa é de retomada a partir de 2026, com a conclusão de novas ampliações.
A frota de grandes transportadores de gás e amônia (VLGC/VLAC) aumentou 10,9% em 2024 e deve crescer em média 7,3% ao ano até 2028. Apesar da forte demanda, o elevado volume de novas encomendas pode comprimir os lucros do setor. As receitas médias dos VLGC ficaram em US$ 43.300 por dia em 2024, com previsão de queda neste ano e recuperação pontual em 2026.
O relatório aponta ainda um excesso de capacidade no transporte de gás petroquímico, diante da demanda fraca e das incertezas nas relações comerciais entre Estados Unidos e China. A possível reativação do comércio regional na Ásia, no entanto, pode abrir espaço para alguma recuperação.
Com informações do site chileno Mundo Marítimo.
Já segue nosso canal oficial no WhatsApp? Clique aqui para receber em primeira mão as principais notícias do transporte de cargas e logística.