Projeto-piloto mundial de captura e reutilização de CO₂ em navio é concluído na China

Dividido em duas fases, o projeto iniciou com a transferência “ship to ship” (STS) de 25,44 toneladas métricas de CO₂ capturado a bordo do “Ever Top” para o navio receptor “Dejin 26”, em uma operação conduzida pela Shanghai Qiyao Environmental Technology

Aline Feltrin

O Centro Global para a Descarbonização Marítima (GCMD) anunciou a finalização bem-sucedida do primeiro projeto-piloto do mundo que demonstra toda a cadeia de valor do dióxido de carbono (CO₂) capturado a bordo de um navio comercial. A operação foi realizada em 25 de junho, na China, envolvendo o portacontêiner “Ever Top”, da Evergreen, e diversos atores da cadeia logística e industrial.

Dividido em duas fases, o projeto iniciou com a transferência “ship to ship” (STS) de 25,44 toneladas métricas de CO₂ capturado a bordo do “Ever Top” para o navio receptor “Dejin 26”, em uma operação conduzida pela Shanghai Qiyao Environmental Technology (SMDERI-QET). Posteriormente, o CO₂ foi descarregado no porto de Zhoushan, província de Zhejiang, e transportado por caminhão até uma planta industrial em Mongólia Interior.

Na segunda etapa, coordenada pelo GCMD, o CO₂ foi utilizado na produção de carbonato cálcico de baixo carbono pela empresa GreenOre, em parceria com a Baorong Environmental. O material é empregado na fabricação de produtos para a construção civil, integrando assim o CO₂ capturado na cadeia produtiva terrestre.

Viabilidade técnica e avanços na descarbonização

O GCMD destaca que o piloto comprova a viabilidade técnica e logística de conectar a captura de carbono em navios com sua utilização em aplicações industriais em terra, criando uma cadeia de valor funcional para o CO₂. Essa integração é vista como uma estratégia para mitigar as emissões do transporte marítimo e reduzir os impactos ambientais da indústria, especialmente na produção de cimento e concreto.

O projeto se baseia nos achados do estudo COLOSSUS, realizado pelo GCMD, que identificou o uso do CO₂ no setor de construção como uma das formas mais eficientes de redução dos gases de efeito estufa (GEE) ao longo do ciclo de vida dos produtos.

Desafios regulatórios e logística complexa

Entre os principais desafios enfrentados, o projeto destacou a questão regulatória sobre a classificação do CO₂ capturado. Inicialmente enquadrado como “resíduo perigoso”, o gás teria sua utilização industrial restrita. Após negociação com as autoridades chinesas, o CO₂ foi reclassificado como “carga perigosa”, facilitando seu transporte e uso como matéria-prima.

Além disso, a logística envolveu o transporte do CO₂ por mais de 2.000 km desde o porto até a planta industrial, contando com o apoio da Comissão Municipal de Transporte de Xangai, Administração de Segurança Marítima, Grupo Portuário Internacional de Xangai, alfândega e fiscalização local.

O GCMD também está desenvolvendo uma análise do ciclo de vida (LCA) para quantificar as emissões evitadas no processo, em parceria com a DNV, que fará a verificação independente das reduções de emissões segundo padrões internacionais.

Futuro da descarbonização marítima

Criado em agosto de 2021 e sediado em Singapura, o GCMD é uma organização sem fins lucrativos fundada pela Autoridade Marítima e Portuária de Singapura (MPA) em conjunto com parceiros como BHP, BW Group, Eastern Pacific Shipping, DNV, Ocean Network Express (ONE) e Sembcorp Marine. O projeto piloto marca um avanço importante para a descarbonização do transporte marítimo e a criação de cadeias industriais sustentáveis.

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