Um tribunal federal dos Estados Unidos decidiu que as tarifas impostas durante o governo Donald Trump sobre produtos chineses — que haviam sido anuladas por um tribunal de comércio americano em maio — permanecerão vigentes durante o processo de apelação. A decisão mantém a cobrança em vigor pelo menos até 12 de agosto, prazo originalmente previsto para uma possível redução dos gravames, e poderá se estender ainda mais caso o tema avance para a Suprema Corte americana.
Diante da incerteza, importadores americanos vêm antecipando embarques desde meados de maio, quando houve uma breve trégua na escalada tarifária entre EUA e China. O objetivo é se proteger de um possível novo aumento de tarifas a partir de agosto, período que historicamente marca o início da temporada de maior demanda no comércio internacional.
De acordo com Judah Levine, analista-chefe da plataforma de logística Freightos, o mais recente relatório da National Retail Federation (NRF) dos EUA sugere que essa janela de maior demanda após 12 de maio pode estar se esgotando. “Se um acordo definitivo entre China e Estados Unidos for firmado, é provável que a demanda caia, já que os importadores vão distribuir os volumes de compras ao longo da temporada alta, que normalmente vai até outubro, evitando concentrar operações em meio a tarifas de 30%”, explicou ao site Mundo Marítimo.
Porém, Levine ressalta que os dados já indicam que os volumes previstos para julho — tradicionalmente o mês de pico — serão menores do que os registrados em abril. Isso sinaliza que boa parte dos embarques foi antecipada, o que pode resultar em uma retração dos volumes no restante do ano, independentemente de um acordo comercial.
Erro de cálculo das linhas marítimas
Esse movimento de antecipação de cargas também impacta diretamente o mercado de fretes no transporte marítimo. Segundo Levine, há sinais de que as tarifas spot na rota transpacífica já atingiram seu teto. Isso compromete os aumentos tarifários (GRIs, na sigla em inglês) planejados pelas companhias de navegação para meados de junho e início de julho.
Dados do Freightos Baltic Index (FBX) mostram que, apesar dos fortes aumentos registrados na semana anterior, as tarifas spot para a costa oeste dos EUA já recuaram 3% em relação à média da semana passada. Caso as elevações previstas (GRIs) não se confirmem, essa queda poderá refletir tanto uma desaceleração da demanda — após o crescimento observado desde maio — quanto um aumento recente na oferta de capacidade nas rotas.
As linhas marítimas, na avaliação do analista, podem ter superestimado a demanda no transpacífico. A expectativa de continuidade da forte procura levou as companhias a restabelecer rapidamente serviços que haviam sido suspensos antes da trégua tarifária, além de programar saídas adicionais por meio de novas alianças e atrair transportadoras regionais e de nicho de volta à rota.
“O aumento combinado de capacidade pode ter ultrapassado o nível real de demanda”, aponta Levine. Relatórios recentes de cancelamentos de viagens spot e navios operando com ocupação abaixo da capacidade total reforçam essa hipótese.
*Dados e informações do site chileno Mundo Marítimo.
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