Escassez de profissionais marítimos preocupa o mercado brasileiro de navegação

Com a expectativa de crescimento da participação da cabotagem na matriz de transporte brasileira, surge a apreensão com a falta de profissionais que já atinge as empresas atuantes nesse modal

Embora ainda tenha pouca representatividade na matriz de transporte brasileira, com 11% de participação, a cabotagem apresenta potencial de expansão. Contudo, junto à expectativa de avanço está a preocupação com a escassez de profissionais, um desafio que tem deixado o mercado de navegação em alerta. Dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Vanzolini e pelo Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária da USP (Cilip) indicam que, até 2030, será necessária a formação de 4 mil oficiais da Marinha Mercante.

No Brasil, a certificação dos profissionais marítimos é realizada exclusivamente pela Marinha, em três anos de estudo (complementados com até 2 anos de prática a bordo), por meio das Escolas de Formação de Oficiais de Marinha Mercante (EFOMM), o Ciaga (Rio de Janeiro-RJ) e o Ciaba (Belém-PA). Esses cursos são abertos anualmente, mas o número de vagas oferecidas está muito aquém do que o mercado brasileiro necessita.

Além disso, compete à entidade realizar os Exames de Revalidação para Oficiais de Náutica e de Máquinas (ERON/EROM), que, além de pouquíssimas vagas, são cursos que podem levar até nove meses para serem concluídos.

Medidas necessárias

Para o diretor executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC), Luís Fernando Resano, a escassez de profissionais pode custar caro e se o propósito é expandir a cabotagem no país, seria necessário resolver esse problema urgentemente. Ele revelou à reportagem do portal Transporte Moderno que a ABAC está propondo trabalhar em conjunto com a Marinha para proporcionar mais formação, com cursos rápidos.

Luís Fernando Resano, diretor executivo da ABAC (Divulgação)

À medida que a cabotagem se expande, o Brasil pode enfrentar uma crise de mão de obra, mesmo com a demanda pelo modal nos atuais de 11%. Na visão do diretor da ABAC, é um mercado em constante evolução, com desafios crescentes devido à competição com setores como o apoio marítimo e as plataformas de petróleo, que oferecem melhores condições de trabalho e salários.

Atualmente, as empresas que oferecem cabotagem já enfrentam dificuldades na contratação de tripulantes, impactados pela migração de trabalhadores para setores mais atrativos. “Estamos tentando solucionar isso por meio da formação de mais profissionais e até da contratação de estrangeiros. Esse problema de mão de obra limita o crescimento da nossa frota de navios.”

Programa de reintegração

A falta de profissionais marítimos – sobretudo oficiais de máquinas e náuticas – está, na prática, gerando dificuldades de contratações. A Log-In, especializada em logística integrada, já sente esse déficit na operação de seus navios, com vagas em aberto, sendo quatro para oficiais e duas para o Programa Reintegrar cujas inscrições já estão abertas. A iniciativa permite que 1º Oficial e Chefe de Máquinas com certificações expiradas retomem às suas atividades de navegação.

(Divulgação: Log-In)

Conforme a empresa, o programa chega a realocar os marítimos de maneira mais ágil. A gerente de consultoria interna da Log-In, Paula Oliveira, explica que é possível apoiar na reintegração e revalidar as certificações desses profissionais em tempo recorde, gerando equipes de maquinistas ainda mais qualificadas para a frota da companhia”, comenta.

Durante o projeto, os participantes serão designados para os navios da Log-In, com base nas necessidades operacionais, tendo uma experiência completa nos serviços de cabotagem e longo curso. Ao todo, serão disponibilizadas duas vagas: uma para 1º Oficial e uma para Chefe de Máquinas, com salário integral referente às categorias.

Além disto, os participantes contarão com todos os benefícios oferecidos aos atuais colaboradores, como planos de saúde e odontológico, extensivos para dependentes, acesso aos programas “Viva Bem”, focado em saúde física, emocional e social e “Amor de Mãe”, destinado a gestantes, além de auxílios como Gympass, vale transporte e vale alimentação.

Após o período de estágio, a Log-In poderá oferecer um contrato de permanência por 18 meses, diante dos resultados obtidos a partir das avaliações feitas durante o programa.

De acordo com a diretora de gente, cultura e transformação digital da Log-In, Andréa Simões, a medida adotada pela empresa não é suficiente para solucionar o problema de déficit de profissionais, mas contribui para reinserção de marítimos no setor. “A falta de mão de obra pode prejudicar drasticamente o desenvolvimento do segmento, podendo causar a redução das operações e interrupção da possibilidade de expansão de frotas.”

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