Aline Feltrin
Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral identificou que a navegação por cabotagem responde por apenas 2,9% no volume de carregamento de carga em toneladas úteis. O levantamento considerou apenas o transporte de longa distância e focou nas variáveis Volume de Cargas (TU) e Produção de Transporte (TKU). Segundo estimativa da instituição, caso não haja investimentos em infraestrutura nos próximos anos, o modal representará apenas 3% em 2035.
Para efeito de comparação, o estudo da Dom Cabral mostra que o modal rodoviário representa, hoje, 62,2% de toda a movimentação de carga. Depois aparecem o ferroviário (26,9%), hidroviário (4,3%) e dutoviário (3,6%).
Os dados inéditos foram identificados pela PILT FDC – Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transporte – na análise de volume de cargas, que representa o volume das mercadorias em toneladas-úteis.
Em entrevista exclusiva ao portal Transporte Moderno, o professor e coordenador do núcleo de infraestrutura, supply chain e logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, disse que o caminho mais eficiente para aumentar a participação do modal no Brasil seria diminuir a concorrência entre a cabotagem e o transporte marítimo. “Isso faz com que a longa distância seja sempre mais competitiva, por isso seria necessário um plano portuário brasileiro. Assim, haverá maior aproveitamento de determinados portos que não são tão representativos no transporte internacional.”
Diversificação logística
Segundo o professor, com isso seria possível criar uma rede portuária de cabotagem, o que aumentaria a participação do modal. Outra saída seria a integração da cabotagem com o modal rodoviário. “A cabotagem não faz a porta a porta, então a integração multimodal com a padronização de documentos e tarifas, por exemplo, seria eficiente”. Ele acrescenta que fazer parte de uma logística integrada é o que falta para a cabotagem crescer no Brasil.
Seja como for, de acordo com o estudo da Fundação Dom Cabral, é preciso também uma diversificação logística para que esse modal cresça. Desta forma, poderia haver mais conexão aos mercados consumidores e com o porta-a-porta. “O Brasil tem 8 mil quilômetros de costa, por isso acredito que é uma oportunidade boa para expandir em longas distâncias e transportar por um custo menor”, disse o professor.
Oportunidades para crescer
Para Paulo Resende, produtos como bebidas, alimentos e até contêineres, que podem ser transportados em unidades de embalagem de maior volume e peso são bastante propensos para serem levados por cabotagem.
O professor revela ainda que o desenvolvimento da cabotagem no Brasil está longe de alcançar países como os Estados Unidos e Índia, por exemplo, que têm dimensões continentais parecidas com a do Brasil. “Nos EUA esse modal tem excelente participação. Aqui temos uma oportunidade excepcional de aproveitamento maior da cabotagem, formando uma integração com o nosso sistema rodoviário principalmente”, finaliza.
Rodocabotagem
De olho nessa possibilidade, a Tecmar, que pertence ao grupo Log-In, passou a oferecer uma solução de rodocabotagem. Ou seja, integrou o transporte rodoviário com a cabotagem. Segundo a empresa, a mudança permitiu uma distribuição mais eficiente da carga, reduzindo custos e emissões de carbono.
O diretor da empresa, Maurício Alvarenga, contou à Transporte Moderno que a Log-In, ao adquirir a Tecmar há dois anos, quis trazer a carga fracionada para a cabotagem. “Essa abordagem permitiu à empresa expandir sua atuação para novas regiões, como o Norte do Brasil, onde recentemente adquiriu a empresa Oliva Pinto.
De acordo com ele, a companhia agora opera em todo o território nacional e oferece soluções logísticas integradas para uma ampla gama de indústrias.
Confira a reportagem completa sobre os dois anos da aquisição da Tecmar pela Log-In na edição n° 520 da revista Transporte Moderno, que estará no ar em breve.
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