Volkswagen está confiante na retomada do mercado de caminhões

A grande aposta da empresa está no setor agrícola que deverá crescer 9% este ano e estimular outros segmentos, demandando mais caminhões para transportar produtos diversos e a safra agrícola

Sonia Moraes

A Volkswagen Caminhões e Ônibus está confiante de que o segundo semestre será positivo para o mercado de caminhões por causa da boa expectativa do agronegócio. “A demanda existe e o PIB agrícola deverá crescer 9% este ano, estimulando o consumo e outros segmentos, o que significa que precisará de mais caminhão para transportar produtos e safra agrícola”, disse Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-venda da Volkswagen Caminhões e Ônibus, em entrevista exclusiva para a Transporte Moderno.

“Não sei se será suficiente para compensar a queda do início do ano, mas com certeza será um patamar de vendas maior do que está sendo no primeiro semestre.” Além do agro, há boas expectativas para o setor de mineração, segundo Alouche. “Não é o mais pujante, mas está estabilizado em um patamar elevado.”

Para o ano, Alouche mantém a mesma projeção da Anfavea de queda de 11% para o mercado de caminhões. “É uma previsão conservadora devido à essa fase de ajuste, com a chegada dos modelos Euro 6, preço elevado do caminhão, alta taxa de juros, restrição de financiamento e o programa do governo.”

O vice-presidente de vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus considera o segundo trimestre o real momento do lançamento do caminhão Euro 6 porque não tem mais Euro 5 e aponta vários desafios: o aumento de custo do modelo Euro 6 na ordem de 20% a 25%, a taxa de juros Selic em 13,75%, que está muito alta, e ainda completar o portfólio de produção de modelos Euro 6.

“Uma montadora como a Volkswagen não consegue colocar 50 modelos de uma só vez na produção e começar a produzir da noite para o dia. É um processo gradativo e ainda temos um gapde produção de alguns modelos específicos que ainda não entraram em produção, como os caminhões customizados – betoneira e de lixo”, disse Alouche.

Sobre a elevada taxa de juros Alouche comentou que o cliente tem expectativa de redução e está reticente em fechar um financiamento com juros altos. “Mas a Selic não vai declinar de 13,75% para 2%, será um processo gradual, de 0,25% a 0,50%, e mesmo com a queda a redução no crédito não será imediata e não vai afetar o financiamento de caminhões porque a taxa de juros dos bancos de montadoras já está abaixo do que é praticada pelos bancos privados, mesmo assim os clientes preferem postergar as compras”, explicou o executivo.

“Além dos juros elevados, houve um incremento da inadimplência no sistema bancário e vários clientes que têm caminhões financiados passaram a ficar inadimplentes por várias razões, esfriamento de demanda e outras dificuldades. Essa combinação e fatores está fazendo com que o mercado no segundo trimestre caia, conforme foi divulgado pela Anfavea, e nós acreditamos que vai continuar assim até o fim de junho por causa do programa anunciado pelo governo.”

Programa de renovação de frota-

Alouche avaliou como positivo o programa do governo de incentivo à renovação de frota, mas considerou complexo e com prazo de vigência muito curto. “Quem estava programando comprar um caminhão, preferiu postergar a compra para entender como será o programa, que ainda não está operacional. E a principal preocupação neste momento é com a estruturação e o alinhamento geral do processo para viabilizar as primeiras vendas.”

De todos os momentos enfrentados pelo setor automotivo este não é o mais desafiador, segundo Alouche, mas é diferente. “Estamos vivendo o momento de combinação de fatores muito importantes, que é o lançamento do Euro 6, taxa de juros elevada, preço reajustado do caminhão, planos ainda não sincronizados, e isso tem gerado uma dificuldade específica para o segundo trimestre. Nós costumamos a trabalhar com previsão de mercado, com equação de 15 variáveis, mas as variáveis do momento atual são 30 e é difícil equilibrar a equação.”

Novos negócios-

Depois de suspender as compras no primeiro trimestre – os negócios se limitaram a produtos do varejo, de um a dois modelos do estoque de Euro 5 –, os clientes estão voltando a fazer cotação, segundo Alouche. “Ainda não estamos fechando negócios relevantes, mas o movimento de cotação, de querer entender mais os novos modelos Euro 6 já começou, o que é um bom sinal”, afirmou.

Sobre a liderança conquistada pela Volkswagen Caminhões e Ônibus nos cinco meses deste ano, Alouche disse que a empresa fez diferente e se preparou para a entrada do Euro 6. “Cada montadora fez o seu planejamento e, enquanto para algumas faltaram produtos, para outras a condição comercial não era adequada para o momento, e nesta combinação a Volkswagen acabou se destacando. Houve um equilíbrio entre o estoque e a produção de novos modelos e novos preços.”

A Volkswagen já tem todos os caminhões Delivery, Constellation e Meteor na linha de produção. “O que está faltando são alguns modelos de ônibus que devem entrar em produção em julho, e os veículos de menor volume, lixo e betoneira, para atender nichos específicos do mercado”, disse Alouche.

Mesmo com todos os desafios, Alouche diz estar otimista com a recuperação do setor de caminhões, diante do bom desempenho da agricultura e da mineração. “A demanda por caminhão continua latente, o que está havendo é uma postergação de compra e não uma diminuição do mercado.”

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