CCR Aeroportos detalha as estratégias para o transporte de cargas

A empresa pretende ampliar a malha de voos cargueiros internacionais nos aeroportos que administra, descentralizando a distribuição de cargas que chegam ao país por avião para agilizar a liberação das mercadorias e reduzir o prazo de entrega

Sonia Moraes

A CCR Aeroportos começa a colocar em prática suas estratégias para ampliar a malha de voos cargueiros internacionais nos aeroportos que administra. A empresa, que ganhou a concessão de 17 aeroportos no Brasil por meio de licitação aberta pelo governo federal no ano passado, tem entre os seus planos descentralizar a distribuição de cargas que chegam ao país por avião, para tornar mais ágil o envio dos produtos ao mercado e a liberação de matéria-prima para as indústrias, além de reduzir o prazo de entrega.

“Depois de mapear o mercado vimos que existe potencial de carga de importação para os aeroportos que operamos”, disse Maria Fan, gerente executiva de cargas da CCR Aeroportos, em entrevista exclusiva para a Transporte Moderno.

Segundo Maria Fan, hoje muitas toneladas de carga não vão diretamente para os aeroportos administrados pela CCR Aeroportos, pois são liberadas na alfândega do aeroporto de São Paulo e depois seguem ao local de destino por caminhão. “Em vez do importador nacionalizar uma carga em São Paulo, seja em Guarulhos ou Viracopos, ele passa a nacionalizar no nosso aeroporto de destino, seja Curitiba, Goiânia, São Luís, porque existem meios de transporte para esses aeroportos”, afirmou.

Durante a 27ª Intermodal South America a gerente da CCR Aeroportos fez reuniões com várias empresas e companhias aéreas que operam no Brasil para conseguir levar as cargas até os aeroportos que estão sob sua responsabilidade, seja por meio de escala ou a inclusão de um trecho adicional em seus voos. “Hoje as aéreas vão até Guarulhos e Viracopos e voltam para a Europa e os Estados Unidos. A ideia é que pousem em São Paulo e depois sigam até Curitiba com uma etapa adicional”, detalhou a executiva.

Entre as operações de carga aérea, o foco está na importação porque o volume é maior para esses destinos. “A única exceção é o aeroporto de Petrolina, em Pernambuco, que só tem exportação. Então o desafio da empresa aérea é conseguir balancear porque precisa chegar com cargas para justificar esse voo que vem do exterior trazendo produtos importados, seja para São Paulo ou Curitiba, e depois pousar em Petrolina para retirar frutas e levar para a Europa”, explicou.

O aeroporto de Petrolina conta com uma pista de pouso e decolagem com 3,7 mil metros, uma das maiores do país, pronta para operar qualquer tamanho de aeronave. O terminal de cargas possui oito câmaras frias para armazenamento de frutas da região para exportação, que têm a Europa como principal destino. Atualmente, esses produtos perecíveis viajam por rodovia até São Paulo, para embarque em voos de passageiros internacionais.

Se as companhias aéreas conseguirem incluir um trecho adicional em seus voos, a expectativa de Fan é que a partir do segundo semestre as cargas cheguem diretamente aos aeroportos de destino, sem ter necessidade de passar pelo aeroporto de São Paulo. “A redução do tempo de trânsito e do excesso de manuseio da carga nas conexões aéreas e rodoviárias são benefícios valiosos para produtos e equipamentos destinados a linhas de produção, pesquisas, projetos especiais, ou mesmo de consumo imediato”, destacou a gerente.

Para as operações de carga aérea internacional, a CCR Aeroportos conta com terminais em Curitiba e Foz do Iguaçu, no Paraná; em Navegantes e Joinville, em Santa Catarina; Goiânia, no estado de Goiás; São Luís, no Maranhão; Teresina, no Piauí; e Petrolina em Pernambuco. A carga nacional é movimentada em 15 aeroportos do grupo pelas próprias empresas aéreas que neles operam. Esta capilaridade permite à empresa dialogar com todo o trade e planejar o aumento da malha cargueira no país.

“Hoje cerca de 70% dos processos de liberação aduaneira de cargas aéreas que chegam do exterior, destinadas aos estados do Paraná, Santa Catarina, Goiás e Maranhão, ocorrem em São Paulo, o que gera elevado tráfego rodoviário e tempo adicional para levar essas mercadorias até o destino, o que por si só reduz significativamente as vantagens de agilidade de uma importação por via aérea. Sem contar o risco de acidentes, assaltos e roubos de cargas nas rodovias.”

A gerente destacou também que grande parte das cargas possuem dimensões e peso incompatíveis com as dos porões dos aviões de passageiros domésticos, que atendem atualmente as conexões entre os aeroportos paulistas e os dos estados de destino. “Por isso, estamos buscando viabilizar rotas de voos cargueiros que incluam os aeroportos administrados pela CCR com escalas ou destinos finais.”

Ampliação –

Das operações que estão sob o controle da CCR Aeroportos, somente o aeroporto internacional de Curitiba tem capacidade para receber cargueiros puro de grande porte. São seis voos cargueiros por semana, incluindo Boeing 747F e o Boeing 777F – dois vem da Europa e quatro dos Estados Unidos. “Mapeamos essa demanda e todo o volume que hoje está sendo nacionalizado em São Paulo daria o dobro de quantidade de voos se for considerado o volume de importações do setor automotivo, maquinário e eletrônico destinadas ao estado do Paraná e que são nacionalizadas em São Paulo. É possível aumentar mais seis frequências, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos para Curitiba”, disse Fan. “Com as obras da terceira pista de pouso e decolagem no aeroporto de Curitiba, com três mil metros de comprimento, a serem iniciadas neste ano, a ampliação da capacidade para mais voos cargueiros trará ainda mais conveniência para a indústria da região.”

A CCR também pretende atrair voos cargueiros puros para Navegantes, em Santa Catarina, quando concluir a obra de pátio previstas para começar em 2023. O prazo para a conclusão de todas as obras nesta fase 1 é novembro de 2024. “O objetivo é antecipar o prazo e trazer cargueiro o quanto antes para Navegantes porque tem potencial muito grande na região de Santa Catarina”, destacou Fan.

Joinville também ganhará novo terminal de cargas em breve. Juntos, os aeroportos de Curitiba, Navegantes e Joinville movimentam 82% da demanda de importações e exportações aéreas da região Sul.

Para o aeroporto internacional de Goiânia, a previsão é de começar a operação com voos cargueiros no início de 2024. A CCE está iniciando a construção do novo terminal de cargas para a importação de farmacêuticos. Hoje os produtos chegam em São Paulo e seguem até Goiás de caminhão.

O projeto para Goiânia inclui o planejamento de voos cargueiros internacionais procedentes da Europa, Ásia e Estados Unidos. Além de ampliação da malha cargueira, a CCR Aeroportos apresenta oportunidades para novos armazéns de carga em seus aeroportos, a fim de torná-los importantes centros logísticos com fácil acesso aos modais aéreo e rodoviário na distribuição de cargas pelo país.

Em São Luís, as mercadorias adquiridas pelo e-commerce, que antes eram liberadas em São Paulo e chegavam até o destino por caminhão, agora chegam de avião por meio de parceria fechada pela CCR Aeroportos com o Mercado Livre. “O avião cargueiro operado pela Gol está em operação desde outubro do ano passado e realiza cinco voos por semana para levar as encomendas que as pessoas compram pelo mercado livre. “Eles conseguem levar de três a quatro toneladas de cargas de importação no voo que sai de Guarulhos”, explica Fan.

Segundo a executiva, com a operação de voos cargueiros, as importações de cargas mais pesadas para o Maranhão podem ganhar em média cinco dias no tempo de trânsito em comparação com o rodoviário, que ainda é o modal costumeiro. “Isto beneficia as empresas maranhenses, onde é crescente a demanda por importações para o setor de infraestrutura e energia.”

Maria Fan observou que o aeroporto de São Luís está preparado para receber aeronaves de grande porte, mas, por causa da baixa demanda, ainda não comporta um voo regular com estes aviões. Ela citou o exemplo da operação histórica realizada em dezembro do ano passado pela Innospace, fabricante de pequenos veículos lançadores de satélites da Coreia do Sul, que fretou o Boeing 747/400 da companhia norte-americana National Airlines, trazendo a bordo uma carga valiosa para a ciência e o mercado espacial brasileiro.

Vindo de Seul, capital da Coreia do Sul, o cargueiro trouxe para o Maranhão peças do Hanbit-TLV, foguete híbrido de 15 toneladas e de impulso de estágio único, com altura de 16,3 metros, um metro de diâmetro e peso de 9,2 toneladas, de propriedade da Innospace, primeira companhia aeroespacial privada a operar no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).

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