Os ônibus vão circular na nova linha Ligeirão norte-sul, do terminal Santa Cândida até a estação Bento Viana, e transportará 36 mil passageiros por dia em até 25 minutos com parada em oito estações
A cidade de Curitiba realizou no final de março a viagem inaugural da nova linha Ligeirão norte-sul com 25 ônibus biarticulados que partiram do terminal Santa Cândida em direção à estação Bento Viana, na praça Japão, um dos trechos de maior movimentação de passageiros no corredor BRT (Bus Rapid Transit).
Nesta primeira fase de operação do novo corredor Ligeirão, os ônibus vão percorrer 11 quilômetros e transportar 36 mil passageiros por dia num percurso estimado entre 20 e 25 minutos, com paradas em apenas oito estações – nos terminais Santa Cândida, Boa Vista, Cabral, nas estações Passeio Público, Central, na praça Eufrásio Correia, Oswaldo Cruz e estação Bento Viana. O tempo gasto é quase a metade do que os biarticulados fazem hoje com a parada em 16 estações.
Os 25 biarticulados que começaram a circular em Curitiba são produzidos pela Volvo. Com carroceria Marcopolo esses ônibus têm 28 metros de comprimento e capacidade para transportar 270 passageiros. Do total, 15 foram comprados pela Transporte Coletivo Glória, oito pela Auto Viação Redentor e dois pela Cidade Sorriso. Esses veículos fazem parte do programa de renovação de frota que estava suspenso desde 2013 e foi retomado pela capital paranaense após acordo fechado entre as empresas de ônibus e a prefeitura para reformular a rede de transporte da cidade. A previsão do prefeito Rafael Greca é de substituir 175 ônibus até o final deste ano, chegando a 475 novos ônibus até o término da sua gestão em 2020.
CONECTIVIDADE – Os novos ônibus que entraram em operação na capital paranaense são os modelos da última geração de biarticulados produzidos pela Volvo e têm elevado grau de conectividade. O destaque deste veículo é o controle à distância que pode ser feito pelo operador do sistema para limitar a velocidade a 20 quilômetros por hora em regiões com alto fluxo de pedestres e que possui riscos de acidentes, como hospitais, escolas, terminais, áreas residenciais e centrais.
“Essa nova solução tecnológica é utilizada algum tempo na Suécia e adaptamos para a América Latina”, explicou Vinicius Gaensly, gerente de serviços conectados em ônibus da Volvo Buses Latin America. “É uma ação ativa no veículo, limitando a aceleração. Mesmo que o motorista pise no acelerador não conseguirá passar da velocidade limite programada para aquela região”.
O Grupo Volvo tem mais de 600 mil veículos conectados no mundo, entre caminhões, ônibus e equipamentos de construção, tornando-se referência mundial nesta área, segundo informa a empresa.
Fabiano Todeschini, presidente da Volvo Buses Latin America, comemorou a entrega dos novos ônibus: “A Volvo tem muito orgulho de estar aqui e poder entregar esses 25 biarticulados feitos por mãos curitibanas na cidade que começou com o desenvolvimento do transporte em ônibus de massa, conhecido no mundo por BRT.”
Maurício Gulin, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), afirmou que, depois de um período de estagnação a cidade de Curitiba volta a inovar: “Tenho certeza que vamos voltar a ser referência mundial no transporte coletivo urbano.”
O presidente do Setransp declarou que é preciso discutir nacionalmente como viabilizar o transporte coletivo no país para que tenha referência no ir e vir das pessoas, porque é desse sistema que depende a maior massa de trabalhadores. “O transporte coletivo transporta 70% da população e ocupa 20% das vias da cidade, enquanto o transporte individual transporta 20% e ocupa 75% das vias das cidades. Isso inviabiliza qualquer planejamento de mobilidade urbana”, apontou Gulin.
Na avaliação de Gulin o transporte coletivo tem que passar por modificações. “Temos que descobrir aonde o passageiro quer ir e modificar algumas linhas, alguns trajetos, e trabalhar para que o passageiro seja atendido na sua demanda”, disse.
Gulin comentou também a importância da parceria contínua com a Urbs, órgão da prefeitura que faz a gestão do transporte público da cidade de Curitiba, para garantir segurança no transporte e evitar o fura-catraca, que traz grande prejuízo ao sistema. “O índice de gratuidade no sistema gira em torno de 15% e o com fura-catraca a perda chega a R$ 5 milhões por mês”, informou o presidente do Setransp.
Ogeny Pedro Maia Neto, presidente da Urbs, recordou que o sistema de transporte norte-sul, implantado em 1974, foi o primeiro corredor exclusivo de ônibus no mundo e tem uma demanda de 364 mil passageiros por dia. Neste programa de realinhamento da rede de transporte urbano da cidade Maia espera que, com as intervenções mínimas, desalinhamento das estações-tubos para permitir as ultrapassagens dos ônibus e as paradas somente em terminais e estações tubos de grande movimento de passageiros, a população tenha um ganho de cerca de 40% no tempo de deslocamento.
“Nesta primeira fase a nova linha Ligeirão terá 11 quilômetros e transportará 36 mil passageiros por dia em aproximadamente 25 minutos com paradas em oito estações. Na segunda etapa teremos seis pontos de parada, que vai da praça Japão até o Capão Raso. Os recursos de R$ 15 milhões já estão aprovados pelo Ministério das Cidades”, esclareceu o presidente da Urbs.
Na terceira etapa, do Capão Raso até o Pinheirinho, a linha Ligeirão vai fazer 15 paradas. “Com isso, ganhamos um tempo precioso para quem utiliza esse transporte no eixo mais movimentado de Curitiba”, disse Maia.
O prefeito de Curitiba esclareceu que, sem o recurso prometido pelo governo federal para a implantação do metrô na cidade, a prefeitura passou a trabalhar na manutenção do sistema de transporte coletivo por ônibus que inspirou 250 cidades no mundo com os corredores BRT. “Estamos trabalhando para manter esse sistema e multiplicá-lo numa escala metropolitana. Vamos ter uma rede de transporte ao custo mil vezes menor do que o do metrô”, declarou Greca.
BILHETAGEM – Greca afirmou que Curitiba e nove municípios no entorno terão de volta o bilhete único de transporte. “Vamos trabalhar para implantar um novo modelo de bilhetagem eletrônica para o sistema de transporte de Curitiba. Já estamos formatando uma licitação para ter uma tecnologia melhor e se possível com reconhecimento facial dos usuários, pois queremos ter segurança de que não haverá fura-catracas de corpo presente e virtuais. Também estamos criando novos dispositivos de desenho dos tubos para impedir os fura-catracas”, detalhou o prefeito.
Greca assegurou que até o fi nal do ano a população de Curitiba voltará a ter orgulho do seu transporte. “É o tempo de renovação dos ônibus mais deteriorados, pois desde 2013 a frota não era renovada. O meu antecessor entrou em litígio com as empresas de ônibus e o desembargador desobrigou as empresas de renovarem a frota enquanto persistisse o desequilíbrio econômico financeiro do sistema”, explicou Greca. Hoje a idade média da frota de ônibus de Curitiba é de 7,9 anos.
A alternativa para garantir o equilíbrio econômico financeiro do sistema, segundo o prefeito, foi elevar o preço da tarifa do transporte para R$ 4,25 (em fevereiro de 2017), a mais alta do Brasil naquele momento. “Eu preferi jogar o meu capital político em risco no momento da minha eleição do que destruir algo que o mundo inteiro invejava e que Curitiba tinha como um dos seus maiores patrimônios que é essa rede integrada metropolitana de transportes”, justificou o prefeito.