Mercedes-Benz vai acelerar a descarbonização com o incentivo do Mover

Além de investir em veículos elétricos e autônomos, a empresa vai continuar aprimorando os veículos a combustão em relação ao consumo e segurança por considerar que ainda terão papel relevante em longo prazo

Sonia Moraes

A Mercedes-Benz, uma das primeiras empresas a ser habilitada no programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), avalia como importante a nova política industrial para estimular a engenharia a desenvolver tecnologias mais avançadas e, assim, ter veículos mais seguros, eficientes e que ofereçam contribuição maior à descarbonização.

“Para a Mercedes-Benz, o Mover estabelece novo momento para acelerar os projetos no Brasil, investindo ainda mais na descarbonização, em veículos elétricos e autônomos, além de continuar aprimorando os modelos a combustão em relação ao consumo e segurança pois ainda terão papel relevante em longo prazo”, afirmou Luiz Carlos Moraes, diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, em entrevista exclusiva para o portal Transporte Moderno.

Foco na eletrificação

No período de 2018 a 2022, a Mercedes-Benz investiu R$ 2,4 bilhões no Brasil para a modernização das fábricas de caminhões e chassis de ônibus de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG), implantando o conceito de indústria 4.0, além do desenvolvimento de novos produtos e tecnologias em serviços e conectividade. Agora a empresa está trabalhando de forma intensa e vai utilizar os incentivos da nova política industrial para acelerar a descarbonização, com foco na eletrificação.

“A Mercedes-Benz tem um plano de investir gradativamente na eletrificação e começou com os ônibus porque o impacto nas cidades é mais rápido e São Paulo tem regra de descarbonização gradativa da frota, mas a empresa tem veículos autônomos desenvolvidos em parceria com a Grunner e outro modelo com nível 4 de autonomia num projeto com a Ipê”, revelou Moraes.

Em sua meta para contribuir com a redução de emissões, a Mercedes-Benz segue as estratégias da Daimler de acelerar a descarbonização no mundo e trabalha no Brasil com duas tecnologias: eletrificação e células de combustível. “Para aplicação urbana, a eletrificação é a tecnologia mais apropriada, embora ainda tenha desafios em relação à infraestrutura, ao aumento de escala – porque os veículos elétricos são mais caros que o modelo a combustão – e em apoiar aos clientes no financiamento”, disse Moraes.

Para médias distâncias, como o ônibus rodoviário e o caminhão extrapesado que roda 1.500 km, ainda há dificuldades para indicar o melhor combustível. “Na Alemanha, a empresa está trabalhando com célula de combustível de hidrogênio, fazendo os testes para avaliar se é economicamente acessível, porque ainda tem desafios para serem superados em relação ao custo, mas a Daimler espera que até o fim do ano seja
possível de ser utilizada”, informou Moraes.

Diesel verde

Outra indicação é do HVO (Hydrotreated Vegetable Oil – óleo vegetal hidrotratado), tipo de diesel verde que pode ser produzido a partir do hidrotratamento de óleos vegetais ou gorduras animais, da síntese de moléculas a partir de gás de síntese obtido pela gaseificação de resíduos orgânicos, pela fermentação de cana de açúcar, entre outros processos. 

É uma das alternativas promissoras para uma transição energética, mas o desafio é aumentar a produção. “O HVO é um produto mais sofisticado tecnologicamente, não traz problemas para os motores e ajuda na descarbonização. A indústria de HVO tem alguns projetos em implementação para começar a entregar este combustível ao mercado em 2025 e 2026, mas acho que o Brasil terá uma combinação de várias
soluções”, disse Moraes.

Maior apoio a pesquisa e desenvolvimento

Na avaliação do diretor da Mercedes-Benz o setor automotivo estava caminhando bem com o Inovar Auto em vigor de 2013 a 2017 que concedeu apoio para a pesquisa e a engenharia e ajudou as empresas a fazer avanços importantes. E o Rota 2030, aprovado para o período de 2018 a 2022, também incentivou a pesquisa e o desenvolvimento, mas com menos recurso por parte do governo.

“O Mover dará um empurrão ainda maior à indústria e talvez seja a melhor política industrial que já tivemos até então no setor automotivo, pois volta a apoiar de forma intensa a pesquisa e desenvolvimento e a engenharia, para novas tecnologias, para a busca de eficiência energética para a segurança e no caso dos veículos leves inclui a reciclabilidade.”

As regras do Mover

A Medida Provisória nº 1.205 publicada em 30 de dezembro de 2023, que criou o programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva e estimula a produção de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística, expandindo o antigo Rota 2030. O novo programa idealizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) vai promover a expansão de investimentos em eficiência energética, incluir limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos e cobrar menor imposto de quem polui menos, criando o IPI Verde.

Para que as empresas invistam em descarbonização e se enquadrem nos requisitos obrigatórios do programa haverá um incentivo de R$ 3,5 bilhões em 2024, de R$ 3,8 bilhões em 2025, de R$ 3,9 bilhões em 2026, de R$ 4 bilhões em 2027 e de R$ 4,1 bilhões em 2028, que serão convertidos em créditos financeiros, totalizando R$ 19,3 bilhões em créditos concedidos à indústria automotiva e de autopeças. No Rota 2030, o incentivo médio anual até 2022 foi de R$ 1,7 bilhão.

O Mover oferece um avanço em relação ao Inovar Auto e o Rota 2030 e tem como meta reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030, estabelecendo requisitos mínimos para que os veículos saiam das fábricas mais econômicos, mais seguros e menos poluentes.

Entre os avanços está a sua definição como programa de “Mobilidade e Logística Sustentável de Baixo Carbono”, proporcionando a inclusão de todas as modalidades de veículos capazes de reduzir danos ambientais. Também aumenta os requisitos obrigatórios de sustentabilidade para os veículos comercializados no país, como a medição das emissões de carbono “do poço à roda”, considerando todo o ciclo da fonte de energia utilizada.

No caso do etanol as emissões serão medidas desde a plantação da cana até a queima do combustível, passando pela colheita, pelo processamento e pelo transporte entre outras etapas. O mesmo será aplicado para as demais fontes propulsoras, como a bateria elétrica, a gasolina e o biocombustível.

O novo programa prevê, no médio prazo, uma medição ainda mais ampla, conhecida como “do berço ao túmulo”, que valerá a partir de 2027 e vai abranger a pegada de carbono de todos os componentes e de todas as etapas de produção, uso e descarte do veículo.

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento

O novo programa nacional concederá incentivos fiscais em proporção aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com dispêndio mínimo entre 0,3% e 0,6% da Receita Operacional Bruta por ano e cada real investido dará direito a créditos financeiros entre R$ 0,50 e R$ 3,20. Esses créditos poderão ser usados para abatimento de quaisquer tributos administrados pela receita federal no Brasil.

A Medida Provisória do Mover cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT), a ser instituído e gerenciado pelo BNDES, sob a coordenação do MDIC.

A expectativa é de que os investimentos nesses programas alcancem entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões por ano. No Rota 2030, o investimento médio foi de R$ 200 milhões por ano e eram administrados por cinco entidades: Senai, Embrapii, Finep, Fundesp e BNDES.

“Além de ter previsibilidade, o Mover atende os desafios do setor automotivo, não somente as montadoras, mas os fornecedores, que também vão fazer investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, disse Moraes.

“Além do crédito, tem um bônus para investimentos em tecnologia que ajudará na descarbonização, como os biocombustíveis, eletrificação e célula de combustível, e em tecnologias avançadas, como a eletrônica para veículos autônomos e itens de segurança. Quanto mais avançada a tecnologia, maior será o bônus. Tudo isso permite fazer pesquisa básica, pesquisa aplicada, de desenvolvimento experimental, de desenvolvimento de fornecedores, tecnologia de serviços, além de aprimorar os laboratórios e os centros de pesquisa com equipamentos.”

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