Mesmo com as longas distâncias geográficas e culturais, a forte parceria comercial entre China e Brasil deve continuar crescendo. Os investimentos chineses já estabelecidos até agora, que somam US$ 66 bilhões investidos no Brasil nos últimos 14 anos e, ainda, projeções de que companhias chinesas dominarão 50% do e-commerce brasileiro em pouco tempo, mostram que essa cooperação deve ser duradoura.
Apesar da grandeza dessa parceria entre as duas potências globais, ainda existem muitos desafios a serem superados, com as operações logísticas tendo um papel fundamental. Entre os desafios presentes, podemos citar as diferenças culturais, a complexidade do ambiente de negócios e as particularidades regulatórias. As peculiaridades do cenário logístico nacional, com suas longas distâncias e concentração no modal terrestre, também se somam a este cenário.
Diante desse cenário, separamos cinco recomendações práticas que podem apoiar as empresas chinesas a aumentar sua competitividade e eficiência logística no Brasil.

1 – Melhorar o aproveitamento de estruturas de armazenagem
Uma estratégia importante é aproveitar o potencial de estruturas logísticas descentralizadas, como Centros de Distribuição (CDs) e hubs (XDs) em regiões estratégicas fora do Sudeste. Embora o foco seja o maior mercado consumidor do país, é possível chegar a uma escala nacional com eficiência de custo e melhor experiência do cliente avançando com CDs e XDs em estruturas no Nordeste e em outros polos regionais. No setor automotivo, por exemplo, há espaço para desenvolver estratégias robustas de inbound to manufacturing (I2M), ou seja, o abastecimento direto das linhas de produção com alto nível de controle, sincronização e qualidade.
2 – Escolher um parceiro local flexível e adaptável
Ter um parceiro logístico que conheça as exigências do mercado brasileiro é essencial para garantir precisão nas entregas, visibilidade da cadeia e custos sob controle. As empresas chinesas estão acostumadas a trabalha com contratos com pagamento sob demanda, logo é necessário que seus parceiros tenham também flexibilidade para se adaptar as flutuações de volume. Um case da DHL Supply Chain com um marketplace de moda ilustra isso: a chegada da empresa ao Brasil exigiu um modelo focado em uma operação de centro de recebimento (receiving center) em que foi necessário construir soluções sob medida, capazes de absorver volumes variáveis, adaptar a operação em tempo real e, ao mesmo tempo, manter o SLA exigido pelo cliente, mesmo durante picos de demanda significativos, assegurando estabilidade operacional e custos competitivos.
3 – Estabelecer suporte jurídico e regulatório de qualidade
As companhias chinesas precisam ter todo o suporte nas áreas jurídica, regulatória e tributária brasileiras, assim como um parceiro logístico que atue com capacidade de implementação rápida de estruturas. No Brasil, o transporte de cargas demanda muitos procedimentos burocráticos em operações domésticas aos quais as empresas chinesas não estão acostumadas. Um operador logístico habituado a operar neste contexto facilita a antecipação de riscos, orienta decisões estratégicas e adapta as soluções às necessidades daquele mercado ou região, assegurando conformidade e eficiência.
4 – Adaptar-se às exigências do e-commerce brasileiro
No e-commerce, o consumidor brasileiro está entre os mais exigentes do mundo em relação aos prazos de entrega. O crescimento sustentável desse mercado continental com mais de 200 milhões de habitantes só é possível com uma logística robusta, bem planejada e adaptada às particularidades regionais. Mas não basta ter a demanda dos consumidores. É preciso ter previsão de venda com a maior acurácia possível, incluindo volume, sortimento e posicionamento de estoque, além de desenhar a melhor solução de armazenagem e transporte. Isso é especialmente importante em períodos de pico de vendas, como a Black Friday. O investimento em tecnologia e automações também é um fator cada vez mais importante para ganhos de eficiência e custos.
5 – Relacionamento e confiança: a chave para bons negócios
Os parceiros logísticos brasileiros devem estar preparados para lidar com diferenças culturais em qualquer negócio, mas isso talvez seja mais importante no relacionamento China-Brasil, onde há diferenças culturais importantes. Além de se adaptar ao estilo de trabalho e às expectativas dos parceiros chineses, as parcerias comerciais exigem encontrar pontos em comum tanto no estilo de trabalho de curto prazo quanto na confiança de longo prazo entre as partes. Os chineses têm um termo “guanxi”, que é um conceito profundo que vai além do networking, focando na confiança mútua, reciprocidade e compromisso de longo prazo. Enquanto a confiança é fundamental para qualquer relacionamento comercial, essa conexão mais profunda entre as partes é um pilar das relações comerciais na China.
A parceria Brasil–China abrange setores econômicos de grande porte, e a logística se coloca como um eixo estratégico nesse processo, desde a entrada das companhias no país até o processo de consolidação nos próximos anos. Para essas grandes companhias, o país não é apenas um mercado consumidor em expansão, mas também uma base aberta à experimentação, colocando o Brasil como um dos principais destinos estratégicos para a internacionalização de marcas chinesas
* Gabriela Guimarães é VP de Novos Negócios e Ícaro Medeiros é gerente de contas para empresas chinesas ambos na DHL Supply Chain Brasil



