COP30: a cabotagem como bússola da descarbonização logística

No Brasil, ainda há uma forte dependência dos modais rodoviários movidos a combustíveis fósseis. Essa realidade resulta de uma combinação de fatores históricos, como o foco na expansão das rodovias durante o processo de industrialização, e estruturais, a exemplo da capilaridade e a flexibilidade do transporte por caminhões

*Por Stephano Galvão,

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, conhecida como COP30, acontece no próximo mês, em Belém (PA). Fomentando à discussão sobre como enfrentar as mudanças climáticas, o evento direciona nosso olhar, especialmente, ao setor de transportes, historicamente responsável por parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa.

No Brasil, ainda há uma forte dependência dos modais rodoviários movidos a combustíveis fósseis. Essa realidade resulta de uma combinação de fatores históricos, como o foco na expansão das rodovias durante o processo de industrialização, e estruturais, a exemplo da capilaridade e a flexibilidade do transporte por caminhões. Além disso, a falta de investimento consistente em outros modais, como ferrovias e hidrovias, contribuiu ao longo dos anos para que as estradas se consolidassem como principal via de escoamento de mercadorias, tanto que, segundo o Relatório Executivo do Plano Nacional de Logística 2025, as rodovias respondem por 65% de toda a movimentação de cargas no Brasil.

De fato, a logística brasileira passou por uma transformação sem precedentes. Mas, por que, mesmo com uma vocação natural para a navegação costeira — considerando os 8,5 mil quilômetros de litoral navegável e a presença de pólos industriais próximos à costa — o modal rodoviário ainda predomina?

Uma das principais explicações está na falta de integração entre os modais. Historicamente, o transporte rodoviário recebeu mais investimentos e incentivos fiscais, enquanto o setor marítimo enfrentou entraves regulatórios, altos custos operacionais e infraestrutura portuária limitada. A percepção de que a cabotagem é mais lenta ou burocrática, somada à carência de terminais intermodais eficientes, também desestimulou sua adoção em larga escala. No entanto, diante da urgência em reduzir emissões e aumentar a eficiência logística, esse cenário começa a se transformar, ao passo que a navegação costeira vem conquistando protagonismo como solução estratégica para a descarbonização e a diversificação da matriz de transportes no país.

Esse segmento ainda requer uma mudança de mentalidade por parte dos tomadores de decisão. A logística brasileira não está apenas nas estradas ou nos ares, ela também navega pelo mar. Reconhecer a cabotagem como uma aliada estratégica é essencial em um contexto em que a competitividade depende cada vez mais de digitalização, integração e eficiência. Somente assim será possível inaugurar um novo ciclo de crescimento logístico mais sustentável e equilibrado.

Além disso, em um cenário em que a sustentabilidade ganha relevância crescente na sociedade e nos negócios, a cabotagem deixa de ser apenas uma alternativa para se tornar um vetor essencial de transformação. Capaz de reduzir até 89% das emissões de CO₂ em comparação ao modal rodoviário — conforme estudo proprietário da Norcoast —, ela se consolida como caminho para um futuro mais competitivo e inovador.

Ao garantir vantagens como maior segurança, previsibilidade e eficiência operacional, a navegação costeira integra uma nova era da logística brasileira. Reconfigurando a matriz de transporte de cargas, ela contribui de forma decisiva para a consolidação de uma logística verde.

A COP30 surge, portanto, como uma oportunidade estratégica para que o Brasil consolide compromissos e apresente, no cenário internacional, planos concretos para uma logística sustentável. Atuando como ponto de articulação entre investimentos verdes, cooperação internacional e desenvolvimento de políticas regulatórias, a conferência posiciona a navegação costeira como bússola na descarbonização do setor.

*Stephano Galvão é diretor de operações da Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira. Possui mais de 15 anos de experiência no setor de shipping, sendo deles 11 anos trabalhando e liderando equipes em multinacionais no exterior.

Fique por dentro de todas as novidades do setor de transporte de carga e logística:
➡️ Siga o canal da Transporte Moderno no WhatsApp
➡️ Acompanhe nossas redes sociais: LinkedInInstagram e Facebook
➡️ Inscreva-se no canal do Videocast Transporte Moderno

Veja também