Semicondutores: fábricas de caminhões e ônibus no Brasil estão em alerta diante de nova crise global

Segundo a Anfavea, escassez de semicondutores eleva risco de paralisação na produção; montadoras monitoram cadeia de fornecedores

Aline Feltrin

A indústria automotiva brasileira acompanha com atenção uma nova crise global de semicondutores que ameaça interromper a produção de veículos, incluindo caminhões e ônibus, no país em questão de semanas. A preocupação foi reforçada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que alerta para o risco de paralisação das fábricas e reforça a necessidade de ação do governo federal.

A nova escassez decorre de tensões geopolíticas recentes, após o governo holandês assumir o controle da Nexperia, fabricante de semicondutores subsidiária de um grupo chinês. Em retaliação, a China impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos, afetando a produção de veículos na Europa e colocando em risco o abastecimento de fabricantes no Brasil.

“Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental buscar uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda”, afirmou em comunicado, o presidente da Anfavea, Igor Calvet.

Um veículo moderno utiliza, em média, entre 1 mil e 3 mil chips. Sem esses componentes, as linhas de produção não conseguem operar. A entidade afirma que já alertou o governo sobre a necessidade de medidas rápidas e decisivas para evitar desabastecimento crítico.

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Impactos e complexidade do fornecimento

O coordenador de cursos da área automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, explicou ao portal Transporte Moderno que o risco de paralisação não decorre apenas da crise geopolítica envolvendo a Holanda e a China. “Existe também uma redução da produção de autopeças na Europa motivada pelo aumento da competitividade de fornecedores chineses e por dificuldades de exportação para mercados como os Estados Unidos e a China”, explica.

Para Martins, a consequência é dupla: além da questão pontual dos semicondutores, a redução de produção de autopeças europeias pode afetar a indústria brasileira, que importa parte desses componentes das matrizes internacionais. “Embora ainda não sintamos diretamente os efeitos no Brasil, a dependência de projetos de matriz limita a autonomia das fábricas locais”, afirma. Ele também observa que nem todas as fabricantes são igualmente impactadas.

Perspectivas e cautela

Apesar da preocupação, Martins aponta que nem todos os alertas correspondem a problemas imediatos de abastecimento. “Algumas fábricas podem estar utilizando a narrativa da escassez de semicondutores para justificar ajustes internos de produção. O efeito geopolítico é real, mas o impacto direto ainda é incerto”, diz.

Martins aponta que no cenário europeu fabricantes como Bosch, ZF e Continental estão reduzindo quadro de funcionários e capacidade de produção, um reflexo da pressão competitiva chinesa. “No Brasil, a entrada de produtos chineses ainda é limitada, sem afetar significativamente componentes de maior valor agregado.”

A Anfavea e o professor da FGV concordam que a situação exige acompanhamento contínuo. A indústria brasileira de caminhões e ônibus, embora ainda não impactada diretamente, observa com atenção os desdobramentos da disputa global por semicondutores, que pode definir a estabilidade da produção nacional nos próximos meses.

Consultadas pelo portal Transporte Moderno, a Volvo informou em nota que “está monitorando de perto essa questão e iniciou o mapeamento da cadeia de fornecedores para avaliar eventual impacto”. Já a Mercedes-Benz afirma que “está em contato constante com seus fornecedores e, atualmente, não há impacto na produção”. As demais fabricantes de caminhões e ônibus ainda não haviam se manifestado até o fechamento desta reportagem.

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