Importações de autopeças continuam em ritmo acelerado

Até setembro, as empresas importaram US$ 18,01 bilhões, 16,1% a mais que em igual período de 2024, e exportaram US$ 6,2 bilhões, o que fez o déficit atingir US$ 11,7 bilhões nos nove meses de 2025, alta expressiva de 21,7%, segundo o Sindipeças

Sonia Moraes

As importações de autopeças permanecem em ritmo acelerado e acumulam de janeiro a setembro US$ 18,01 bilhões, aumento de 16,1% sobre os US$ 15,51 bilhões importados nos nove meses de 2025, conforme mostra o relatório da balança comercial divulgado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

As exportações, embora tenham apresentado aumento de 6,7% com o embarque totalizando US$ 6,2 milhões de janeiro a setembro, ficaram abaixo das importações. Isso fez ampliar significativamente o déficit na balança comercial de autopeças, que totalizou US$ 11,7 bilhões até setembro, aumento de 21,7% sobre o saldo negativo de US$ 9,6 bilhões registrados de janeiro a setembro do ano passado. “O avanço do déficit comercial acende um sinal de alerta para a indústria de autopeças, sobretudo pelo uso intensivo de ex-tarifário”, destaca o Sindipeças.

Desempenho mensal

Em setembro, as importações alcançaram US$ 2,2 bilhões, com aumento de 2,3% sobre agosto deste ano (US$ 2,16 bilhões) e de 23,0% em relação a setembro do ano passado, quando atingiu US$ 1,8 bilhão.

As exportações atingiram US$ 792,8 milhões, 16,3% superior a agosto deste ano, quando os embarques atingiram US$ 681,4 milhões, mas ficou 1,5% abaixo de setembro do ano passado (US$ 805,2 milhões).

Com a movimentação menor das exportações, o déficit mensal foi de US$ 1,42 bilhão, aumento de 42,7% sobre o mesmo mês de 2024, refletindo, segundo o Sindipeças, em piora expressiva no saldo da balança comercial de autopeças.

Incertezas no cenário externo

O Sindipeças destaca que, apesar do desempenho positivo das exportações no acumulado do ano, o cenário externo continua marcado por incertezas, especialmente em relação a 2026.

Como ponto de atenção, o sindicato destaca a Argentina, responsável por mais de 38% das exportações brasileiras de autopeças até setembro, que totalizaram 2,3 bilhões, aumento de 21,4% na comparação com igual período de 2024.

“Apesar da recuperação econômica e da melhora recente dos indicadores fiscais e inflacionários, refletida no aumento acumulado de mais de 20% das exportações de autopeças brasileiras para o país vizinho, as tensões políticas e cambiais elevam as incertezas sobre a capacidade do governo de dar continuidade ao programa de reformas econômicas, apontando para o risco de desaceleração no próximo ano.

George Rugitsky, diretor de economia e mercados da Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) e Sindipeças, esclareceu que o aumento de 21,4% nas exportações de autopeças para a Argentina ocorreu porque a Argentina está com o mercado automotivo muito forte. “A maior parcela de autopeças que abastece as montadoras na Argentina é produzida no Brasil e, como elas ativaram a produção de veículos no país vizinho, compraram mais autopeças brasileiras. Mas, não sabemos como ficará o país no próximo ano.”

O Sindipeças cita também que as sobretaxas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros devem afetar o desempenho externo do setor por algum período, a menos que as negociações bilaterais tragam mudanças significativas no curto prazo. Embora o país ainda se mantenha como o segundo principal destino das exportações de autopeças, observa-se queda acumulada de 10,2% nos embarques, de US$ 1,02 bilhão de janeiro a setembro de 2024, para US$ 923,9 milhões nos nove meses de 2025.

O diretor do Sindipeças comentou que grande parcela das exportações de autopeças para os Estados Unidos é para veículos pesados. “Como esta queda é anualizada e o tarifaço veio no meio do ano, existe uma tendência dessa retração aumentar”, disse Rugitsky.

China domina compras de autopeças

No caso das importações, o Sindipeças ressalta a forte e crescente presença da China, impulsionada pela valorização do real e pela reorientação geográfica do comércio em meio ao acirramento da guerra comercial entre China e os Estados Unidos, é algo que tende a se manter em 2026.

Como principal origem das autopeças importadas, a China responde por 18,4% do total importado pelo setor automotivo brasileiro e registra alta de 19,6% no acumulado do ano, com o total de US$ 3,31 bilhões. Em setembro, as empresas importaram US$ 412,4 milhões da China, aumento de 20% em relação a setembro de 2024, e a participação foi de 18,6%, segundo o Sindipeças.

Em entrevista ao portal Transporte Moderno, Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças, esclareceu que vários fatores podem justificar o aumento das importações de autopeças, como a mudança na arquitetura dos veículos mais comercializados no país atualmente, como é o caso dos SUV. “Em razão da busca das montadoras pelo aumento do ticket médio dos veículos, surgiu a necessidade de maior volume de conteúdo importado.”

Outro fator citado está ligado à alteração no comportamento dos atores que compõem a cadeia automotiva, provocada pelos impactos da pandemia. “A nosso ver, a maneira de se fazer gestão do supply chain mudou. Para se prevenir de ameaças no fornecimento, as empresas estão aumentando o volume de componentes importados, enquanto analisam oportunidades de localização no país”, disse Sahad e ressaltou: “A transição do off-shore para on-shore leva tempo e isso pode explicar essa reação defensiva por parte expressiva de montadoras e fabricantes de autopeças.”

O presidente do Sindipeças destacou que “ainda que o dólar se encontre elevado, a possibilidade de se fazer algum tipo de arbitragem com taxa de juros, que também está muito elevada, permite que as empresas compensem, se não na totalidade, ao menos em parte, os custos mais altos das importações por meio de operações no mercado financeiro.”

Sahad comentou que os resultados da balança comercial brasileira de autopeças são bastante dinâmicos, como em todos os setores internacionalizados. “Para podermos exportar mais e aproveitar as oportunidades trazidas pelo chamado nearshoring, temos de ser ainda mais competitivos.”

Destaques das importações

Nas importações provenientes de 163 países, a China ocupa o primeiro lugar no ranking com US$ 3,31 bilhões de janeiro a setembro de 2025, aumento de 19,6% e 18,4% de participação.

Os Estados Unidos continuam em segundo lugar, com US$ 1,89 bilhão de componentes enviados ao Brasil, aumento de 12,5% e 10,5% de participação. O Japão é o terceiro no ranking de vendas de componentes ao Brasil, com US$ 1,66 bilhão, aumento de 29,5% e 9,2% de participação.

A Alemanha ocupa o quarto lugar no ranking, com US$ 1,59 bilhão de componentes enviados ao Brasil, aumento de 9,6% e 8,8% de participação. O México enviou para o Brasil US$ 1,34 bilhão, aumento de 23% em relação a janeiro a setembro do ano passado, e a participação foi de 7,5%.

Destaque das exportações

Nas exportações destinadas a 194 países, a Argentina permanece como o principal destino das autopeças, com US$ 2,38 bilhões, aumento de 21,4% sobre janeiro a setembro de 2024 e 38,3% de participação nos embarques.

Os Estados Unidos continuam em segundo lugar no ranking das exportações, com US$ 923,9 milhões e 14,8% de participação, mas a redução foi de 10,2% até setembro deste ano.

O México está em terceiro lugar de destino das autopeças, com embarque de US$ 554,8 milhões, redução de 20,5% e 8,9% de participação. A Alemanha teve um total de US$ 329,9 milhões de autopeças adquiridas das empresas no Brasil, aumento de 8,0% e 5,3% de participação.

Para o Chile, os embarques aumentaram 14,4% em relação aos nove do ano passado, totalizando US$ 199,8 milhões e a participação foi de 3,2%.

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