Faltam motoristas ou boas iniciativas das transportadoras?

Antes de culpar o setor, a economia ou o governo, cada transportadora precisa olhar para dentro e fazer o próprio diagnóstico. O que a sua empresa está fazendo para ser atrativa para o motorista? O que está oferecendo de diferente?

Leonardo Busin, CEO da Buzin Transportes

A suposta falta de motoristas no transporte rodoviário de cargas virou um tema recorrente. Está em palestras, manchetes e redes sociais. Falam em “apagão de motoristas”, em colapso do setor e em risco para o futuro da logística. Mas será que essa falta realmente existe? Na minha visão, não é bem assim.

O que há hoje é uma falta generalizada de mão de obra em praticamente todos os setores da economia. É um reflexo de algo muito maior: as pessoas estão desinteressadas de trabalhar em qualquer área, não apenas no transporte. O motorista é mais um dentro dessa realidade. Mas o problema não é escassez — é a mudança de perfil.

As empresas que não entenderam isso acabam repetindo o discurso de que “motorista acabou”, quando, na verdade, o que acabou foi o modelo antigo de lidar com eles. Na Buzin Transportes, por exemplo, recebemos em média 200 currículos por dia. É claro que muitos não servem para a operação específica, não têm experiência ou habilitação compatível, mas esse número prova uma coisa: há motoristas no mercado.

A questão é que eles não querem trabalhar em qualquer empresa. Eles querem trabalhar onde se sentem respeitados, onde são tratados com dignidade e onde sabem que receberão o suporte necessário. Então, se na sua empresa está difícil contratar, o problema não é o mercado — é o seu modelo de gestão.

Talvez esteja faltando atratividade, comunicação e uma cultura organizacional adequada. É essencial mostrar para o motorista que ele é parte importante do negócio.

O motorista de hoje não é o mesmo de décadas atrás. Antigamente, além de motorista, era mecânico: resolvia qualquer problema na estrada, trocava pneu, consertava caminhão, fazia o que fosse preciso. Mas os tempos mudaram. O transporte evoluiu. Os veículos estão mais tecnológicos, os processos mais exigentes, e o motorista passou a ser um profissional que precisa de apoio, estrutura e treinamento — não alguém abandonado com um caminhão quebrado no meio da estrada.

Cabe à empresa dar esse suporte, oferecer condições adequadas de descanso, comunicação e segurança. Muitos gestores ainda operam como se estivessem 50 anos no passado — e reclamam que os motoristas não são mais como antigamente.

Mas o problema é justamente esse: o motorista evoluiu, e a transportadora não. Hoje ele busca ambiente de trabalho digno, valorização real, remuneração compatível e respeito. Ele quer sentir que faz parte de algo maior. As empresas que entenderem isso primeiro vão atrair e reter os melhores talentos do mercado.

Antes de culpar o setor, a economia ou o governo, cada transportadora precisa olhar para dentro e fazer o próprio diagnóstico. O que a sua empresa está fazendo para ser atrativa para o motorista? O que está oferecendo de diferente?

Quantos motoristas já indicaram sua empresa para colegas porque gostaram de trabalhar com você? A verdadeira escassez não é de motoristas — é de empresas que saibam motivar e valorizar esses profissionais.

Não é à toa que algumas transportadoras vivem dizendo que não encontram ninguém, enquanto outras têm fila de espera de candidatos querendo fazer parte.

A diferença está em como cada uma trata o seu pessoal, na forma como se comunica e se posiciona. Hoje, o motorista não busca apenas salário: ele busca respeito, estrutura e reconhecimento.

O discurso de “apagão de motoristas” rende manchete, mas pouco resolve. O que realmente faz diferença é agir internamente. As transportadoras precisam parar de acreditar em notícias sensacionalistas e focar no básico: gestão de pessoas, ambiente saudável e comunicação transparente.

Existem muitos especialistas que nunca pisaram numa transportadora falando do “fim dos motoristas”. Mas quem vive isso na prática sabe que o problema não é falta de gente, e sim de visão de gestão.

A lição é simples: antes de reclamar da escassez, crie um ambiente onde o motorista queira estar. Faça o seu dever de casa, melhore sua cultura, cuide da comunicação e seja motivo de orgulho para quem veste a camisa da sua empresa.

Quando cada transportadora entender que valorizar o motorista é investir no próprio futuro, esse papo de falta de mão de obra vai desaparecer. Porque motorista tem — o que falta é empresa preparada para merecê-los.

Sobre o autor

Leonardo Busin é CEO da Buzin Transportes, empresa com 58 anos de atuação e referência em soluções de logística e transporte no Brasil.
Com mais de 15 anos de experiência no setor, ele cresceu dentro da companhia, passando por diferentes áreas e projetos — da operação à direção. Sua trajetória é marcada pela gestão estratégica, liderança de equipes, inovação e melhoria contínua, sempre com foco em motivar as pessoas e promover uma cultura organizacional sólida e inspiradora.

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