Brasil terá laboratório de testes de combustíveis alternativos para motores de locomotivas

Segundo professor da Unicamp, o local permitirá ensaios controlados de diferentes matrizes energéticas em motores de grande porte, oferecendo resultados mais rápidos e econômicos do que testes em campo

Aline Feltrin

A Unicamp e a consultoria Sysfer ciraram o projeto de um laboratório pioneiro no Brasil para testar motores de locomotivas com combustíveis alternativos, como biodiesel, etanol, hidrogênio e gás natural. A informação foi revelada pelo professor Auteliano Antunes dos Santos Junior, titular da universidade, nesta terça-feira (7), durante painel sobre inovações de engenharia no setor ferroviário do Congresso SAE Brasil 2025,

O laboratório batizado de “Idea Rail” será instalado em Campinas (SP) e já conta com apoio das operadoras ferroviárias, via Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) .Segundo o professor da Unicamp, o que ainda falta para viabilizar o início das operações é o financiamento do governo federal, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que deve complementar os recursos necessários, estimados entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões. A expectativa é que, após a liberação da verba, os primeiros testes possam ocorrer em 2026.

“Nem sempre conseguimos testar tudo o que gostaríamos, e os mercados hoje são globais. Essa instalação vai permitir que a indústria nacional valide tecnologias e combustíveis de forma competitiva”, afirmou Santos Junior.

O laboratório permitirá ensaios controlados de diferentes matrizes energéticas em motores de grande porte, oferecendo resultados mais rápidos e econômicos do que testes em campo. Segundo o professor, a iniciativa tem potencial para se tornar um centro de referência nacional em pesquisa e certificação, unindo indústria, academia e governo na busca por soluções de baixo carbono para o transporte ferroviário.

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Ferrovia e descarbonização

O setor ferroviário brasileiro aposta que a transição energética do transporte também passará pelos trilhos. Entidades que representam tanto o transporte de cargas quanto de passageiros defendem que a expansão da malha ferroviária, em substituição ao transporte rodoviário — mais poluente e dependente de combustíveis fósseis —, já representa um passo decisivo para a redução de emissões do setor.

Paulo Maurício Costa Furtado Rosa, diretor de engenharia da Amsted Rail, afirmou durante o painel do Congresso SAE que fabricantes de locomotivas já têm realizado testes com modelos híbridos, movidos a baterias de alta capacidade e hidrogênio, tecnologias que estão em fase de experimentação nos Estados Unidos e na Europa.

Segundo ele, o setor ferroviário segue o mesmo caminho da indústria automotiva, buscando alternativas que reduzam emissões e aumentem a eficiência do transporte sobre trilhos.

“Existem motores com faixa de emissão extremamente baixa de poluentes, e o biodiesel já pode ser utilizado em locomotivas, mantendo a manutenção e o abastecimento dentro dos padrões atuais. A solução está sendo pesquisada, mas ainda falta a aplicação prática direta”, explicou Rosa.

O objetivo é ampliar o leque de opções de combustíveis na matriz ferroviária, desenvolvendo tecnologias que poluam menos e aumentem a capacidade de transporte.

Atualmente, o transporte é responsável por cerca de 11% das emissões de gases de efeito estufa no país, equivalentes a 260 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (MtCO₂e) por ano, segundo a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes. A iniciativa, que reúne mais de 50 associações, empresas e instituições acadêmicas, apresentou em maio deste ano ao governo federal um plano que propõe reduzir em até 70% as emissões setoriais até 2050 e atrair mais de R$ 600 bilhões em investimentos verdes.

Entre as medidas recomendadas está melhorar o mix da matriz de transporte, atualmente concentrada no modal rodoviário, e expandir o transporte ferroviário, mais eficiente em consumo energético e emissões, contribuindo para a competitividade logística do país.

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