Dia do Caminhoneiro: categoria enfrenta insegurança e falta de valorização

Na data que homenageia os motoristas de caminhão, dados expõem longas jornadas, riscos nas estradas e dificuldade em atrair novos profissionais para o transporte rodoviário

Aline Feltrin

O Brasil celebra o Dia do Caminhoneiro em três datas diferentes: 30 de junho, em homenagem ao estado de São Paulo; 25 de julho, dedicada a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas; e 16 de setembro, escolhida por diversos estados e lembrada em todo o país. Apesar de sustentar a maior parte da logística nacional, os profissionais ainda enfrentam condições precárias de trabalho, insegurança nas estradas e falta de valorização.

Anderson Klebersan Perlini, 49 anos, está há mais de 33 anos na estrada. Ele dirige um caminhão Volkswagen 9-150, modelo 2008, baú, transportando cabeceiras e estofados entre Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Depois de duas décadas em carretas cegonheiras, hoje prefere rotas mais curtas para ficar próximo da família.

Mesmo com experiência e dedicação, Perlini enfrenta desafios diários comuns a muitos colegas. “O que sinto hoje é o mau atendimento nos postos de combustível. Os banheiros são precários, mesmo quando pagos, e o financiamento é quase impossível para quem é pequeno. Grandes empresas conseguem condições melhores”, relata à reportagem do portal Transporte Moderno.

Os dados mais recentes da Pesquisa CNTA, confederação que representa a categoria no país, confirmam a dimensão desses obstáculos. A idade média da frota é superior a 11 anos, e apenas 15% dos caminhões possuem seguro, embora 82% tenham rastreadores. O custo médio para trocar de veículo chega a R$ 215 mil, inacessível para muitos motoristas autônomos — exatamente o que Anderson enfrenta.

As condições difíceis se refletem na insatisfação da categoria: quase metade dos profissionais (46%) pensa em deixar a profissão. Problemas de saúde, como dores na coluna (40%), hipertensão (28%) e obesidade (23%), evidenciam o desgaste físico e emocional da rotina na estrada.

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Expansão da logística e escassez de motoristas

Enquanto os caminhoneiros enfrentam essas dificuldades, a demanda por transporte cresce. Segundo o Banco Nacional de Empregos (BNE), o Brasil abriu 6,4 mil vagas para motoristas no primeiro semestre de 2025, quase 90% do total registrado em 2024. O setor, impulsionado pelo e-commerce, registrou alta de 15,84% na criação de postos.

O problema é que a base de profissionais diminuiu: dados do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) mostram queda de 5,5 milhões em 2014 para 4,4 milhões em 2024 — redução de 1,1 milhão. Mais de 75% das novas contratações concentram-se em motoristas de 31 a 50 anos, revelando a dificuldade de atrair jovens para a profissão.

“O crescimento da logística aumenta rapidamente a demanda por motoristas, mas a redução do número de profissionais e a falta de renovação geracional são desafios críticos para o setor”, afirma José Tortato, COO do BNE.

Segurança em debate no Congresso

A preocupação com segurança também é central. Segundo a pesquisa da CNTA, 46% dos caminhoneiros já sofreram roubo de carga, e apenas 37% se sentem seguros nas estradas. “Mesmo com rastreamento, quadrilhas ainda roubam caminhões para retirar pneus ou módulos de Arla. Sofremos muito com isso”, reforça Perlini.

Diante desse cenário, a CNTA pressiona o Congresso por leis mais duras contra o roubo de cargas. Em audiência pública na Comissão de Viação e Transportes, a entidade defendeu o PL 1743/2025, do deputado Maurício Neves, que prevê cadastro nacional de roubos de cargas, penalidades mais severas para furto, roubo e receptação, e a proibição de bloqueadores de sinal (“jammers”), usados por criminosos para driblar rastreadores.

(Foto: Divulgação)

O roubo de cargas segue como uma das principais ameaças à logística brasileira. Um estudo recente da ICTS Security, empresa especializada em segurança, analisou dados de 2023 e 2024. O levantamento revela um cenário paradoxal: embora o número total de roubos tenha caído 11% em 2024, o prejuízo financeiro disparou, atingindo R$ 1,217 bilhão — aumento de 21% em relação ao ano anterior.

O estudo mostra que as quadrilhas estão priorizando cargas de alto valor agregado e de rápida revenda, como alimentos, cigarros, eletroeletrônicos, medicamentos e cosméticos, ampliando o impacto financeiro das ações mesmo com menos ataques.

O Sudeste continua como epicentro dos crimes, concentrando 83,6% dos prejuízos nacionais. São Paulo responde por 47,2% das perdas, seguido por Rio de Janeiro (18,7%) e Minas Gerais (14,2%). No entanto, o Nordeste teve aumento de participação, passando de 8,3% para 11,7%, com destaque para os corredores logísticos de Pernambuco, Maranhão e Bahia.

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