Portos de SC crescem 7,9% em 2025 e operam 1 em cada 5 contêineres do Brasil

Estado cresce acima da média nacional na movimentação de cargas e aposta em ferrovias para integrar modais

Aline Feltrin

Santa Catarina consolidou-se como um dos principais polos logísticos do Brasil, sustentado pela performance de seus cinco portos — Itajaí, Navegantes, São Francisco do Sul, Itapoá e Imbituba — e por um novo ciclo de investimentos em infraestrutura. No primeiro quadrimestre de 2025, o estado registrou a maior expansão na movimentação de cargas do país, com alta de 7,93%, acima da média nacional, segundo dados da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias e da Antaq.

Hoje, a cada cinco contêineres operados no Brasil, um passa pelos portos catarinenses, que lideram a movimentação de cargas no Sul. O destaque foi o Porto Itapoá, com 489,8 mil TEUs e a terceira maior movimentação do país, seguido pela Portonave (348,1 mil TEUs, quarta colocada). O Porto de Itajaí movimentou 73,6 mil TEUs e o de Imbituba, 37,4 mil TEUs. Já São Francisco do Sul registrou 5,7 milhões de toneladas no quadrimestre e acumulou 8,7 milhões de toneladas no semestre, avanço de 6% em abril frente a 2024.

No total, os portos do estado movimentaram 21,8 milhões de toneladas, reforçando sua relevância para o comércio exterior brasileiro. Para sustentar esse crescimento, o governo estadual aposta em projetos ferroviários, como a Ferrovia dos Portos — que conectará Navegantes a Araquari — e o Corredor Ferroviário de SC, entre Chapecó e Correia Pinto.

“Santa Catarina tem um conjunto de fatores que transformam o estado em referência nacional em gestão logística portuária: infraestrutura moderna, eficiência operacional e integração multimodal. O desafio é manter previsibilidade nos investimentos e replicar boas práticas para o Brasil”, afirma Erick Isoppo, CEO da IDB do Brasil Trading.

Paradoxo logístico

O avanço, porém, expõe um paradoxo logístico: a infraestrutura portuária cresce mais rápido que os acessos. Hoje, 94% da carga que chega aos portos da região depende de rodovias, sobretudo a BR-101 e a BR-470, ambas classificadas em nível “F”, quando o fluxo é forçado ou interrompido. Apenas 6% seguem por trilhos.

No Brasil, essa classificação é usada em estudos de engenharia de tráfego e transportes. O nível de serviço é atribuído por órgãos como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pelas rodovias federais; por empresas de consultoria contratadas por órgãos públicos, que aplicam metodologias baseadas na Highway Capacity Manual (HCM) ou normas brasileiras equivalentes; e, em estudos estaduais ou regionais,pela Secretaria de Infraestrutura ou de Transportes do estado, com base em medições de tráfego e congestionamento.

O nível F indica o pior desempenho possível, quando o fluxo é praticamente interrompido ou totalmente congestionado, com alta densidade de veículos e velocidades muito reduzidas. Temos portos eficientes e modernos, mas sem resolver a multimodalidade, Santa Catarina corre o risco de perder competitividade”, diz Beto Martins, secretário do Estado de Santa Cataria de Portos, Aeroportos e Ferrovias

Para Martins, o estado já avança rumo à logística mais integrada. Durante a abertura da feira Logistique, realizada em Balneário Camboriú (SC) em agosto de 2025, ele destacou a criação da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias de Santa Catarina, a única do país com gestão dedicada a todos os modais, modelo que se tornou referência nacional.

Salto logístico no complexo de Babitonga

Enquanto não há uma resolução para aprimorar os entraves logísticos por rodovias e ferrovias, os portos se organizam para aumentar a produtividade e a capacidade. O Complexo Portuário da Babitonga, formado pelo Porto Itapoá e pelo Porto de São Francisco do Sul, deve alcançar um novo patamar de competitividade a partir de 2026. Uma obra de dragagem e alargamento do canal de acesso, orçada em R$ 325 milhões, permitirá a entrada de navios porta-contêineres de até 366 metros — os maiores que operam na costa brasileira — totalmente carregados, reduzindo custos e tempo de operação.

“Essa é uma obra estratégica para o presente e para o futuro”, afirmou Cleverton Vieira, CEO do Porto de São Francisco do Sul, em entrevista à Transporte Moderno durante a feira Logistique realizada em Balneário Camboriú (SC) em agosto de 2025. Segundo o executivo, o projeto deve dobrar a movimentação anual de contêineres do terminal privado em dez anos — de 1,5 milhão para quase 3 milhões de TEUs —, tornando-o o maior do Brasil. A expectativa é que o impacto no mercado de trabalho também seja expressivo, com o número de empregos diretos e indiretos na região saltando dos atuais 8 mil para cerca de 40 mil.

A dragagem será viabilizada por um modelo inédito de financiamento no setor portuário brasileiro. Sem contar com recursos do PAC e após negativa do governo federal, o Porto Itapoá emprestará R$ 300 milhões ao Porto de São Francisco do Sul. O pagamento será feito ao longo de 10 a 12 anos, por meio de tarifas adicionais geradas pelo aumento do tráfego de navios. O contrato já foi validado pelo Ministério de Portos e Aeroportos (Mpor).

A multinacional belga Jan De Nul venceu a licitação. O cronograma prevê início das obras em novembro de 2025, após dois meses dedicados ao projeto executivo. “O prazo de execução é de dez meses, com possibilidade de entrega antecipada para meados de 2026”, revelou o executivo.

Desde 2023, quando a atual gestão assumiu o Porto de São Francisco do Sul, melhorias operacionais vêm sendo implantadas. Entre elas, a instalação de duas novas balanças e sistemas automatizados de controle, que reduziram gargalos e elevaram a capacidade de atendimento para 1,5 mil caminhões por dia — acima da demanda atual de mil veículos.

“Essas mudanças destravaram investimentos e nos permitiram crescer quase 35% na movimentação de cargas entre 2023 e 2024, o maior avanço proporcional entre os portos públicos do país”, diz Vieira. O porto também destinou R$ 20 milhões à modernização tecnológica, com novas câmeras, servidores e integração de sistemas com cooperativas de transporte e a Receita Federal.

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