A nova edição do Barômetro da Infraestrutura, levantamento semestral conduzido pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) em parceria com a consultoria EY-Parthenon, mostra uma reconfiguração nas intenções de investimento no setor. Pela primeira vez após sete edições, as rodovias superaram o saneamento básico e passaram a ocupar a liderança no ranking de segmentos com maior expectativa de aporte nos próximos três anos, com 46,6% das respostas — alta de 11,2 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior.
Segundo os organizadores, o avanço reflete uma maior oferta de projetos por parte dos governos federal e estaduais. “O crescimento das rodovias se deve a uma série de anúncios de novos projetos, ampliando as oportunidades para investidores”, afirma Gustavo Gusmão, sócio da EY-Parthenon responsável pela área de Governo e Infraestrutura. O saneamento, que liderava o ranking desde a sanção do novo marco legal em 2020, cedeu espaço após um hiato nas licitações observado até o início de 2025.
Ainda assim, o setor continua entre os prioritários, impulsionado pela realização da COP 30 no Brasil, o que acelerou, por exemplo, o leilão de universalização do saneamento no Pará. Por outro lado, a agenda ambiental parece não ter inibido o avanço das intenções de investimento em petróleo, movimento atribuído a um ceticismo do mercado em relação à eficácia das políticas de transição energética. “O setor ainda não vê entregas consistentes por parte do governo federal nessa frente”, afirma Gusmão.
Outro destaque do estudo é o crescimento nas expectativas de investimento em ferrovias, que saltaram de 24,1% para 32,6%. Para os analistas, o dado reflete maior disposição em destravar projetos e renegociar concessões, embora não se traduza, necessariamente, em expansão efetiva da malha ferroviária.
Estados lideram ações pró-investimento
Os governos estaduais seguem como principais motores da pauta de infraestrutura no país. Pela quarta edição consecutiva, eles foram avaliados como os mais ativos na adoção de medidas para viabilizar investimentos, superando os entes federais e municipais. Para Gusmão, a maior agilidade na estruturação e aprovação de projetos explica esse protagonismo. “O Estado consegue ser mais ágil, mas esse desempenho só é possível com apoio do governo federal na estruturação das concessões”, pontua.
Apesar do crescimento das intenções em áreas específicas, o estudo indica queda no otimismo geral do setor. A proporção de entrevistados que acredita em um cenário favorável para investimentos caiu de 52,9% para 40,6%. Ao mesmo tempo, aumentou de 20,4% para 30,7% a fatia dos que enxergam um ambiente desfavorável.
Entre os fatores apontados estão a taxa de juros elevada, atualmente na casa dos 15%, a insegurança fiscal e a tributação sobre debêntures de infraestrutura. “Esses entraves internos são mais relevantes que questões como o câmbio ou o cenário geopolítico global. Quando os custos de capital sobem, os investimentos são inibidos, o que compromete o crescimento econômico”, alerta Gusmão.
Esse ambiente também impacta as expectativas sobre o desempenho econômico do país. O percentual de entrevistados com visão pessimista para os próximos seis meses saltou de 18,7% para 35%. Já os otimistas recuaram de 31,7% para 19,3%.
Agências reguladoras enfraquecidas
Outro alerta do levantamento diz respeito ao enfraquecimento das agências reguladoras. Metade dos entrevistados avaliou como “péssima” a atuação do governo federal na garantia de segurança jurídica e regulação adequada. Apenas 6,4% deram notas positivas — sendo 5,8% “boa” e apenas 0,6% “ótima”.
Segundo Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da ABDIB, a escassez de recursos e de pessoal tem comprometido o papel das agências e de órgãos como o Ibama. “O investimento em infraestrutura exige regras claras, segurança jurídica e governança. Sem agências fortalecidas, o setor perde previsibilidade”, ressalta.
Inteligência artificial ainda engatinha no setor
Apesar do forte interesse que a inteligência artificial (IA) tem despertado em diversos setores da economia, sua adoção na infraestrutura brasileira ainda é limitada. De acordo com o Barômetro, 57,2% das empresas estão em estágio embrionário de uso da tecnologia em processos internos, enquanto 23,7% relatam estágio intermediário.
Na oferta de serviços e produtos, o cenário é ainda mais incipiente: 52,3% das companhias disseram estar em estágio inicial e 29,5% sequer iniciaram a incorporação da tecnologia. “Há curiosidade e reconhecimento do potencial, mas o uso efetivo da IA no setor ainda é bastante pequeno”, reconhece Gusmão.
O Barômetro da Infraestrutura Brasileira é realizado semestralmente pela EY-Parthenon, unidade de estratégia e transações da EY, em parceria com a ABDIB. O levantamento capta a percepção de executivos, investidores e especialistas que atuam na estruturação de projetos. A 13ª edição foi realizada de forma digital entre 13 de maio e 3 de junho de 2025, com 329 participantes.
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