Estudos clínicos ganham força e impulsionam expansão logística da Thermo Fisher

Com uma receita global superior a US$ 40 bilhões, a empresa expandiu suas instalações no Brasil dedicadas ao fornecimento logístico para estudos clínicos

Valeria Bursztein

No multimilionário setor farmacêutico, que registrou um faturamento de R$ 229 bilhões em 2024, segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), um segmento vem ganhando cada vez mais destaque: o de estudos clínicos. De acordo com a consultoria Fortune Business Insights, esse mercado movimentou US$ 316,6 milhões no Brasil no ano passado.

Os estudos clínicos representam uma etapa estratégica para a dinâmica da indústria farmacêutica, pois é nesse momento que novos tratamentos e medicamentos são testados, gerando dados fundamentais para o ecossistema de saúde, tanto no setor público quanto no privado.

O Brasil ocupa atualmente a 19ª posição no ranking mundial de pesquisa clínica, segundo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com potencial para subir nesse índice. Entre 2019 e 2024, o número de estudos clínicos conduzidos no país saltou de pouco mais de 300 para cerca de 500 ao ano, conforme dados da Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (Abraco).

Entre os fatores que favorecem o país estão a ampla diversidade populacional, a presença de centros de pesquisa qualificados e um sistema de saúde estruturado em torno do SUS (Sistema Único de Saúde). Por outro lado, a burocracia e a falta de clareza regulatória ainda representam desafios. Mas esse cenário começou a mudar: em 2024, entrou em vigor a Lei n º 14.874, que estabeleceu princípios, diretrizes e regras para a condução de pesquisas com seres humanos por instituições públicas e privadas.

A nova legislação foi bem recebida pelo setor, dentro e fora do país, reacendendo planos de investimento. É justamente nesse potencial de crescimento que aposta uma das líderes globais em soluções científicas ao ampliar sua capacidade logística para ensaios clínicos no Brasil.

Expansão de capacidade

Com uma receita global superior a US$ 40 bilhões, a Thermo Fisher Scientific expandiu suas instalações no Brasil dedicadas ao fornecimento logístico para estudos clínicos — uma operação que exige precisão e conhecimento técnico rigoroso, já que qualquer falha pode comprometer todo o processo de aprovação de um novo medicamento.

Localizado em São Paulo (SP), o novo armazém da empresa se soma a outras duas estruturas e totaliza agora 3.600 m² de área útil, equipados com câmaras refrigeradas de diversas faixas de temperatura: de 2 a 8°C, de 15 a 25°C, abaixo de -20°C, -70°C, -90°C e uma área dedicada ao armazenamento de produtos ultracongelados em nitrogênio líquido.

“Estamos investindo continuamente em infraestrutura para atender à crescente demanda e acelerar a entrega de terapias inovadoras aos pacientes. O Brasil tem um enorme potencial em pesquisa clínica, com diversidade populacional e profissionais de saúde altamente qualificados. Vemos uma evolução significativa nos últimos anos”, afirma Maria Rodrigues,  gerente geral da área de Ensaios Clínicos da Thermo Fisher no Brasil.

A nova instalação conta com mais de 8 mil posições de armazenagem em ambientes controlados, 10 mil para produtos refrigerados, áreas para congelados, estações de preparação de remessas e duas novas salas para embalagem secundária.

Com os armazéns 28 e 29 próximos à capacidade máxima — cerca de 90% ocupados —, o novo espaço foi projetado para absorver o crescimento orgânico da operação no país. Segundo Maria, a empresa cresce entre 10% e 15% ao ano no Brasil e acredita que a nova lei trará ainda mais dinamismo ao setor. “Estamos otimistas com a possibilidade de aprovações mais ágeis, o que naturalmente atrai mais investimentos em pesquisa clínica no país.”

Logística aérea e rodoviária

As cargas chegam por via aérea nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e pelo porto de Itajaí, vindas principalmente da Europa e dos Estados Unidos. Já em território nacional, os medicamentos seguem para os centros de pesquisa em caixas térmicas que preservam a temperatura por até 96 horas.

“Não há necessidade de caminhões refrigerados, pois as caixas são projetadas para manter a temperatura durante todo o trajeto”, explica o gerente Latam de Facilities & EHS (Environment, Health and Safety) da Thermo Fisher, Fernando Oliveira.

Mas essa é apenas uma parte da complexidade logística. A operação exige um alto nível de especialização, especialmente nos chamados estudos cegos, que utilizam placebos e exigem procedimentos rigorosos de sigilo e controle.

“Há estudos abertos, em que se sabe o que está sendo transportado. Mas nos cegos, apenas profissionais pré-designados nos centros clínicos podem receber os materiais, em horário e local pré-definidos. As notas fiscais e as listas de picking e packaging vêm sem identificação do conteúdo. Um único erro pode comprometer toda a pesquisa”, ressalta Maria.

Esse processo, chamado ‘controle do cegamento’, exige uma operação extremamente precisa e documentada, com todos os materiais “cegados”, inclusive as embalagens secundárias.

Nova frente de negócio

A ampliação da infraestrutura também viabiliza uma nova frente de negócios no país: a compra e distribuição de medicamentos comparadores — fármacos já disponíveis no mercado e utilizados como referência nos estudos clínicos.

“Inauguramos uma distribuidora licenciada para compra e venda desses medicamentos. Por exemplo, em um estudo clínico para um novo tratamento contra o câncer, o medicamento em teste geralmente é enviado com um comparador já aprovado, para que se avalie a eficácia. Agora, podemos adquirir esses produtos diretamente no mercado brasileiro”, destaca Maria.

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