“Tenho pena de quem trabalha apenas por dinheiro”, disse o fundador da TAM à revista Transporte Moderno em 1995

Na época, a companhia aérea registrava crescimento acelerado. Só nos primeiros nove meses daquele ano, o lucro havia subido 390%. A frota era composta por 30 jatos Fokker 100

Aline Feltrin

Na edição de dezembro de 1995, o então editor-chefe da Transporte Moderno, Ariverson Feltrin, entrevistou uma das figuras mais marcantes da aviação brasileira: Rolim Adolfo Amaro, fundador da TAM, que hoje se chama LATAM. O encontro com o comandante — que mais parecia uma conversa de hangar do que uma entrevista formal — revelou o estilo direto e visionário de quem transformou uma pequena companhia regional na maior empresa aérea do país nos anos 1990.

Sentado em sua sala, com três secretárias instruídas a não interrompê-lo por telefone, Rolim falou por 90 minutos sobre tudo: do polêmico Sivam ao transporte rodoviário, da agricultura à sua paixão pela aviação. Mais do que um empresário, ele se revelou um gestor com alma de piloto e vocação de servidor.

“Tenho pena de quem trabalha apenas por dinheiro. Salário é complemento, mas não é o básico”, disse ele, explicando a cultura organizacional da TAM, centrada em ética, simplicidade e poder de decisão na ponta. “A TAM é informal, não tem regras escritas, mas dá poder aos funcionários.”

Para Rolim, o segredo do sucesso não estava no marketing complexo, mas na clareza da proposta ao cliente. “O cliente só entende coisas simples”, dizia. Foi com esse espírito que criou um programa de fidelidade direto ao ponto: “voou 10 vezes, ganha uma passagem”.

Mas sua simplicidade não se confundia com ingenuidade. Aos 53 anos, controlava 97% da TAM e conhecia cada detalhe do negócio. Supervisionava contratações pessoalmente, rejeitando profissionais “generalistas” e valorizando vocação e foco. Também não economizava críticas. “Trabalhei a vida toda com capital de terceiros. Cansei de banqueiros”, afirmou, em uma frase que sintetiza sua aversão ao sistema financeiro.

Na época, a TAM registrava crescimento acelerado. Só nos primeiros nove meses de 1995, o lucro havia subido 390%. A frota era composta por 30 jatos Fokker 100 e mais de 3,5 milhões de passageiros haviam voado com a empresa no ano, muitos deles pela primeira vez — graças aos pacotes populares com hotéis no Nordeste.

Sobre voos internacionais, foi taxativo: “Quero fazer o brasileiro conhecer o Brasil”. E sobre concorrência com o transporte rodoviário, admitiu: “Um complementa o outro”, mas criticou o subsídio ao diesel, que, segundo ele, favorecia os ônibus.

O comandante também revelou seu lado multifacetado: dirigia um time de futebol (XV de Piracicaba), mantinha uma fundação educacional e cultivava soja em uma fazenda no Pantanal. “Não preciso de muito dinheiro. Vivo de um salário equivalente ao de um piloto. Sou homem de hábitos simples”, disse, revelando que seus carros eram um Volkswagen 1600 e um Corsa.

Inflação e Plano Real

Em tempos de inflação domada pelo Plano Real, Rolim via otimismo no ar: “O brasileiro precisa ter oportunidade de sonhar. O Real melhorou a autoestima nacional.”

Sem intenção de se aventurar na política, deixou claro seu ceticismo com os partidos: “Falta ao político coragem para tomar a iniciativa, daí o grande divórcio com a população.”

Rolim faleceu em 2001, mas seu legado permanece no imaginário da aviação e do transporte brasileiro. A entrevista à Transporte Moderno é um retrato vívido de um comandante que não só pilotava aviões — mas inspirava ideias, pessoas e um país inteiro a decolar.

(Acervo OTM Editora)

Clique aqui para ler a entrevista completa na edição nº 372 da Transporte Moderno, disponível no acervo digital da OTM Editora.

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