Na edição n° 367 da Transporte Moderno, publicada em abril de 1995, os jornalistas Ariverson Feltrin e Valdir Santos entrevistaram o então presidente da Mercedes-Benz Brasil, Rolf Eckrodt. O executivo, que assumiu a liderança da empresa em 1992, quando a marca registrou seu primeiro prejuízo após mais de 30 anos de operação no país, compartilhou sua visão sobre o futuro da companhia.
Segundo Eckrodt, a Mercedes-Benz experimentou grande sucesso até 1992, quando, surpreendentemente, registrou um prejuízo de US$ 50 milhões. “Em 1993, voltamos a ter lucro, com US$ 28 milhões, e em 1994, o desempenho melhorou significativamente, alcançando um lucro líquido de US$ 154 milhões. Esse resultado foi fundamental para estabelecer uma base sólida para as mudanças que estamos implementando”, afirmou. Para o executivo, o lucro foi a alavanca que permitiu à empresa promover transformações estruturais e estratégicas essenciais para o seu crescimento.
Ele destacou que a Mercedes-Benz estava em um processo de grande mudança. “No passado, as decisões eram tomadas por áreas específicas; agora, pensamos em processos como um todo, abrindo fronteiras para otimizar cada etapa da operação. Estamos nos preparando para ser um ‘global player’ — uma empresa verdadeiramente internacional”, disse Eckrodt, ressaltando que a mudança nos métodos de produção e a expansão da linha de produtos eram fundamentais para alcançar a competitividade global.
Eckrodt também abordou o cenário de 1992, ano de grandes desafios para a empresa. As vendas de caminhões caíram drasticamente, com a empresa vendendo apenas 10.719 unidades — número inferior até mesmo às vendas de ônibus, que somaram 11.323 unidades. Esse fato foi inédito, pois a comercialização de ônibus superou a de veículos de carga, algo nunca antes visto na história da empresa.
Momento era delicado
Rolf Eckrodt assumiu a presidência da Mercedes-Benz Brasil em um momento delicado. Ele sucedeu Gerhard Hoffmann Becking e Bernd Gottschalk, que passaram brevemente pelo comando da subsidiária. Conhecido na Alemanha por sua habilidade como ponta-direita no futebol e por ser amigo de Franz Beckenbauer, Eckrodt sempre demonstrou uma forte predisposição para enfrentar desafios de frente — uma abordagem que ele aplicava tanto no esporte quanto na gestão empresarial. “Minhas armas são as técnicas modernas de administração, focadas na produtividade, para tornar a empresa competitiva internacionalmente, tanto em termos de tecnologia quanto de preços”, disse.
Dentre as primeiras iniciativas de Eckrodt, destacou-se o programa Fábrica 2000, que visava aumentar a produtividade em 20% e reduzir em 30% o volume de material de processo. Além disso, ele iniciou um programa de parceria com fornecedores, com o objetivo de reduzir a verticalização e incentivar a terceirização, implementando o conceito de global sourcing, onde os fornecedores montam componentes a partir de peças fornecidas por outros parceiros.
A inovação também foi vista na adoção da engenharia simultânea, um processo colaborativo em que clientes e fornecedores participam no desenvolvimento de novos produtos — algo impensável para a Mercedes-Benz até pouco tempo antes.
Outro grande avanço foi a eliminação da burocracia interna, reduzindo a hierarquia de sete para apenas quatro níveis e implementando o lean management, com o objetivo de agilizar a tomada de decisões.
Em relação à força de trabalho, Eckrodt preferiu adotar uma estratégia de saídas voluntárias, oferecendo benefícios generosos para aqueles interessados em deixar a empresa, o que resultou em uma redução de 20% no quadro de funcionários nos últimos três anos.
Na entrevista, realizada poucos dias antes de Eckrodt completar 53 anos, o executivo demonstrou suas habilidades como um “atacante” ao esquivar-se habilidosamente de algumas perguntas mais delicadas, especialmente aquelas relacionadas a detalhes de novos produtos e a estratégia de longo prazo.
No entanto, ele garantiu aos seus consumidores — tanto frotistas quanto autônomos — que as mudanças no relacionamento com a fábrica e os concessionários continuariam a se intensificar. “Podem esperar novos produtos em ônibus e caminhões, e o braço financeiro do grupo Mercedes-Benz já foi aprovado pelo Banco Central. As operações de leasing começarão em breve”, concluiu.
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