Paulo Rossi, presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), e Luiz Antonio Barbagallo, economista e consultor da entidade: “O agronegócio é fator importante para o crescimento dos consórcios de caminhões”

“Diante dos excelentes resultados obtidos pelo sistema de consórcios, no qual o segmento de veículos pesados teve o maior crescimento percentual em cotas comercializadas no primeiro quadrimestre, acreditamos na manutenção de uma boa performance até o final do ano”, comenta o presidente executivo da ABAC

As boas expectativas de crescimento em novos contratos de consórcio de caminhões estão um pouco mais tímidas em função das enchentes no Rio Grande do Sul. Essa é a avaliação do presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (ABAC), Paulo Rossi, compartilhada com o portal Transporte Moderno. Conforme o executivo, prestes a completar um mês, a tragédia é um dos principais motivos para a projeção mais tímida de crescimento de novas cotas que, no início do ano, era de 15%. Agora, a estimativa de expansão gira em torno de 5% a 10%.

Transporte Moderno – Qual a importância dos consórcios no mercado de pesados, especificamente no segmento de caminhões e ônibus?

Paulo Rossi – O consórcio de veículos pesados inclui caminhões, ônibus, implementos rodoviários, além de máquinas e implementos agrícolas. São mais de 670 mil participantes ativos, segundo o balanço do sistema de consórcios encerrado em abril. Deste total, dois terços representam os setores de transportes de cargas e de passageiros. Assim, aproximadamente 450 mil consorciados buscam, como objetivo principal, renovar ou ampliar suas frotas, com maioria absoluta para o setor de cargas.

Entre as razões mais citadas para o profissional autônomo ou empresário de transportes rodoviário de cargas, a adesão ao consórcio prende-se ao planejamento visando usufruir das vantagens que o consórcio proporciona: prazos longos de pagamento, custos finais mais baixos, parcelas compatíveis com a renda e orçamento, preservação do poder de compra, economia na manutenção ao adquirir veículo novo ou mesmo seminovo, entre outros.

Transporte Moderno – Como foram esses primeiros meses para os consórcios voltados para o mercado de pesados?

Luiz Antonio Barbagallo – Parcela importante do mercado, os participantes ativos de veículos pesados representam 9% do total de 7,48 milhões de consorciados ativos em veículos automotores, ou seja, 673,51 mil. Os demais 54,9% são de veículos leves e 36,1% nos de motocicletas. Infelizmente, não dispomos de dados separados por caminhões e ônibus. Ao lembrar novamente que dois terços integram o segmento de caminhões, pode-se destacar ainda que, na análise dos quatro primeiros meses deste ano, a partir dos créditos oriundos das contemplações, observa-se que uma a cada duas comercializações de caminhões pode ser realizada pelo consórcio no mercado de veículos pesados. Essa relação é de 44,3% de potencial presença nas vendas no mercado interno, considerando os dados divulgados pela Fenabrave.

Transporte Moderno – O tíquete médio para pesados aumentou em 2023?

Luiz Antonio Barbagallo – Sim. Ao lembrar a relação de participação de consorciados de caminhões no setor de veículos pesados, dois terços dos participantes, vale destacar que o tíquete médio, em abril, foi de R$ 168,07 mil, 10,8% maior que os R$ 151,65 mil, registradas no mesmo mês do ano passado.

Transporte Moderno – Os juros altos afetam o mercado de consórcios para veículos pesados?

Luiz Antonio Barbagallo – Ao longo da história do sistema de consórcios, diversos estudos mostraram que não existe correlação entre vendas de cotas e taxas de juros. É importante avaliar que a aquisição de caminhão por meio do consórcio difere da compra por financiamento, pois são perfis diferentes de consumidores com características distintas. Aquele que adquire cota de consórcio tem perfil planejador, e não tem urgência na obtenção do bem. Caso o interessado necessite do bem de imediato em função de sinistro verificado com o antigo caminhão, por exemplo, a aquisição por outra modalidade de compra parcelada, como o financiamento, é uma opção. Neste caso, além de ter que passar pela aprovação do crédito, deverá arcar com o ônus dos juros e pagar parcelas mensais maiores, tornando o custo final maior.

Todavia, se não houver necessidade imediata, o interessado poderá planejar a compra pelo consórcio de veículos pesados, com parcelas mensais adequadas ao faturamento da empresa ou orçamento individual em caso de autônomo, visto só haver cobrança de   taxa de administração que é diluída ao longo de duração do grupo. Lembrando, ainda, que a contemplação que permitirá acesso ao crédito poderá ocorrer mensalmente por sorteio ou ainda por lance, no decorrer da sua participação no grupo.

Transporte Moderno – Quais as perspectivas para os próximos meses? O crescimento deve se manter ou até se expandir?

Paulo Rossi – Nos primeiros quatro meses, a economia brasileira vive a expectativa de baixa da inflação com consequente redução da Taxa Selic. As mais de 70% de famílias endividadas, oscilações do dólar com tendência à retração e as expectativas dos agentes econômicos com as novas medidas governamentais, entre outros fatores, podem estar contribuindo para o adiamento de decisões por parte de consumidores e investidores. Mesmo com o fechamento da inflação em 4,18% até abril, registrados nos últimos 12 meses, abaixo dos 12,13% anotados de maio de 2021 a abril de 2022, e considerando a manutenção da taxa de juros básica (Selic) em 13,75%, a assessoria econômica da ABAC projeta crescimento para o sistema de consórcios durante 2023.

Diante dos excelentes resultados obtidos pelo sistema de consórcios, no qual o segmento de veículos pesados teve o maior crescimento percentual em cotas comercializadas no primeiro quadrimestre, acreditamos na manutenção de uma boa performance até o final do ano. De acordo com dados do IBGE, o setor de serviços cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2023 e o subgrupo com melhor desempenho foi o de transporte e armazenagem, impulsionado por transporte de carga devido à safra recorde. Tais resultados reforçam nosso otimismo.

Transporte Moderno – O agronegócio tem aquecido o setor de consórcios para caminhões?

Paulo Rossi – Realmente, o agronegócio é fator importante para o crescimento dos consórcios de caminhões, visto o bem ser fundamental para o transporte de insumos e para escoamento da safra. O crescimento do consórcio de máquinas e implementos agrícolas contribui diretamente para a expansão do agronegócio e consequentemente para o crescimento econômico do Brasil.

Aqui, vale considerar que, lado a lado com esses bens, o caminhão tem papel importante no conjunto de atividades do agronegócio. O crescimento do PIB em 1,9% no primeiro trimestre deste ano, quando comparado ao último trimestre de 2022, foi o maior desde 2020 e a agricultura teve seu melhor desempenho desde 1996. Esses dados reforçam nosso otimismo com o segmento. Por ser a forma mais simples e econômica de adquirir bens, o aumento das vendas de novas cotas nos grupos de consórcios justifica-se por fatores como prazos de duração, taxa de administração, custo final, linha de crédito sempre disponível, objetivando redução de custos e aumento de lucratividade. 

ANTRANIK PHOTOS& Luiz Antonio Barbagallo, economista

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