Falta de semicondutores derruba a produção de caminhões

Com relação às vendas, o mercado de caminhões apresentou redução de 6,7% em abril, e crescimento de 1% no acumulado dos primeiros quatro meses do ano

Sonia Moraes

Por causa da falta de componentes, principalmente de semicondutores, e da desorganização na cadeia global de suprimentos, a produção de caminhões apresentou queda de 29,9% em abril com 9.483 veículos, em relação aos 13.531 veículos fabricados em março deste ano.

No acumulado de janeiro a abril, os 43.866 caminhões fabricados ficaram 5% abaixo do mesmo período de 2021, quando foram produzidos 46.175 veículos. Do total, 19.936 são modelos pesados, 14.281 semipesados, 7.166 leves, 2.009 médios e 474 semileves.

Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ressaltou durante a coletiva de imprensa que a produção é hoje o principal desafio do setor automotivo. “Estamos conseguindo manter a produção num nível estável com muito trabalho e gestão para que não falte insumos. O setor teve que se reinventar durante esse período para evitar as paralisações.”

Em 2022, das 59 fábricas, 14 tiveram paralisações por falta de semicondutores. “É um assunto que precisa ser analisado com cautela e acompanhado”, disse Leite. O presidente da Anfavea também destacou que, entre os vários componentes que faltam para a montagem dos veículos, são os semicondutores que mais têm dificultado o crescimento do setor automotivo, mas ele acredita que há sinais positivos que ajudarão a melhorar a capacidade produtiva.

Segundo Leite, 29 novas fábricas de semicondutores espalhadas pelo mundo estão previstas para 2022 e 2023. E no segundo semestre, duas estarão operando com bom nível de capacidade o que ajudará no aumento da produção de veículos. “O alívio para o setor virá com o investimento nas fábricas de semicondutores e de outros insumos.”

O presidente da Anfavea ressaltou que o Brasil tem um projeto para produzir semicondutores e ser um dos grandes players na produção deste componente. “Há um trabalho sendo feito em conjunto com o governo, o setor público, o setor privado, universidades, e a ideia é acelerar a produção de semicondutores, e aí vamos criar uma realidade ainda maior”, disse Leite. “A capacidade produção é um gargalo, mas há um sinal positivo a partir do segundo semestre.”

Vendas

Com relação às vendas, o mercado apresentou redução de 6,7% em abril, com 9.384 veículos, ante os 10.056 caminhões comercializados em março deste ano, sendo que esse recuo foi resultado de menos dias úteis no mês, conforme esclareceu Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea.

No primeiro quadrimestre do ano, as vendas atingiram 36.236 caminhões, 1% acima dos 35.862 veículos vendidos no mesmo período de 2021. Do total vendido até abril, 17.425 são modelos pesados, 9.868 semipesados, 3.720 médios, 3.573 leves e 1.650 semileves. “O setor vem mantendo a estabilidade no acumulado do ano, com o agro, a mineração, construção e o e-commerce impulsionando as vendas”, disse Bonini.

Bonini comentou que comparado aos anos anteriores o mercado caminhões vem mantendo a recuperação. “De janeiro a abril de 2019, as vendas atingiram 30 mil veículos, em 2020, com a pandemia, caíram para 24.100 caminhões, mas em 2021 se recuperaram chegando a 35.900 caminhões vendidos e em 2022 atingiram 36.200 unidades”.

Exportações-

As exportações de caminhões tiveram redução de 3,2% em abril em relação a março, com o embarque de 1.984 veículos. No acumulado de janeiro a abril, a retração foi de 6,9%, com 6.669 veículos vendidos no mercado internacional, ante os 7.166 exportados no mesmo período de 2022.

Em CKD (veículos desmontados), as exportações de caminhões atingiram 1.524 unidades no primeiro quadrimestre deste ano, 16,9% acima dos 1.304 veículos exportados no mesmo período de 2021.

Ranking –

No ranking do setor, a liderança ficou com a Volkswagen Caminhões e Ônibus com a venda de 10.815 caminhões no primeiro quadrimestre, 7,1% a mais que no mesmo período de 2021 (10.101 caminhões); o segundo lugar é ocupado pela Mercedes-Benz, com 8.772 caminhões comercializados no país, 11,8% abaixo dos quatro meses de 2021 (9.942 veículos), e o terceiro pela Volvo, com 7.060 veículos emplacados, 27% acima de janeiro a abril de 2021 (5.560 unidades).

A Iveco, quarta colocada, vendeu 3.400 caminhões até abril, 61,9% mais que no primeiro quadrimestre do ano passado (2.100 unidades), e a Scania, que está em quinto lugar, comercializou 2.637 caminhões de janeiro a abril, 43,21% abaixo dos quatro meses de 2021 (4.642 caminhões). A DAF, que ocupa o sexto lugar, vendeu 1.902 veículos, 16,5% a mais que janeiro a abril de 2021, cujo volume totalizou 1.632 caminhões.

Desafio-

O presidente da Anfavea comentou que o setor automotivo tem grandes desafios e precisa de maior agilidade e senso de urgência em algumas questões. “Mas o resultado do setor não tem sido ruim e este talvez seja o melhor momento dos últimos meses.”

“O nosso desafio é entender a demanda efetiva do mercado com a situação regularizada. É uma revisão após revisão. Temos uma demanda reprimida e uma capacidade de alavancar esse mercado que esbarra em alguns limites que não tínhamos no passado, como a falta de semicondutores e guerra entre Rússia e Ucrânia. Estamos diante de um cenário novo, que não se trata de rever os números para 2022, mas de ter um novo estudo sobre qual o tamanho do mercado se não houvesse essas limitações”, disse Leite. 

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