Volvo acelera a produção na fábrica de Curitiba

Com pedidos de caminhões fechados para o primeiro semestre, e mesmo com as dificuldades na cadeia de suprimentos, a empresa está conseguindo ajustar o estoque, reduzir o prazo de entrega e ganhar market share no mercado brasileiro

Sonia Moraes 

Mesmo com as dificuldades na cadeia de suprimentos, que se agravaram com a guerra entre a Rússia e Ucrânia, a Volvo está conseguindo contornar os obstáculos, ajustar o estoque, reduzir prazo de entrega e ganhar market share no mercado de caminhões no Brasil.

No primeiro trimestre deste ano, a empresa ficou em terceiro lugar no ranking de vendas com 5.217 veículos emplacados – 4.107 pesados e 1.110 semipesados –, 26,5% a mais que no mesmo período de 2021, segundo a Anfavea (associação que representa as montadoras). O market share foi de 25,9%. Considerando somente o segmento de pesados e semipesados a empresa ficou com a vice-liderança no trimestre. 

“Isso mostra que a gente está conseguindo trabalhar de maneira eficiente, com os desafios que temos enfrentado, com os gargalos e tudo mais”, afirmou Alcides Cavalcanti, diretor executivo de caminhões da Volvo. “Hoje não temos a euforia de demanda como no ano passado, com a entrega dos caminhões variando de seis a sete meses. A situação do mercado se normalizou, e o prazo está oscilando de 30 a 60 dias, com alguns modelos disponíveis para pronta entrega”, revelou Cavalcanti.    

A estabilização na entrega dos caminhões, segundo o diretor da Volvo, não se deve à queda na demanda, mas ao ajuste natural que ocorreu no mercado por causa da elevação das taxas de juros e do aumento no preço do combustível, o que impactou principalmente as empresas menores.

“As grandes empresas, que têm maior poder de negociação com os embarcadores e conseguem repassar a alta do custo, estão mantendo e até aumentando os pedidos por causa da mudança na legislação”, comentou Cavalcanti. “Quem já tinha programação de compra está ampliando e quem não tinha está negociando para receber os caminhões ao longo do ano e, assim, evitar custo adicional de 15% que terão os caminhões com motor Euro 6.”   

Na Volvo, os pedidos para o primeiro semestre deste ano já estão fechados e são de caminhões pesados feitos por clientes tradicionais que compram no ano anterior e mantém uma programação para o ano todo. “São empresas que têm frota grande de veículos e decidem por uma renovação global, comprando 100, 200 ou até mais caminhões para manter a eficiência da operação e a segurança”, esclareceu Cavalcanti.  

Por causa da mudança na legislação de emissões a partir de 2023, o diretor da Volvo espera que a antecipação de compras aumente no segundo semestre, quando todo o mercado estará informado sobre as alterações. “Mas não haverá euforia, porque a tecnologia de motorização já está sedimentada, e nem excesso de produtos, porque a indústria está com limitação no fornecimento de componentes”, afirmou.  

Trabalho acelerado 

Na fábrica de Curitiba, a Volvo está trabalhando em dois turnos num ritmo acelerado e, para contornar as dificuldades da cadeia de suprimentos, a equipe de logística tem se dedicado, recorrendo ao transporte marítimo e aéreo para não parar a produção. Com a falta de alguns tipos de componentes, a empresa tem remanejado turno de produção e adequando os modelos na linha de montagem.

Dependendo do tipo de caminhão tem conseguido fazer a entrega imediata ou em até 60 dias. Somente os modelos de mineração FMX e o FMX Max, lançados no ano passado, estão com prazo maior porque o setor comprou tudo o que havia programado para o primeiro semestre e essa grande procura por caminhões fora-de-estrada se deve aos investimentos que as mineradoras estão fazendo para ampliar a produção. “Agora as entregas estão previstas para o segundo semestre”, esclareceu Cavalcanti.  

Para 2022, a Volvo está otimista e mantém a perspectiva de continuar com esse ritmo de venda e de produção, porque, além do Brasil, os outros mercados da América Latina continuam comprando. “O que preocupa no momento é a falta de componentes que prejudica um pouco o ritmo de entregas”, afirmou o diretor.   

Mercado

Sobre as estimativas para o mercado de caminhões, Cavalcanti afirmou que, apesar da estabilidade alcançada no primeiro trimestre e com a grande demanda do setor agrícola e de mineração, será difícil o setor crescer 10% neste ano por causa das limitações da cadeia de suprimentos e dos gargalos logísticos. “O que a gente achava que iria resolver este ano está se complicando mais. Ainda faltam pneus, semicondutores e vários outros tipos de componentes nacionais que têm peças importadas na sua composição”, destacou. 

 “Estávamos saindo de uma pandemia e agora a guerra entre a Rússia e a Ucrânia está afetando todos os mercados. A inflação que estava alta deve se manter no patamar elevado no Brasil e no mundo, o que dificulta e gera incertezas para os empresários fazer investimentos em caminhão.”   

Mas o Brasil ainda tem pontos favoráveis, segundo Cavalcanti, como o bom momento das commodities, que aumenta a demanda por caminhões, além da mudança na legislação para Euro 6, que pode motivar alguns clientes a buscar a renovação de frota. “Ainda temos uma frota antiga, com dois milhões de caminhões com idade média de 13 a 14 anos rodando nas estradas e a renovação é cada vez mais necessária porque, à medida que o caminhão envelhece, aumenta o consumo de óleo diesel e é o que tem maior peso na planilha de custo das empresas”, ressaltou.  

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