Escalada dos roubos pressiona custos e transforma o papel do seguro

Mercado segurador cresce acima da média e revela nova dinâmica de riscos

Redação

O seguro de transporte de carga deixou de ser apenas um item contratual e passou a ocupar espaço central na estratégia das transportadoras brasileiras. A mudança é resultado direto da evolução dos riscos logísticos no país.

Em 2024, o Brasil registrou 10.478 roubos de carga, segundo a NTC&Logística, acumulando R$ 1,2 bilhão em prejuízos. No primeiro semestre de 2025, o cenário se agravou: a Nstech aponta um crescimento de 24,8%, com destaque para regiões de alta densidade logística, como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

A criminalidade sofisticada, os efeitos das rotas alternativas criadas pela interiorização do roubo, o uso de informações internas por quadrilhas e a pressão por prazos mais curtos intensificaram a vulnerabilidade das operações.

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A escalada de incidentes repercutiu diretamente no mercado segurador. Dados da FenSeg indicam que as contratações de seguro de transporte cresceram 11,5% em 2025, ritmo quase duas vezes superior ao estimado para 2024. No ano passado, o segmento já demonstrava aquecimento, movimentando R$ 6,12 bilhões em prêmios e pagando R$ 3 bilhões em indenizações, segundo a Susep.

Esse movimento reflete uma mudança estrutural na percepção de risco. Em segmentos como fármacos, eletrônicos, perecíveis e cosméticos — historicamente os mais visados —, o seguro se tornou parte da matriz de custo e um fator de competitividade. Embarcadores vêm exigindo apólices mais completas, e transportadoras revisam seus procedimentos internos para atender requisitos de compliance e gerenciamento de risco.

Contratar seguro ainda é um desafio

Mesmo diante desse cenário, ainda é comum encontrar empresas tratando o seguro como mera formalidade documental — uma prática que especialistas classificam como perigosa.
João Paulo, CEO da Mundo Seguro e especialista em gestão de risco, alerta para as consequências:

“Quando o seguro vira um papel para cumprir checklist, surgem falhas graves como coberturas insuficientes e exclusões que só aparecem no sinistro. É exatamente nessas lacunas que o prejuízo acontece.”

Entre os erros recorrentes estão: não observar exigências de gerenciamento de risco, subestimar o valor da carga, ignorar cláusulas específicas para rotas críticas e não atualizar as informações da operação junto à seguradora.

A contratação de um seguro eficiente começa pela escolha de uma corretora especializada em transporte. Diferentemente das corretoras generalistas, ela interpreta a realidade logística da empresa e traduz suas particularidades para o mercado segurador. Isso inclui avaliar rotas, mapear riscos, entender sazonalidade, identificar cargas sensíveis, analisar o histórico de incidentes e ajustar cláusulas a exigências de embarcadores ou da ANTT.

“Uma escolha errada na contratação pode custar muito caro. A corretora especializada protege a empresa de falhas aparentemente pequenas, mas que têm impacto direto na aceitação de sinistros”, reforça João Paulo.

Além disso, corretoras dedicadas ao setor têm acesso a produtos específicos, negociações diferenciadas e expertise para montar apólices sob medida — um diferencial em um país onde mais de 65% das cargas circulam por rodovias e a complexidade logística cresce rapidamente.

Ponto de partida: Diagnóstico logístico

O desenho de uma cobertura eficaz nasce da compreensão detalhada da operação. Isso envolve identificar o tipo de mercadoria, analisar rotas, avaliar a frequência das viagens, entender requisitos contratuais e mapear pontos críticos — como travessias urbanas, áreas de restrição, horários sensíveis e modais combinados.

“Muitas empresas olham apenas o preço da apólice, mas o seguro adequado nasce quando a transportadora sabe exatamente onde estão seus pontos de vulnerabilidade”, explica o especialista.

O diagnóstico também contribui para reduzir custos, evitando contratação excessiva ou insuficiente e alinhando proteções ao risco real e não ao risco presumido.

Evolução da operação

Outro ponto muitas vezes negligenciado é a atualização da apólice. Mudanças no tipo de carga, aumento do volume transportado, inclusão de novas rotas, expansão geográfica ou alterações nas exigências de embarcadores podem modificar completamente o perfil de risco.
Quando essas informações não são repassadas à seguradora, abre-se caminho para limitações ou negativas de sinistro — um passivo operacional grave.

“Quando a apólice não acompanha a realidade, a empresa perde proteção justamente quando mais precisa dela”, afirma João Paulo.

A combinação entre criminalidade crescente, exigências regulatórias, pressão contratual e maior complexidade da cadeia de suprimentos transformou o seguro de transporte em um componente estratégico da governança logística. O movimento acompanha uma tendência global: cadeias mais integradas e digitalizadas exigem modelos de proteção igualmente sofisticados, capazes de responder a riscos que evoluem rapidamente.

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