A logística por trás dos revestimentos pesados

Jornada dos revestimentos da fábrica ao cliente expõe os desafios logísticos de um setor pesado e estratégico, que coloca o Brasil entre os maiores produtores e exportadores de cerâmica do mundo

Valeria Bursztein

No segmento de revestimentos, onde cada metro quadrado pode chegar a pesar 14 quilos, a logística deixa de ser apenas uma etapa operacional e passa a ser um elemento estratégico. A Cerâmica Atlas, tradicional fabricante sediada em Tambaú (SP), vive esse desafio diariamente ao fazer produtos pesados e delicados chegarem intactos a todas as regiões do Brasil e a destinos internacionais. 

Com mais de 32 mil cores catalogadas, diferentes formatos e acabamentos, além de uma capacidade produtiva superior a 600 mil metros quadrados por mês, a empresa opera exclusivamente no modelo FOB — FOB fábrica no mercado nacional e FOB Porto de Santos (SP) ou Itajaí (SC) nas exportações.

De acordo com o gerente nacional de vendas, Alexandre Moscardini, esse formato oferece autonomia ao cliente e flexibilidade no gerenciamento da cadeia logística. Ele ressalta que a Atlas trabalha com uma rede especializada de transportadoras e que o modelo FOB entrega ao comprador o controle dos custos, a escolha do operador e a previsibilidade das entregas.

Rodoviário como eixo, multimodal como estratégia

A predominância do modal rodoviário é clara: cerca de 90% das entregas são feitas por caminhão, reflexo da capilaridade e da agilidade que o transporte terrestre oferece ao setor de materiais de construção. 

Mas em um país de dimensões continentais e profundas disparidades de infraestrutura, o multimodal ainda se impõe como ferramenta essencial. Nas regiões Norte e parte do Centro-Oeste, a integração entre rodovias e transporte aquaviário garante o fluxo da carga. Belém e Macapá dependem de combinações entre trechos rodoviários e balsas, enquanto para Manaus a cabotagem segue como a rota mais eficiente, segura e sustentável.

Moscardini lembra que “a malha logística brasileira é muito desigual e impõe soluções híbridas. No Norte, essa combinação de modais é indispensável. Para Manaus, a cabotagem continua sendo imbatível”.

O valor do frete acompanha essa diversidade territorial. Por se tratar de uma carga pesada, volumosa e sensível, o custo logístico varia conforme a distância, as condições das estradas e a disponibilidade de operadores especializados. 

Na Baixada Santista, o envio custa, em média, entre cinco e seis reais por metro quadrado. No Rio Grande do Sul, o valor sobe para cerca de oito reais por metro quadrado. No Nordeste, onde os percursos são mais longos e a infraestrutura menos homogênea, o custo pode chegar a dez ou doze reais por metro quadrado. 

Essa variação reflete não apenas o peso das peças, mas também gargalos regionais, pavimentação irregular, limitações de capacidade e diferentes níveis de retorno de carga.

Paletização total e rigor no manuseio

Para garantir a integridade do produto, toda a produção da Cerâmica Atlas é enviada paletizada. A medida reduz avarias, otimiza o carregamento, melhora o aproveitamento interno dos caminhões e aumenta a segurança da armazenagem. 

As transportadoras parceiras seguem protocolos específicos de amarração, empilhamento e proteção, fundamentais para um produto que combina elevado peso e fragilidade estrutural. Segundo Moscardini, “o transporte de revestimentos cerâmicos exige precisão e cuidado extremo. A paletização total elimina perdas e aumenta a eficiência do despacho”.

Um setor que pesa na economia brasileira

O cenário logístico da empresa se conecta diretamente ao desempenho econômico do setor cerâmico e de rochas ornamentais, segmentos que projetam o Brasil no mercado global. 

O país figura entre os maiores produtores de revestimentos cerâmicos do mundo, com volumes superiores a 1 bilhão de metros quadrados anuais, e mantém posição relevante também nas exportações. 

No campo das rochas ornamentais — que inclui granitos, quartzitos, ardósias e outros materiais naturais com demandas logísticas similares — o país movimenta cerca de 1,2 bilhão de dólares por ano em vendas externas, abastecendo mercados exigentes na América do Norte, Europa e Oriente Médio.

Essas cadeias industriais têm peso expressivo no emprego, na geração de renda e na balança comercial. Por lidarem com peças pesadas e de alto risco de avaria, dependem de soluções logísticas robustas, desde a extração ou fabricação até o transporte interno e os embarques portuários. 

No caso da Atlas, os insumos são majoritariamente nacionais, mas parte dos corantes é importada e passa por um processo de tropicalização conduzido por empresas especializadas para garantir desempenho adequado às condições brasileiras.

Previsibilidade como valor central

Mesmo diante de um território extenso e de desafios logísticos permanentes, a Cerâmica Atlas mantém regularidade nas entregas e investe em tecnologia, processos e organização operacional. A combinação entre tradição industrial, aprimoramento contínuo e uma rede sólida de parceiros logísticos fortalece sua reputação no mercado interno e externo. 

Moscardini sintetiza essa filosofia ao afirmar que “o nosso objetivo é entregar qualidade com previsibilidade, independentemente da distância ou da complexidade de acesso. A logística não é apenas o caminho entre a fábrica e o cliente; ela é parte essencial da nossa proposta de valor”.

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