Descarbonização do transporte ganha espaço relevante na agenda da COP30

Conferência iniciada em 10 de novembro, em Belém (PA), e que termina nesta sexta-feira (21), reúne empresas e entidades do setor para acelerar ações de redução de emissões

Aline Feltrin

A transição para um modelo de transporte de baixa emissão ganhou espaço relevante na agenda da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que iniciou dia 10 de novembro, em Belém (PA), e termina nesta sexta-feira (21). A conferência reuniu empresas e entidades de diferentes modais — rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário — que anunciaram iniciativas para acelerar a redução de gases de efeito estufa, enquanto novas alianças setoriais apontam caminhos para eletrificação, uso de biocombustíveis e reconfiguração logística no país.

Um dos principais avanços foi a expansão da Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, criada em 2024 e que já reúne 121 adesões de empresas, concessionárias, secretarias municipais e associações ligadas à mobilidade urbana. A entidade propõe 90 ações para reduzir em até 70% as emissões do setor até 2050 — o equivalente a 287 milhões de toneladas de CO₂ equivalente — e mantém diálogo direto com os ministérios do Meio Ambiente, dos Transportes e de Portos e Aeroportos. As contribuições do grupo integrarão o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, apresentado durante o evento.

O plano de ação lançado em maio reúne recomendações em seis eixos: infraestrutura, mobilidade urbana, transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário. Entre as propostas estão a revisão da matriz logística, estímulos ao uso de biocombustíveis e à eletrificação de frotas, aproveitando a matriz elétrica limpa do país.

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Estação do desenvolvimento leva inovação à COP30

Na Green Zone da COP30, a Estação do Desenvolvimento, organizada pelo Sistema Transporte (CNT, Sest, Senat e ITL), tornou-se um dos pontos mais movimentados ao apresentar 34 projetos de inovação e sustentabilidade selecionados em chamamento público. O espaço reuniu iniciativas de descarbonização com biometano, remanufatura de equipamentos, investimentos ferroviários sustentáveis, programas sociais em áreas portuárias, monitoramento climático avançado e projetos de bioenergia.

O projeto contou com patrocínio de empresas como Moveinfra, Gol e ClickBus, além do apoio institucional de entidades como Pacto Global, Instituto Ethos e ApexBrasil.

Logística na Amazônia expõe desafios estruturais

A Rede de Trabalho Amazônico (GTA) apresentou, durante a conferência, um relatório que acendeu alerta sobre o impacto do transporte pesado na região. Segundo o documento, caminhões a diesel responsáveis pelo abastecimento da Zona Franca de Manaus respondem por quase metade das emissões do transporte no Norte.

A entidade estima que a eletrificação da logística regional — com a instalação de 12 estações de recarga rápida para atender cerca de 300 caminhões elétricos — poderia reduzir o tempo de viagem em 15% e levar a uma economia de 5,4 milhões de litros de diesel por ano.

O relatório afirma que a ausência de eletrificação contrasta com metas globais de neutralidade de carbono de fabricantes como Volvo e Daimler, que ainda não comercializam caminhões elétricos na região. Também aponta que as grandes rodovias amazônicas seguem associadas ao desmatamento e a pressões sobre territórios indígenas, recomendando que futuros projetos de infraestrutura cumpram protocolos de consulta prévia e compensações ambientais.

Corredor elétrico Rio–São Paulo avança

Outro anúncio relevante foi o avanço do Laneshift e-Dutra, projeto que prevê a incorporação de 1.000 caminhões elétricos ao corredor Rio–São Paulo até 2030. A iniciativa, apoiada por 17 empresas — entre elas a Volkswagen Truck & Bus — tem potencial para evitar 75 mil toneladas de CO₂.

Para que o plano seja viável, as entidades envolvidas destacam que será necessário ampliar a infraestrutura de recarga rápida, capacitar frotistas, estruturar cadeias de fornecimento de baterias e respeitar protocolos socioambientais, especialmente nas áreas afetadas pela instalação de novos equipamentos de energia.

Aviação acelera agenda de SAF e pesquisa

No modal aéreo, a Embraer levou à COP30 discussões sobre o uso de combustível sustentável de aviação (SAF) e sobre parcerias acadêmicas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias de redução de emissões. Representada por seu diretor de ESG, André Tachard, a empresa participou de três painéis da programação oficial, distribuídos entre as Zonas Azul e Verde.

O primeiro debate tratou do PROBIOQAV, o Programa Nacional de Biocombustíveis para Aviação, criado pelo governo federal para estruturar a cadeia de produção, certificação e uso de SAF no país. O programa busca reduzir a dependência do querosene de aviação fóssil, incentivar pesquisa e inovação e estabelecer parâmetros regulatórios para ampliar a oferta do combustível sustentável.

Em outro painel, na Zona Azul, a Embraer discutiu diferentes caminhos para a mitigação de emissões no transporte. A relação entre pesquisa universitária e indústria foi o foco de uma terceira participação, também na Zona Azul, voltada a iniciativas que conectam centros acadêmicos e empresas em projetos de inovação ligados à transição climática.

Metas e testes em campo

A Randoncorp reforçou suas metas de reduzir em 40% as emissões até 2030, ampliando o portfólio de produtos sustentáveis. A empresa destacou iniciativas de economia circular, uso de energia renovável e desenvolvimento de materiais mais leves para reduzir o consumo de combustível nos transportes. Em 2024, 44% da receita líquida no Brasil veio de produtos lançados nos últimos cinco anos — muitos deles com apelo ambiental.

A Mercedes-Benz do Brasil, em parceria com a Be8, levou à COP30 a jornada “Rota Sustentável COP30”, que percorre mais de 4 mil quilômetros entre Passo Fundo (RS) e o Pará. Dois caminhões Actros Evolution e dois ônibus O 500 RSD participam de testes comparativos entre o biocombustível BeVant e o diesel B15. O objetivo é mensurar diferenças de emissões e performance em condições reais de transporte.

Do lado dos operadores logísticos, a Tegma realizou uma operação inédita em parceria com a GM: levar a frota 100% elétrica da montadora — Blazer EV, Equinox EV e Spark EUV — até Belém. Os veículos foram transportados em caminhões híbridos movidos a diesel e gás natural veicular (GNV), reduzindo 3,5 toneladas de CO₂ na operação. A Tegma conduz projeto-piloto com esse tipo de caminhão e estuda ampliar o uso da tecnologia na própria frota.

Um movimento transversal e irreversível

A COP30 tem mostrado uma convergência inédita entre os modais de transporte. Rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário avançam simultaneamente em projetos de eletrificação, biometano, biocombustíveis e reconfiguração logística.

Com compromissos mais claros e uma agenda crescente de investimentos, o setor deixa Belém com um mapa de ações que deve orientar tanto políticas públicas quanto decisões estratégicas da iniciativa privada nos próximos anos.

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