Foton fortalece operação no Brasil e mira expansão regional em 2026

Com capacidade produtiva em alta, portfólio ampliado e uma nova estratégia logística, a montadora chinesa transforma o Brasil em plataforma para crescer na América Latina

Aline Feltrin

De Pequim (China) * — A chinesa Foton encerrará 2025 com o melhor desempenho de sua trajetória no Brasil e entrará em 2026 preparada para um novo ciclo de expansão, marcado por aumento de capacidade produtiva, ampliação do portfólio e uma estratégia logística desenhada para transformar o país em um hub regional. Após um período de reestruturação que reposicionou a marca no mercado brasileiro, a montadora chinesa atravessa agora seu primeiro ano de consolidação real.

Segundo Fábio Pontes, diretor de operações da Foton Brasil, o ano representou uma virada. “Foi bom, apesar dos altos e baixos ligados ao crédito. Vínhamos de um processo de reestruturação e agora realmente entramos no mercado. Tivemos aproximadamente mil unidades emplacadas, lançamos as picapes Tunland e iniciamos a produção local. Foi um período de muita revelação para a empresa”, afirma.

Os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) confirmam o avanço. De janeiro a outubro de 2025, a Foton registrou 745 unidades emplacadas e 0,81% de participação. O desempenho supera com folga o mesmo período de 2024, quando alcançou 489 unidades e 0,48%, e é quase quatro vezes superior ao volume de 2023, quando somou 189 unidades e 0,22% de participação. A montadora, que vinha de um ritmo gradual de crescimento, finalmente alcança escala para disputar espaço em categorias relevantes do mercado.

Esse salto chamou a atenção da matriz chinesa. Nesse sentido, o Brasil apareceu de forma destacada na Conferência Global de Parceiros 2026 – “Drive to Great, realizada nos dias 9 e 10 de novembro em Pequim, capital da China, com mais de 2 mil participantes de 140 países. “Brasil e África do Sul, como mercados emergentes dinâmicos, são pilares estratégicos na expansão global da Foton”, afirmou Victor Queiroz, chefe da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), uma entidade vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), na região Ásia-Pacífico. Em seu discurso, ele destacou o avanço recente da montadora no país, lembrando que “a fábrica produziu o primeiro caminhão leve totalmente montado no Brasil — um marco para a estratégia de localização das marcas chinesas de veículos comerciais.”

Victor Queiroz, ApexBrasil (Divulgação: Foton)

Além do reconhecimento industrial, programas brasileiros como o MOVER, voltados à inovação, descarbonização e veículos de nova energia, foram citados como totalmente alinhados à agenda global da Foton. A ApexBrasil reforçou ainda que continuará apoiando o desenvolvimento local da marca, especialmente nas frentes de eletrificação e manufatura inteligente. Para a matriz, o Brasil já faz parte do conjunto de países que receberão investimentos dentro do plano global de construção de mais de dez bases industriais nos próximos cinco anos.

No centro dessa evolução está a fábrica de Caxias do Sul (RS). Desde abril, os caminhões da Foton são montados no parque industrial da Agrale, mas a estrutura passará por uma ampliação significativa. A empresa planeja elevar a capacidade produtiva das atuais três a quatro unidades por dia para 14 caminhões diários até o fim de 2026 — o que permitiria um salto da produção anual para cerca de 3.640 veículos. Para 2025, a meta é alcançar sete unidades por dia.

O plano inclui duplicar a linha existente, criando duas frentes independentes: uma dedicada aos modelos leves e outra à linha média. “Hoje trabalhamos em uma única linha que atende todos os segmentos. Com a nova estrutura, conseguimos separar os processos, otimizar o fluxo e aumentar a eficiência”, explica Pontes.

Essa capacidade adicional é essencial para acomodar o crescimento do portfólio. A Foton oferece atualmente o semileve Aumark, o semipesado Auman, a picape híbrida Tunland e o caminhão elétrico iBlue, com capacidade de carga de até seis toneladas. Além disso, a Foton divulgou com exclusividade ao portal Transporte Moderno que lançará em breve a versão elétrica do Aumark, o e-Aumark (leia aqui). “A perspectiva é mais que dobrar o número de modelos comercializados no país em curto prazo”, afirma o executivo. “Hoje temos um portfólio muito mais robusto do que no início da operação direta.”

Logística tem papel fundamental

Além da produção, a logística é outro ponto central da estratégia de expansão da Foton para 2026. O Brasil já comercializa produtos da marca em países vizinhos, e a filial brasileira está se preparando para assumir um papel maior como hub de distribuição de peças e pós-vendas para toda a América Latina. Para isso, a empresa firmou uma parceria estratégica com a Cosco (China Ocean Shipping Company), uma das maiores operadoras marítimas do mundo. “Os picos sazonais do mercado internacional sempre foram um desafio.

Agora, com a Cosco, garantimos espaço nos navios e não sofreremos mais com a falta de disponibilidade”, explica Pontes. A Foton também avalia iniciar operações com navios do tipo Ro-Ro, o que aumentaria a previsibilidade e a eficiência no transporte de veículos e componentes entre China e Brasil.

Com ampliação industrial em curso, portfólio em expansão e logística reforçada, a Foton entra em 2026 com uma estratégia mais integrada e ambiciosa. O país, antes visto apenas como mercado, passa a ocupar posição estratégica como centro industrial e logístico para a América Latina. “O Brasil é estratégico em todos os sentidos — industrial, logístico e comercial”, resume Pontes. “Temos muito espaço para crescer, e 2026 será um ano de consolidação desse novo momento da Foton.”

* A jornalista viajou a convite da Foton.

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