A Amazon, a DHL Supply Chain e a Scania começaram em outubro um teste considerado inédito no Brasil: a operação de um caminhão extrapesado 100% elétrico em uma rota de longa distância. O Scania 30G 4×2, com capacidade técnica para 66 toneladas de PBTC, está percorrendo o trajeto entre Cajamar e Taubaté (SP), um dos principais corredores logísticos da Amazon. O piloto será conduzido por seis meses, com suporte da iniciativa Laneshift, parceria do The Climate Pledge e C40 Cities, dedicada à aceleração da eletrificação da carga.
O veículo é recarregado no centro de triagem CGH7 da Amazon, em Cajamar, e segue para a base da transportadora parceira To Do Green, levando cargas gerenciadas pela DHL Supply Chain. A rota foi anunciada oficialmente na COP30, como parte da Aliança Laneshift e-Dutra, que pretende criar um corredor elétrico na Rodovia Presidente Dutra, entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Durante o período de testes, o caminhão terá todo o percurso monitorado por telemetria para avaliação de consumo, eficiência energética e eventuais gargalos operacionais. “Queremos demonstrar que a eletrificação não está restrita à logística urbana. Ela é viável para cargas pesadas e longas distâncias”, afirma Saori Yano, chefe de sustentabilidade das operações da Amazon no Brasil.
O teste ocorre em um momento em que a Scania estrutura sua entrada definitiva no mercado de caminhões elétricos no Brasil. A montadora pretende seguir a mesma lógica adotada na introdução dos modelos a gás: avanço gradual, desenvolvimento em aplicações específicas, parcerias estratégicas e oferta de soluções completas.
A produção nacional dos caminhões elétricos começará em novembro de 2027, com ritmo inicial de uma unidade por dia. A adaptação da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) já está em curso. O desenvolvimento faz parte do ciclo de investimentos de R$ 2 bilhões previsto para 2024 a 2028 — sem detalhamento de quanto será destinado especificamente à eletrificação.
Para Alex Nucci, diretor de vendas de soluções da Scania Operações Comerciais Brasil, o avanço do portfólio elétrico é resultado de aprendizados acumulados com os veículos a gás e com os ônibus elétricos. “Nosso trabalho começa no entendimento profundo da operação do cliente e da infraestrutura necessária para viabilizar a adoção. Os elétricos seguirão esse caminho”, diz.
Segundo ele, a Scania pode repetir o papel que teve no gás natural, quando ajudou a estruturar o “Corredor Azul”. Em mobilidade elétrica, isso pode ocorrer futuramente com apoio à instalação de eletropostos em rotas estratégicas, embora os primeiros projetos estejam focados em operações previsíveis — entre fábricas, centros de distribuição e eixos logísticos como São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro.
A empresa já mantém conversas com distribuidoras de energia. Um dos desafios, segundo Nucci, é a limitação da infraestrutura existente. “Tem cliente com rota de 240 km, dentro da autonomia do caminhão. Mas a energia disponível comporta três ou quatro veículos, e ele quer operar com 20. A discussão passa a ser quem vai bancar o upgrade”, afirma.
Histórico e portfólio elétrico
Hoje, os caminhões elétricos da Scania chegam ao país via importação. O primeiro cavalo mecânico totalmente elétrico apresentado no Brasil foi o 30G 4×2, exibido na Fenatran 2024, com preço estimado de R$ 2,5 milhões, potência de 310 cv e autonomia entre 250 e 300 km. O modelo foi desenvolvido na Suécia e tornou o Brasil o primeiro país fora da Europa a recebê-lo.
Antes dele, a marca havia trazido o rígido P25 6×2, em operação com a PepsiCo, ainda sem grande volume comercial. A estratégia atual prioriza cavalos mecânicos, considerados mais versáteis e com motorização central, que já possui escala de produção maior no mercado europeu.
A expectativa é que, ao longo de 2025, outras versões — rígidas e semipesadas, em configurações de 4×2 a 6×4 — também passem a ser importadas.
Integração ao corredor elétrico da Dutra
O teste da Amazon, DHL e Scania integra o projeto Laneshift E-Dutra, que visa implementar o primeiro corredor de transporte de cargas totalmente elétrico do País. Em setembro, uma viagem-piloto entre Resende (RJ) e Sorocaba (SP), com um caminhão Volkswagen e-Delivery de 11 toneladas, percorreu cerca de 800 km e demonstrou a viabilidade operacional de um eixo logístico eletrificado.
O corredor prevê a instalação de estações de recarga rápida em pontos estratégicos, como paradas Graal e PIT em São José dos Campos, com carregadores de 120 kW. Os dados obtidos pelo teste com o Scania 30G serão incorporados ao estudo da aliança para subsidiar investimentos e políticas públicas.
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