Transporte Moderno – De que forma a concorrência com pneus asiáticos impactou o mercado brasileiro?
Marcos Aoki – Depois da pandemia, o transporte rodoviário se consolidou como um segmento essencial, o que gerou alta demanda e também desafios para a produção. Como houve escassez de produtos e paralisações de fábricas, o governo zerou temporariamente a taxa de importação, o que abriu as portas para pneus estrangeiros — de diferentes níveis de qualidade. Vieram bons produtos, mas também muitos que não oferecem recapabilidade adequada, o que gera descarte prematuro e mais resíduos no país.
Transporte Moderno – Hoje essa tarifa voltou a subir, mas ainda é suficiente para equilibrar a competição?
Marcos Aoki – Atualmente, a taxa de importação está em 16%. Nós, como fabricantes nacionais, acreditamos que a competição é bem-vinda, desde que seja justa. O problema é quando a diferença de custos e exigências entre os países é muito grande, o que distorce o mercado e coloca em risco toda a cadeia produtiva local.
Transporte Moderno – O preço ainda é o principal fator de decisão do caminhoneiro?
Marcos Aoki – Sim. O transportador autônomo e o pequeno frotista têm margens muito apertadas e, muitas vezes, escolhem pelo menor valor inicial. Só que o pneu não pode ser analisado apenas pelo preço, e sim pelo custo por quilômetro rodado. O produto Bridgestone, por exemplo, é projetado para ter mais de uma vida útil — podendo ser recapado uma, duas ou até três vezes nas recapadoras Bandag, com garantia da carcaça. Isso reduz o custo total no longo prazo.
Transporte Moderno – Os pneus asiáticos também evoluíram em qualidade?
Marcos Aoki – Sem dúvida. O mercado asiático vem melhorando a performance e a durabilidade dos produtos, e os caminhoneiros já perceberam isso. Hoje, há marcas boas e ruins — e o próprio consumidor aprendeu a identificar essas diferenças. Mesmo assim, quando o produto importado é de melhor qualidade, o preço se aproxima do nacional. Então, a escolha acaba recaindo sobre o valor agregado e o serviço oferecido.
Transporte Moderno – Como a Bridgestone tem estruturado seu portfólio para atender diferentes perfis de clientes?
Marcos Aoki – Nós trabalhamos com três marcas.
A Bridgestone, focada em alta performance, atende o segmento premium e os frotistas que buscam maior segurança e durabilidade.
A Firestone oferece um ótimo custo-benefício, mantendo boa performance com investimento menor.
E o Dayton, que é uma alternativa mais acessível, foi criado justamente para atender o público mais sensível ao preço, mas que ainda busca a confiabilidade de uma carcaça Bridgestone e a possibilidade de recapagem.
Transporte Moderno – Quantas vidas um pneu Bridgestone pode ter?
Marcos Aoki – Depende da aplicação e do cuidado na operação, mas esperamos que ele possa ser reformado pelo menos uma ou duas vezes. Nas nossas recapadoras Bandag, acompanhamos esse processo de perto — garantindo qualidade e segurança durante todo o ciclo de vida do produto.
Transporte Moderno – Essa questão da recapagem tem também um impacto ambiental, certo?
Marcos Aoki – Sim. A recapagem é uma das práticas mais sustentáveis do setor, porque reduz o descarte de pneus, economiza recursos naturais como petróleo e água, e estende a vida útil da carcaça. Quando um pneu é usado apenas uma vez e descartado, ele se torna lixo ambiental. Por isso, a reforma contribui diretamente para a economia circular e para a redução de resíduos.
Transporte Moderno – E no campo econômico, quais são as consequências da entrada massiva de produtos importados?
Marcos Aoki – Cada pneu nacional produzido aqui gera empregos diretos e indiretos. A Bridgestone tem mais de 4 mil funcionários e mais de 10 mil pessoas envolvidas em nossa rede de distribuição. Quando o consumidor opta por um produto importado, ele deixa de movimentar a cadeia local, o que pode significar menos empregos, menor renda e impacto negativo no consumo interno.
Transporte Moderno – Diante disso, o que poderia ser feito para equilibrar essa equação entre preço, qualidade e competitividade?
Marcos Aoki – É um desafio grande. A indústria trabalha para oferecer produtos adequados a cada perfil de cliente, e o governo precisa garantir regras equilibradas, que protejam a produção nacional sem eliminar a competição. Também é importante continuar o trabalho educativo com o transportador, mostrando o valor de investir em segurança e durabilidade — porque, no fim das contas, o barato pode sair caro.



