A Transporte Moderno foi convidada pela DHL, responsável pela logística do Fórmula 1 no mundo todo, para conhecer in loco a complexa logística que permite a realização das corridas de Fórmula 1 em todo o mundo.
A visita ao Autódromo de Interlagos (SP), apenas dias antes da realização do GP do Brasil, começou pela exclusiva área do F1 Paddock, localizado atrás dos boxes. Trata-se do espaço onde trabalham as equipes de corrida, imprensa, promotores, patrocinadores e equipes de gestão e staff da F1 e da FIA. A parceria entre a FIA e a DHL é uma das mais duradouras do esporte, com 21 anos de colaboração.
O Paddock também abriga a equipe de logística da DHL Motorsports — e todo o equipamento da F1 é literalmente “entregue” por eles. Em média, uma equipe de 50 especialistas multidisciplinares garante que toda a operação logística funcione de forma eficiente na preparação para cada corrida.
Quando o campeonato de 2025 acabar, a DHL terá realizado a entrega logística de 24 corridas em cinco continentes, maratona que começou com o Grande Prêmio da Austrália (14 a 16 de março) e terminará no Grande Prêmio de Abu Dhabi (5 a 7 de dezembro), incluindo três triple headers (três corridas consecutivas em fins de semana seguidos) e dois double headers.
Para se ter ideia do tamanho da operação, cada corrida movimenta cerca de 1.200 toneladas de carga e percorre em média 133 mil quilômetros de distância aérea, o que representa dez vezes o diâmetro da Terra. Nesse volume estão carros de competição, pneus, peças de reposição, combustível, equipamentos de transmissão e estruturas de hospitalidade.
Segundo Amauri Vitor, diretor de Operações Ground da DHL Express Brasil, o princípio que rege a Fórmula 1 é o mesmo que orienta as operações do grupo. “Trata-se de inovação, tecnologia, rapidez, precisão, contingências… Tudo isso são requerimentos da logística como um todo. As três frentes de atuação da DHL no Brasil — Express, Supply Chain, e a Global Forwarding — apoiam a Fórmula 1 e há uma combinação perfeita, porque temos no nosso dia a dia, essas mesmas exigências”. Segundo ele, a operação brasileira desempenha um papel importante dentro da nossa rede global, especialmente no modal terrestre, fundamental para eficiência e redução de emissões.
Um dos desafios do calendário da Fórmula 1 é orquestrar da forma mais racional possível o deslocamento de tantas pessoas e equipamentos no globo terrestre. Distâncias continentais, fusos horários, tempos de deslocamento por mar, por ar, por terra, tudo tem que ser equacionado de forma a que tudo esteja impecavelmente pronto.
Corrida contra o relógio
Os equipamentos e materiais chegam ao autódromo cerca de 14 dias antes do início da corrida. Dependendo do destino, o envio é escalonado e realizado por meio de transporte multimodal, que inclui transporte marítimo, aéreo e rodoviário. A montagem acontece de forma gradual nos dias que antecedem o fim de semana da corrida. Tudo é entregue e instalado até a noite de quarta-feira, deixando o circuito pronto para o início das atividades oficiais.
“Tudo o que está aqui, no autódromo, e que não é estrutural é trazido e montado sustentavelmente pela DHL. Equipamentos, produtos, combustível para a operação e para as equipes, o que equivale a aproximadamente 1500 litros por equipe, além dos carros das equipes que participam da Fórmula 1, e todo o tipo de produto que venham a precisar, até mesmo o catering é nossa operação”, diz o diretor de eventos da DHL Motorsports, Simon Price.
O calendário do campeonato não muda: são 14 dias antes da corrida para a montagem e sete dias depois da corrida para a desmontagem. No Brasil, a primeira carga a chegar é sempre marítima, seguida da aérea. “O único obstáculo que temos com o modal marítimo no Brasil é o acesso ao porto, que normalmente é congestionado. Temos um tempo muito justo para entrar e sair de Santos”, comenta.
Para diminuir os deslocamentos e garantir mais sustentabilidade a toda a operação, Price conta que o plano é tentar regionalizar a operação, dando prioridade para localidades que possam servir de hubs de serviços e armazenagem. “Assim não teremos tantas viagens, tantas pernas na operação. Da mesma forma, outra frente é treinar pessoas localmente para que não seja necessário no futuro deslocar equipes tão numerosas de um lado a outro do globo. A dificuldade é o pouco tempo que temos em cada localidade”, conta.
Diretor de operações da Sporting, F1, Christian Pollhammer diz que o GP do Brasil tem desafios muito específicos no que se refere à logística. “Em termos de complexidade, o GP do Brasil, realizado em São Paulo, está em um nível 8, considerando 1 a 10 em ordem crescente de dificuldades. Isso se deve ao fato de a área ser pequena, com poucas opções de armazenagem, de deslocamento para a carga, estarmos localizados muito próximos à metrópole. Obviamente, é uma das corridas mais tradicionais e importantes do nosso calendário e o país tem uma importância superlativa para as nossas operações”.
Complexidade ímpar
O que o GP do Brasil tem de diferente de outros países? “Estamos no meio de uma cidade, diferente de outras corridas. Isso traz um grau de complexidade extra para a operação, com os congestionamentos. Além disso, como dissemos, a área e estrutura do autódromo é pequena para a proporção do evento”, analisa Pollhammer.
Correndo contra o tempo, o Autódromo de Interlagos passa por uma série de obras de restruturação e modernização, com investimento de cerca de R$ 500 milhões bancados pela Prefeitura de São Paulo, para melhorias estruturais, como instalação de redes de esgoto e água, acessibilidade, iluminação e segurança, além de reformas em áreas utilizadas pelas equipes e pelo público. O investimento visa fomentar ainda mais o retorno direto e indireto que o GP oferece à cidade. Este ano, segundo previsões da prefeitura, o evento deve gerar mais de 20 mil empregos diretos e indiretos e movimentar R$ 2 bilhões na economia paulistana.
No pacote de reformas estão a requalificação da pista de arrancada, implantação de túneis para veículos pesados e contenção ambiental com muro de gabião junto à Área de Proteção Ambiental (APP).
Outra das obras em curso é a construção de dois túneis paralelos, com cerca de 360 metros de extensão e 5,20 metros de diâmetro para melhorar a circulação interna de veículos pesados, ligando o portão G à área do paddock e passando por baixo da reta oposta. A obra tem como objetivo otimizar o tráfego dentro do circuito, facilitar o acesso para grandes estruturas e garantir que o asfalto seja preservado.
Infelizmente na visão de Pollhammer, as ações ficaram aquém da necessidade. “Na verdade, a opção de deslocar cargas por túneis não nos ajudou muito porque não dá conta dos volumes. Mas nos auxiliou com a logística de catering entrando e saindo”.
Desafio da sustentabilidade
A logística da Fórmula 1 também é uma corrida pela sustentabilidade. Além dos prazos justíssimos para a logística de cada uma das corridas, a DHL assumiu o desafio de apoiar a Fórmula 1 em sua jornada para se tornar Carbon Net Zero até 2030, buscando novas maneiras de reduzir a pegada de carbono do esporte e seu impacto ambiental geral.
Entre as medidas adotadas estão investir no transporte multimodal, incluindo transporte terrestre, aéreo e marítimo; uso de aeronaves Boeing 777, que reduzem as emissões de carbono em cerca de 17% em comparação com aeronaves convencionais e, no caso das corridas realizadas no continente europeu, a utilização de um total de 51 caminhões movidos a biocombustível. A frota é abastecida com biocombustível HV100 (óleo vegetal hidrogenado, um tipo de combustível renovável de alta eficiência), que reduz em média 83% das emissões de carbono.
Outras frentes são equipar os caminhões com sistemas de GPS para monitorar o consumo de combustível e otimizar rotas e o emprego de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e resíduos orgânicos, que proporciona uma redução estimada de 80% nas emissões de carbono associadas por voo.
Quilômetros de fios
Para que todo o mundo esteja plugado na transmissão das corridas, a Fórmula 1 adotou um modelo de transmissão remota, o que significa que menos equipamentos precisam ser transportados para cada corrida.
Isso aconteceu durante a pandemia da Covid-19, quando a F1 reestruturou a sua infraestrutura de transmissão. A partir do Media & Technology Centre (M&TC), localizado no Reino Unido, a Fórmula 1 opera o maior sistema de produção remota intercontinental do mundo, utilizado em todos os fins de semana de corrida. É nesse centro que tudo converge para a criação do principal produto audiovisual: a transmissão internacional ao vivo.
Enquanto o M&TC funciona como o centro das operações de transmissão, o Event Technical Centre, instalado em cada circuito, conecta as imagens captadas na pista à base no Reino Unido, levando toda a emoção das corridas aos fãs ao redor do mundo — em uma estrutura logística entregue pela DHL. São mais de 28 câmeras UHD ao longo do circuito, três câmeras na mureta dos boxes, oito câmeras sem fio nos boxes, uma câmera suspensa por cabos e uma câmera aérea giroscopicamente estabilizada, além de quase 150 microfones de pista e cerca de 55 km de cabos instalados em cada circuito de F1.
Nos bastidores da velocidade, a logística da Fórmula 1 é uma corrida paralela — tão estratégica e precisa quanto aquela que se desenrola na pista.
Números da operação DHL x F1
· 24 corridas por temporada
· 5 continentes
· 1.200 toneladas por etapa
· 133 mil km de deslocamento aéreo
· 50 especialistas em logística por GP

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